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O destino de Bolsonaro em duas versões (escolha a que prefere) - Por Ricardo Noblat

Ninguém diz a um mandatário o que ele não quer ouvir. E se disser, arrisca-se a ser banido de suas redondezas. Poucos sobrevivem à prova de contrariá-lo. Foi sempre assim, desde que o homem é homem, e no passado pior, porque resultava em morte.

Ninguém diz a um mandatário o que ele não quer ouvir. E se disser, arrisca-se a ser banido de suas redondezas. Poucos sobrevivem à prova de contrariá-lo. Foi sempre assim, desde que o homem é homem, e no passado pior, porque resultava em morte.

No caso de Bolsonaro, os que o cercam mais de perto sabem que morte significa exclusão imediata do seu convívio e, no limite que ele, se necessário, ultrapassa sem pestanejar, demissão. Dizem que ele chorou ao demitir o ministro das Minas e Energia.

Bolsonaro é bom de choro quando quer. É um ator com razoável talento. Ensinaram-lhe um dia que lágrimas comovem e que o sorriso torna qualquer pessoa mais simpática. Para não banalizar o gesto, ele não chora sempre, mas sorri com ou sem motivo.

Nos quartéis, aprendeu que a autoridade também se impõe à base de gritos e de duras reprimendas nos subalternos. É o que faz com frequência, e por isso o temem. Engolir desacato em público é humilhante. O ex-juiz Sergio Moro saiu porque foi desacatado.

O general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria do Governo, prefere humilhar-se a ser humilhado pelo ex-capitão afastado do Exército por má conduta. Por duas vezes, pelo menos, para fazer graça ou agradar a Bolsonaro, já se ajoelhou diante dele.

Os mais diretamente envolvidos com a campanha para reeleger Bolsonaro dão de barato que ele conhece as dificuldades que enfrenta e sentem-se dispensados de alertá-los para erros que tem cometido. Quando o fazem são excessivamente cuidadosos.

Sem um candidato da terceira via nem Bolsonaro nem Lula, eles trabalham com a hipótese de que a eleição será decidida no primeiro turno. Porém, se pensam que Lula é o favorito, dizem a Bolsonaro que o favorito é ele e vão para o abraço.

A não ser que cometa erros crassos, Lula deverá chegar às vésperas das eleições na condição de favorito. Essa é a opinião que diretores dos mais afamados institutos de pesquisas só externam mediante a condição de suas identidades não serem reveladas. Precaução.

Na cadeia em 2018, Lula liderou todas as pesquisas até o início de setembro. Faltando menos de um mês para as eleições, anunciou que Haddad seria seu candidato – e o pôs no segundo turno. Quem duvida que seu desempenho não seja melhor agora?

E tem Ciro Gomes (PDT). Ciro não admite sair do páreo mesmo que se convença de que irá perder, mas seus eleitores poderão abandoná-lo antes do fim para não desperdiçar o voto. A maioria dos eleitores de Ciro votaria em Lula sem pestanejar.

“Não me surpreenderá se, na reta final, houver um voto útil do eleitor de Ciro em Lula”, afirma o sociólogo Felipe Nunes, diretor da Quaest, instituto de pesquisas. E completa: “Lula e Bolsonaro são grandes demais para que surja a terceira via”.

Ciro acha que, se renunciasse a ser candidato desde já, o maior beneficiado seria Bolsonaro. Segundo ele, Lula bateu no teto, e Bolsonaro sobe lenta, mas consistentemente. Acredita nas suas próprias chances de crescer até agosto. E vai em frente.

Se o quadro atual permanecer mais ou menos igual, e se Ciro não escalar nas pesquisas, dependerá dele e dos seus eleitores uma solução mais rápida para despachar Bolsonaro.

Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba