Pode parecer excesso de cautela. Não é. O quadro sucessório para o Planalto continua absolutamente indefinido.
Senso comum desafiado
O “conventional wisdom” manda acreditar que pela 7ª vez seguida a disputa final ficará com PSDB e PT na ponta das preferências dos eleitores. O Drive avalia que essa é só uma possibilidade, mas não a única.
Alckmin desafiado…
A estampa do tucano não orna com o desejo de mudança dos eleitores. No debate da Band, na 5ª feira (9.ago.2018) à noite, Geraldo Alckmin apresentou-se como o candidato de sempre —tecnocrático e frio. Conseguiu combinar 3 siglas (CLT, FGTS e TLP) numa única frase. Seu desafio é convencer os brasileiros de que, se eleito, promoverá 1 governo diferente e vibrante. Não é fácil.
…em busca de 1 detalhe
Alckmin é equilibrado. Aparece calmo diante das câmeras. Tem a maior aliança partidária possível. Terá quase metade da propaganda eleitoral em rádio e TV. Só lhe falta 1 detalhe: o voto —parafraseando o técnico Parreira sobre o que é o gol no futebol.
Lula desafiado…
O PT e Lula optaram por uma estratégia incerta. Querem definir só nos últimos 20 dias de campanha quem será o candidato a presidente da legenda. Estão desafiando a boa vontade do eleitorado cativo de esquerda.
…fora dos debates
De hoje até 18 de setembro, pelo menos, o PT não terá ninguém nos debates eleitorais. Perde assim exposição preciosa nesse período. Na 5ª feira, o encontro alternativo dos petistas na internet —durante o debate na Band— teve audiência limitada.
Uma métrica são as visualizações do vídeo no YouTube. O encontro de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila tinha (até ontem à noite) 116.849 cliques. A íntegra do debate na Band contava com 2.833.913.
Pesquisas manietadas
Nesse período de incerteza para o PT também há dúvidas sobre se empresas de intenção de voto poderão testar o nome de Fernando Haddad como eventual substituto de Lula na disputa.
A prevalecer a interpretação reducionista de que a Lei Eleitoral proíbe tal pesquisa, a chapa Haddad-Manuela ficará também sem aparecer em levantamento de intenção de voto por muitas semanas.
Ciro e PT: o pulso ainda pulsa
Outros players continuam no páreo. O Poder360 sabe que há ainda 1 grupo (minoritário, é verdade, mas bem efusivo) no PT que defende o apoio a Ciro Gomes (PDT) na corrida presidencial quando Lula for inviabilizado em definitivo pela Justiça Eleitoral.
Marina e suas surpresas
Em 2010 Marina estava sem estrutura e acabaria na poeira das ruas. Teve perto de 20%.
Em 2014, Marina era vice de Eduardo Campos (1965-2014). Com a morte de Campos num acidente aéreo, ela ssumiu a candidatura. De novo, teve perto de 20%.
Em 2018, Marina de novo pouca estrutura com sua Rede. Fala em marinês sobre as “transversalidades” da administração pública. Todos dizem que ela já era. Eu prefiro ser mais prudente e esperar 1 pouco mais para saber o que vai se passar.
E Bolsonaro? Segue líder
Há meses ouve-se ou lê a seguinte frase nas análises políticas: “Jair Bolsonaro não tem estrutura e vai desidratar nas pesquisas”. Isso, de fato, pode acontecer. Mas até agora não se cumpriu essa profecia.
Bolsonaro tem a campanha com a menor estrutura que 1 líder teve nesta fase de uma disputa presidencial no Brasil –o candidato do PSL está na frente em cenários sem Lula.
Mais do que isso: há menos de 2 meses do 1º turno, lidera no Estado de São Paulo com 18,9% contra 15% de Alckmin.
A lógica manda acreditar que Bolsonaro não resistirá à Blitzkreig de setembro, quando será bombardeado por terra, água e ar. Mas quem pode ter certeza disso se tal cenário nunca existiu em eleições presidenciais anteriores?
Nessas horas, ao olhar eleições passadas para analisar a atual vale revistar o poema de Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), adorado por Roberto Campos (1917-2001) e usado em seu livro biográfico, o seminal “A lanterna na popa”:
“Mas a paixão cega nossos olhos,
e a luz que a experiência nos dá é a
de uma lanterna na popa que ilumina
apenas as ondas que deixamos para trás”.
E a economia?
A inflação recuou. Mas a Bolsa anda nervosa, anda de lado. Antes de uma definição de quem será o presidente nada vai acontecer.
A sensação é de estagnação. Nunca alguém que defende o status quo numa eleição para presidente tem vida fácil quando a economia vai mal.
Alckmin passará horas nos comerciais eleitorais tentando se distanciar de Michel Temer. É uma incógnita se conseguirá ter sucesso nessa empreitada.
Por fim, a onda conservadora
Há debate, mas ainda pouco resultado prático. Direito das mulheres, aborto legalizado. Mas os conservadores ainda parecem mais fortes do que os liberais —basta olhar o que se passou na Argentina nesta semana.
Quem prospera nesse cenário não é o centro nem os liberais de esquerda.
Tudo considerado, o cenário segue aberto. Está é a mais imprevisível eleição presidencial brasileira de todos os tempos.
Fonte: Poder360
Créditos: Fernando Rodrigues