Sem poder admitir jamais, grande parte da oposição ao governo Bolsonaro, e até uma fatia do PT, quer ver Lula preso de novo depois que ele sair da cadeia. A nova prisão seria vê-lo disposto ou conformado desde já com a ideia de que deve se considerar impedido de disputar a eleição presidencial de 2022. Pelo bem do país.
Se não necessariamente pelo bem, para que sua pretensão de voltar à presidência da República não acabe por favorecer a reeleição de Jair Bolsonaro. É o que todos temem. Ninguém sabe quem sairá da cadeia se o Supremo Tribunal acabar com a prisão em segunda instância e depois aceitar o pedido de suspeição do ex-juiz Moro e anular a condenação de Lula.
Devolvido à liberdade só porque o Supremo subtraiu à segunda instância o direito de prender, Lula continuará ficha suja. Poderá fazer política, mas não candidatar-se a coisa alguma. A suspeição de Moro está sendo votada pelos cinco ministros da segunda turma do tribunal. O julgamento foi suspenso quando o placar era de 2 x 2. Falta votar o ministro Celso de Mello.
Daqui a um ano, ao completar 75 anos de idade, Celso de Mello vestirá o pijama. Seu voto no caso do pedido de suspeição de Moro pode ser o marco de sua passagem pelo tribunal. O futuro imediato da política brasileira será fortemente impactado pelo que o decano do Supremo decidir. Lula livre dará lugar a Lula livre e possível candidato. Ou a Lula livre, mas fora das urnas.
Por tudo o que tem feito dentro da cadeia e por tudo que tem dito, é improvável que o preso mais famoso do mundo se reapresente ao distinto público como o Lulinha paz e amor. Lula é um homem ferido. Sente-se injustiçado. Tem contas a acertar com seus algozes. E está longe de lembrar Nelson Mandela, que pacificou a África do Sul depois de décadas de prisão.
A jararaca está adormecida dentro de Lula. Com veneno suficiente para produzir danos severos nos adversários. E, uma vez livre, ela encontrará um ambiente externo para lá de envenenado. Ninguém mais do que Bolsonaro torce para que a jararaca manifeste toda a sua fúria. Ninguém mais do que ele a provocará à espera de dar o bote final. Esse será o maior desafio de Lula livre.
Fonte: VEJA
Créditos: Ricardo Nobalt