Marco Damiani _ 247 – Numa eleição que já experimentou todo o tipo de reviravolta, o tempo de 15 dias que separa o Brasil das urnas de 26 de outubro é mais que suficiente para a provocação de mais uma virada. A rigor, o presidenciável tucano Aécio Neves superou a adversária Marina Silva, do PSB, nos quatro dias anteriores ao pleito de primeiro turno, em velocidade impressionante. Antes, assim que apresentou seu nome à disputa, a própria Marina foi catapultada para uma segunda posição que parecia lhe garantir a passagem para o segundo turno. No curso da disputa, a presidente Dilma Rousseff nunca havia experimentado o segundo lugar nas pesquisas e sempre teve a situação sob controle. Agora, porém, algo mudou.
O prazo é suficiente, a pergunta que se faz é a respeito das condições objetivas de provocar uma nova, e definitiva, mudança nos prognósticos. Seguida da divulgação maciça da delação premiada de viva voz do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, a pesquisa Sensus que informou uma vantagem de 17 pontos percentuais a favor do presidenciável Aécio Neves foi, como só se poderia esperar, um banho de água gelada nos ânimos do PT.
O partido mal teve tempo para assimilar as boas notícias dadas pelo Ibope e o Datafolha, que demarcaram, na quinta-feira 9, uma situação de empate técnico entre os adversários. Praticamente no mesmo momento, porém, todos os veículos das grandes famílias da mídia exploraram o vazamento do depoimento à Justiça Federal, em Curitiba, do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Medido pelo Sensus, o efeito das denúncias, mesmo sem provas, de que o PT recebera 3% sobre contratos superfaturados na Petrobras, parece ter se espraiado. É a única justificativa, salvo barbeiragem técnica, para explicar a abertura de vantagem, como nunca vista, de Aécio sobre Dilma.
FOCO NA DESCONSTRUÇÃO – Neste domingo 12, o PT pareceu mostrar que se recuperou do “golpe”, prosseguindo na linha de campanha de desconstruir o PSDB e seu candidato. Após cerrar baterias, por meio de seus comerciais na televisão, contra o ex-presidente do BC Armínio Fraga, o partido dirigido por Rui Falcão mirou o próprio Aécio. Passaram a ser veiculadas propagandas mostrando que o adversário perdeu para o PT na sua própria Minas Gerais – e em primeiro turno. “Quem conhece o Aécio, não vota no Aécio” é o slogan.
A própria presidente Dilma está empenhada nesta linha, acentuando em seus discursos os privilégios que o adversário teve em sua carreira na elite política. Lembrou, em tom de crítica, que Aécio foi diretor da Caixa Econômica Federal aos 25 anos de idade, enquanto na tevê frisa-se que o governo dele em Minas ostentou o 2º maior ICMS do País. As declarações do ex-presidente Fernando Henrique, segundo as quais os eleitores que escolhem o PT o fazem por falta de informação, igualmente foram exploradas por ela e, também, pelo ex-presidente Lula.
Ainda na tevê, os programas eleitorais que mostraram as obras do governo Dilma no setor de infraestrutura, como o que mostrou o estágio das obras da usina de Belo Monte e da transposição das águas do rio São Francisco, foram elogiados em pesquisas feitas pelo PT.
Após a assimilação do impacto das denúncias de Costa no eleitorado, o partido voltará a ter a chance de posicionar o debate eleitoral nos temas que considera mais adequados. O PT tem números bastante positivos para apresentar em termos de inclusão social, elevação de renda e geração de empregos.
AGENDA DA OPOSIÇÃO – O diabo é que, ao que parece, o eleitorado está escolhendo outra agenda para tratar neste segundo turno eleitoral. Com um amplo feixe de apoios debaixo do braço, Aécio também está conseguindo marcar seu nome como o do representante da “mudança” – colocando na palma da sua mão o mote das manifestações de massa de junho do ano passado.
O PT ainda não encontrou antídoto para esta vantagem estratégica. Assim como tem realizações para mostrar, o partido também sabe que sofreu um pesado desgaste nos 12 anos que está passando no poder. A partido nascido e criado para responder ao permanente anseio de crescimento e renovação do País pela maioria da população vai sendo taxado como o velho e o ultrapassado. A resposta a essa acusação não está se mostrando convincente.
Há um consenso no PT de que o partido fez a verdadeira transformação social, ao exercer o poder, que promete em seu programa. Nos próximos 15 dias, haverá cada vez mais ênfase, em todas as frentes de campanha, no que os governos do partido, com Lula e Dilma, conseguiram fazer. Pelas diferenças acumuladas com os tucanos, a ordem também é a de incrementar o discurso da desconstrução.
Como tudo, praticamente, nesta eleição, já mudou, o quadro atual pode mudar novamente. O tempo existe, mas as condições estão piorando para o partido da presidente. O flanco aberto pela delação premiada de Costa, com todos os artifícios de divulgação que vem sendo usados para amplifica-la, vai se mostrando maior, e mais deletério, do que a direção do partido avaliava. Os próximos dias serão cruciais para a direção entender até onde os estragos podem chegam – e o tamanho da tarefa para reduzir os danos criados.