Publicado originalmente em Folha de São Paulo
A partida de xadrez entre os defensores de corruptos e os que lutam contra a corrupção está movimentada. No CNMP, por 10 a 0, foi declarada prescrita e arquivada a ação do ex-presidente Lula contra Deltan Dallagnol no caso do PowerPoint. Lula zangou-se e disse em nota que a decisão pelo arquivamento desmoralizava a Justiça. O ex-presidente é o “rei”, peça principal em função da qual os estrategistas da impunidade movem as peças menores.
Sendo assim, um lance importante foi a anulação, pela segunda turma do STF, num empate de 2 a 2, da sentença de Sergio Moro que condenou um doleiro em antigo caso de corrupção no Banestado. O grande mestre Gilmar Mendes conduziu esse lance sob a alegação de que Moro havia sido parcial, prenunciando o próximo xeque contra a Lava Jato quando o mesmo for feito no caso de Lula.
Jogadas urdidas com ilações e mentiras para desmoralizar a Lava Jato e seus membros mais destacados é estratégia permanente de seus declarados inimigos. Em 2019, o circo montado pelo site The Intercept cumpriu bem esse serviço. Em 2020, porém, com a saída de Moro do governo, deu-se algo inusitado: a direita bolsonarista fortaleceu os poderosos enxadristas aceitando, inclusive, unir-se no tabuleiro com a esquerda petista, o centrão e o grupo Prerrogativas, no interesse da impunidade.
Paralelamente à atuação de Aras contra a Lava Jato, sobrevieram outros lances: a AGU recorreu da suspensão dos processos contra Deltan, Toffoli suspendeu duas investigações contra José Serra e Gilmar Mendes suspendeu a ação penal contra ele.
A Lava Jato está acuada, mas quer avançar. A eficiente força-tarefa, gigante no combate à corrupção, ainda tem 400 inquéritos em andamento e quer continuar seus trabalhos. Para tanto, enviou ofício à PGR requerendo prorrogação por mais um ano. A recusa poderá levar a partida a xeque-mate. Se for esse o caso, é o Brasil que sairá derrotado.
Fonte: Folha
Créditos: Catarinarochamonte