As Olimpíadas de Tóquio vieram com um ano de atraso. A pandemia da Convid-19 comprometeu não apenas a agenda da produção material, da circulação de mercadorias, serviços e pessoas, mas os grandes eventos da indústria cultural e desportiva.
A rigor, essas Olimpíadas deveriam ter sido adiadas mais uma vez ou, até mesmo, canceladas definitivamente, devido ao surgimento de novas cepas do corona vírus altamente contagiantes, como a variante Delta, o atraso da vacinação no Japão e a quase impossibilidade de garantir medidas sanitárias de isolamento e distanciamento social num evento que move milhares de pessoas vindas de todo o mundo para uma mesma cidade durante um mês. Mesmo a ausência de público na maioria das competições não é garantia de nada, na medida em que o evento movimenta milhares de atletas, jornalistas, funcionários de empresas patrocinadoras e trabalhadores precarizados de todo o tipo, particularmente nas áreas de infraestrutura e serviços.
Por tudo isso, saudamos os movimentos sociais japonese que denunciaram o estapafúrdio atraso da vacinação num dos países mais ricos do mundo, bem como o avanço da contaminação durante o evento, sobretudo, entre os trabalhadores que se sacrificam nos bastidores para garantir o brilho desse megaevento desportivo.
A visibilidade dos LGBTQIA+ e a luta contra as opressões
No entanto, as Olimpíadas são um fato e estão sendo acompanhadas pelo mundo, na medida em que o evento mexe com o imaginário coletivo, ao promover o engajamento e participação de atletas do mundo inteiro, a celebração de competições emocionantes e a busca de superação dos limites do corpo humano.
O governo do Genocida, a rigor, sequer os tem usado como peça de propaganda. Salvo o uniforme da delegação brasileira na cerimônia de abertura, inspirado em cores e estampas militares, não conseguiu emplacar mais nenhuma outra manobra publicitária que associasse os atletas brasileiros à sua cruzada ideológica em busca de uma suposta hegemonia cultural.
No entanto, no Brasil tem ocorrido um fenômeno, no que diz respeito à promoção institucional do evento e da delegação brasileira, no mínimo, estranho. O governo do Genocida, a rigor, sequer os tem usado como peça de propaganda. Salvo o uniforme da delegação brasileira na cerimônia de abertura, inspirado em cores e estampas militares, não conseguiu emplacar mais nenhuma outra manobra publicitária que associasse os atletas brasileiros à sua cruzada ideológica em busca de uma suposta hegemonia cultural. As próprias redes sociais bolsonaristas têm dado pouca importância às conquistas de medalhas até aqui
Suspeitamos que isto faça todo o sentido, na medida em que as Olimpíadas de Tóquio estão marcadas pela luta e promoção da livre orientação sexual e de gênero. O fato dessas serem as Olimpíadas LGBTQIA+ por excelência representa uma trava nada desprezível para a cruzada cultural bolsonarista. Por esse simples motivo, as Olímpiadas de Tóquio não podem ser encaradas politicamente, no que diz respeito ao governo Bolsonaro, da mesma forma que a promoção recente da Copa América de Futebol no Brasil. São coisas completamente diferentes: a segunda foi um trunfo promocional nas mãos do presidente Genocida; por outro lado, a primeira representa um problema para a sua cruzada contra o chamado “marxismo cultural”.
Obviamente que há todo um interesse do Comitê Olímpico Internacional (COI) em abocanhar um imenso mercado de produtos voltados para o público LGBTQIA+ e, ao se posicionar contra o preconceito de orientação sexual e gênero, nada mais lhe interesse do que ser um dos depositários da promoção de um mercado em franca expansão. E, para isso, o COI conta com que inúmeros atletas LGBTQIA+ façam o papel de desavisados garotas, garotos e garotes-propaganda.
Essa visibilidade histórica da luta dos movimentos LGBTQIA+ deve ser saudada, mas sem ilusões nem fetichismos, na medida em que o próprio capital financeiro busca expropriá-la, corrompê-la e enquadrá-la nos marcos do capitalismo, esforçando-se em desvincular a luta democrática contra as opressões da luta contra exploração do trabalho pelo capital. Na esteira da visibilidade dos LGBTQIA+ nestas Olímpiadas, aprecem também com a devida importância a luta contra o racismo, a xenofobia, o machismo e, ainda que de maneira mais subliminar, a luta do trabalho contra o capital.
A própria flexibilização de manifestações políticas por parte do COI, ainda que com restrições de espaços e tipos de posicionamento, é um sintoma de que a proibição absoluta seria atropelada pelos atletas de diversas modalidades e países.
O constrangimento do bolsonarismo com as primeiras medalhas brasileiras
Por tudo isso, as primeiras conquistas de medalhas do Brasil vão na contramão das bases políticas e ideológicas da obsessão bolsonarista pela hegemonia cultural.
É preciso, sobretudo, destacar nestas conquistas de medalhas o protagonismo das mulheres, outra pedra no sapato do presidente Genocida e sua gangue machista e misógina. Rebeca Andrade, da Ginástica Artística, encantou o mundo e levantou aplausos empolgados até mesmo de Simone Biles, a mulher-maravilha negra da ginástica estadunidense.
A primeira e, até agora, única medalha de ouro do Brasil foi ganha por um jovem surfista nordestino, Ítalo Ferreira, natural de Baía Formosa (RN), filho de um pescador que começou a surfar em tampas de isopor. Ítalo é um exemplo tão categórico de tudo que o bolsonarismo odeia. Do alto dos seus 27 anos, voltando de Tóquio, antes de desembarcar em São Paulo com a medalha de ouro, pediu aos seus seguidores nas redes sociais e divulgou amplamente na imprensa que, devido à pandemia, não queria aglomeração no aeroporto para recebê-lo.
As demais medalhas conquistadas até 29 de julho, quando fechávamos esse artigo, foram: 02 pratas no Skate Street, com Kelvin Hoefler, no masculino, e Rayssa Leal, no feminino; 01 prata na Ginástica Artística feminina, com Receba Andrade; 02 bronzes no Judô, com Daniel Cargnin, no masculino, e Mayra Aguiar, no feminino; 01 bronze na natação masculina, com Fernando Scheffer; totalizando 07 medalhas.
O momento mais emocionante foi no solo, quando executou seu exercício ao som do funk “Baile de Favela”. Rebeca, uma jovem negra e periférica, filha de mãe solo, emocionou o mundo e recebeu cumprimentos pela medalha de prata de ninguém mais que Nadia Comaneci, a romena considerada por muitos a maior ginasta de todos os tempos. Mas isso não é tudo, Rebeca disputará ainda duas medalhas no salto e no solo.
Por fim, não poderíamos deixar de mencionar Rayssa Leal, uma nordestininha de 13 anos, natural de Imperatriz (MA), que ganhou a prata no Skate Street feminino e Mayra Aguiar, única judoca brasileira, tanto no feminino quanto no masculino, a ganhar três medalhas de bronze em três olimpíadas consecutivas.
Essas primeiras e marcantes conquistas de medalhas do Brasil em Tóquio devem ser saudadas, particularmente por todos aqueles que lutam contra o governo do presidente Genocida, como uma trincheira para combater a cruzada bolsonarista pela hegemonia cultural no esporte brasileiro. Somos todos Rebeca, Rayssa, Mayra, Ítalo, Daniel, Kelvin e Fernando! Viva o esporte brasileiro! Fora Bolsonaro!
*Militante da Resistência/PSOL
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Polêmica Paraíba
Fonte: Esquerda Online
Créditos: Esquerda Online