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O 'Boy' de Mogi das Cruzes que apoiou Lula e vai acolher Bolsonaro no PL - Por Willian Helal

O plenário da Câmara dos Deputados estava vazio quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, subiu na tribuna para renunciar ao seu mandato de parlamentar. Na tarde daquela segunda-feira, 2 de agosto de 2005, o paulista de Mogi das Cruzes se tornou o primeiro congressista acusado de envolvimento com o mensalão a perder o cargo, dois meses após as denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ). No seu discurso, o político admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois do PT para pagar dívidas de campanha. Mas disse que foi "induzido ao erro" e garantiu que os recursos não eram destinados ao hoje conhecido esquema de compra de apoio parlamentar para projetos do governo.

O plenário da Câmara dos Deputados estava vazio quando o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, subiu na tribuna para renunciar ao seu mandato de parlamentar. Na tarde daquela segunda-feira, 2 de agosto de 2005, o paulista de Mogi das Cruzes se tornou o primeiro congressista acusado de envolvimento com o mensalão a perder o cargo, dois meses após as denúncias de Roberto Jefferson (PTB-RJ). No seu discurso, o político admitiu ter recebido dinheiro de caixa dois do PT para pagar dívidas de campanha. Mas disse que foi “induzido ao erro” e garantiu que os recursos não eram destinados ao hoje conhecido esquema de compra de apoio parlamentar para projetos do governo.

Com a renúncia, Valdemar fugiu da cassação do mandato pelo Conselho de Ética da Câmara e manteve seus direitos políticos. Foi reeleito em 2006 e em 2010, mas acabou condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no mensalão e teve sua prisão decretada pelo STF em 5 de dezembro de 2013. No mesmo dia, pediu ao deputado e correligionário Luciano Castro para ler no plenário sua carta renunciando pela segunda vez em oito anos. Reconheceu as suas “faltas”, mas continuou negando os crimes. “Certo de que pagarei pelas faltas que já reconheci, reitero que fui condenado por crimes que não cometi”.

O presidente de um dos principais partidos do chamado Centrão, na Câmara, começou a vida de político profissional aos 28 anos. Formado em Administração de Empresas, o “Boy”, como era conhecido em Mogi das Cruzes, foi chefe de gabinete de seu pai, Valdemar Costa Filho, então prefeito da cidade. Filiado à Arena, partido que dava sustentação política à ditadura militar, Costa Filho era amigo fiel de Paulo Maluf e chegou a ser seu secretário de Abastecimento na Prefeitura de São Paulo, entre 1993 e 1996.

Antes de completar 30 anos de idade, o “Boy” já havia sido promovido a secretário de Obras, Viação e Serviços Urbanos, cargo que ocupou de 1977 a 1980. Com o fim do bipartidarismo e ao término do mandato do pai, ele migrou para ao PDS, destino da maioria dos membros da Arena, e virou diretor-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Mogi. Mais tarde, assumiu a diretoria-administrativa da Companhia Docas de São Paulo, onde permaneceu até 1990, quando se elegeu deputado federal pela primeira vez, já filiado ao PL.

Foi membro de comissões na Câmara e, em 1992, votou a favor do processo de impeachment contra o então presidente, Fernando Collor. Mas ganhou projeção maior no carnaval de 1994, quando levou a modelo Lilian Ramos para conhecer o então presidente da República, Itamar Franco, no Sambódromo do Rio.

Recém-saída do desfile da escola de samba Viradouro, Lilian foi até o camarote onde estavam alguns caciques do PL. Entre eles, o “Boy” de Mogi das Cruzes, que já conhecia a modelo. De lá, Valdemar levou Lilian ao camarote de Itamar, onde ela foi  fotografada só de camisa e sem calcinha ao lado do chefe do Executivo, com quem havia trocado olhares a distância durante o desfile. A imagem gerou controvérsia, e a oposição chegou a acusar quebra de decoro e pedir o impeachment de Itamar, que assumira o Planalto após o afastamento de Collor. Mas o mineiro se safou. Já Valdemar garantiu à imprensa que Lilian não imaginava a polêmica que causaria e que ele não tinha a menor ideia de que ela estava sem calcinha.

Aliado de Itamar, o político já havia conquistado uma posição de liderança no PL quando, em meados dos anos 90, fez dura oposição à gestão de Fernando Henrique Cardoso. Nas discussões sobre o projeto de emenda constitucional (PEC) que garantiu a possibilidade de um presidente se candidatar à reeleição, Valdemar propôs reservar esse direito apenas aos políticos empossados após a promulgação da lei, o que impediria o tucano de se beneficiar. A proposta não foi aceita, e o deputado votou contra a PEC, mas sua posição foi vencida no plenário.

Valdemar foi um dos artífices da aliança vencedora entre Lula (PT) e o empresário têxtil José Alencar (PL) nas eleições de 2002, e, uma vez na mesa do poder, indicou Anderson Adauto para comandar o Ministério dos Transportes. Tudo corria bem para o filho pródigo de Mogi das Cruzes até que, no terceiro ano da gestão Lula, o então deputado federal Roberto Jefferson explanou o esquema de compra de votos parlamentares da base do governo, o mensalão, e acusou Costa Neto de envolvimento direto. Entrou para a história o depoimento de Jefferson no Conselho de Ética da Câmara, em junho de 2005, quando, desafiado por Valdemar, o petebista disparou: “Afirmo que vossa excelência recebe e repassa”.

Também ganhou destaque na crônica política o depoimento de uma ex-mulher de Valdemar no Conselho de Ética, em julho daquele ano. O então deputado já havia se divorciado e tinha quatro filhos quando conheceu a socialite Maria Christina Mendes Caldeira, filha de uma família tradicional de São Paulo. Os dois se casaram num hotel e cassino em Las Vegas, no reveillon de 2003 para 2004. Coisa de casal apaixonado. Mas a relação terminou com briga, meses depois. Segundo uma reportagem do GLOBO de 21 de julho de 2004, eles haviam se separado, e Valdemar estava tentando despejar a ex-mulher da mansão no Lago Sul de Brasília cujo aluguel era bancado pelo PL. O partido mandou até desligar a energia da casa, mas Maria Christina obteve um mandado de segurança para reativar o abastecimento.

No Conselho de Ética, a socialite disse ter assistido a conversas que comprovariam o mensalão. Contou, sem apresentar provas, que o ex-marido costumava mandar o tesoureiro do PL a Belo Horizonte para buscar “várias malas”, que ele tinha um “cofrão” cheio de dólares e que já perdera até US$ 500 mil num cassino em Punta del Este, no Uruguai. Quando perguntada sobre como Valdemar teria pago essa fortuna, Maria Christina apenas disse: “Não sei, pergunte a ele”. A paulistana também disse que o presidente do PL havia ficado próximo de Delúbio Soares, o tesoureiro expulso do PT após o escândalo do mensalão, pelo qual foi condenado e preso.

O depoimento serviu mais à crônica do que ao processo. Valdemar foi condenado pelo STF a 7 anos e 10 meses de prisão no regime semi-aberto e, em dezembro de 2013, renunciou de novo ao mandato parlamentar para evitar a cassação. Desta vez, porém, ele não evitou a perda dos direitos políticos, já que a condenação transitara em julgado. Desde então, Valdemar esteve fora da Câmara, mas manteve o controle do Partido Liberal e, por consequência, a sua relevância na cena política. Enquanto esteve preso no Centro de Progressão Penitenciária (CPP), ele trabalhou na área administrativa de um restaurante industrial na periferia de Brasília. Até que, em maio de 2016, recebeu do STF o perdão de sua pena e foi solto.

Em 2013, Valdemar também foi alvo de uma investigação determinada pelo STF a pedido da Procuradoria-Geral da República, que viu indícios de participação do parlamentar em crimes apurados pela Operação Porto Seguro. Deflagrada pela Polícia Federal, a operação revelou um esquema de vendas de pareceres técnicos do governo a empresas privadas, com a participação de agências reguladoras.

Já em 2015, o nome do político de Mogi das Cruzes voltaria ao noticiário sobre a corrupção na política quando o empresário Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, investigado pela Operação Lava-Jato, contou à polícia que Valdemar Costa Neto recebeu R$ 200 mil “por fora” e R$ 300 mil em doações oficiais. Tudo para manter as portas abertas com o seu partido, que dominava o Ministério dos Transportes durante o governo Lula. Em 2020, o presidente do PL se tornou réu por peculato, corrupção passiva e fraude a licitação, acusado de participar de um esquema de superfaturamento nas obras do trecho da Ferrovia Norte-Sul (FNS).

Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba