crime

Nordeste é principal alvo de ataques xenofóbicos; 348 denúncias são registradas um dia após as eleições

Segundo matéria divulgada pelo UOL, na última segunda-feira (03), a Central da Organização não-governamental de proteção dos Direitos Humanos Safernet Brasil registrou cerca de 348 registros de ataques xenofóbicos um dia após o primeiro turno das eleições 2022.

Segundo matéria divulgada pelo UOL, na última segunda-feira (03), a Central da Organização não-governamental de proteção dos Direitos Humanos Safernet Brasil registrou cerca de 348 registros de ataques xenofóbicos um dia após o primeiro turno das eleições 2022.

O Nordeste mais uma vez foi o maior alvo dos ataques, após Lula sair na frente no resultado das eleições, seguido por Jair Bolsonaro. Nas redes sociais, eleitores de Bolsonaro criticavam a vitória de Lula na região associando o Nordeste à pobreza, e algumas postagens no Twitter desejavam a fome aos eleitores de Lula.

Alguns famosos como ex- BBBs Gil do Vigor e Juliette e o humorista Whindersson Nunes (pernambucano, paraibana e piauiense, respectivamente) criticaram os comentários xenofóbicos. “Uma coisa que não se pode tolerar é a xenofobia (…) Estou vendo uma galera sendo xenofóbica com o pessoal do Nordeste, o meu Nordeste, e que defendo sim. O nosso Nordeste precisa de respeito”, disse Gil.

O Ecoa fez esse guia para que você entenda um pouco mais o que está acontecendo, entenda o que é a Xenofobia.

O que é xenofobia?

“Xenofobia é o medo ou rejeição ao estrangeiro, embora esteja sendo comumente usado para falar de toda forma de preconceito em relação a lugar de nascimento”, explica Durval Muniz de Albuquerque Júnior, professor do departamento de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e autor do livro ‘A invenção do Nordeste e outras artes’.

Qual a origem do preconceito contra nordestinos?

O preconceito regional contra o Nordeste tem origem nas migrações internas que aconteceram no Brasil particularmente a partir da segunda metade do século 20 devido a um processo imigratório muito intenso. Muitos migrantes nordestinos, oriundos do trabalho rural, vieram para o Sudeste para trabalhar nas indústrias, no setor de serviços, na construção civil e no trabalho doméstico, no caso das mulheres.

“Essa articulação entre imigrantes nordestinos e o trabalho braçal me parece um dado chave para entender essa questão do preconceito e da xenofobia”, explica Paulo Fontes, professor do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autor do livro ‘Um Nordeste em São Paulo’.

Há outra dimensão, segundo Muniz e Fontes, que explica esse preconceito: a racialização dos migrantes. “Muitas pessoas do Sul têm identidade europeia e por serem brancas têm um enorme preconceito em relação aos próprios brasileiros”, comenta Durval Muniz.

Por que, para algumas pessoas, isso é aceitável?

Esse preconceito regional contra o Nordeste não é novidade. Mas, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem, há certos fatores que fazem com que o preconceito regional, principalmente em relação ao Nordeste, seja mais “aceitável” socialmente do que outras formas de discriminação.

Segundo Muniz e Ferreira, o fato de boa parte dos órgãos de mídia estarem localizados nas regiões Sul e Sudeste faz com que o sotaque dessas regiões, por exemplo, seja visto como “normal” enquanto o de outras regiões passa a ser o “diferente”. Isso também pode ser visto em outros aspectos culturais. O que é do Sul e Sudeste é “normal” e o que vem de outras regiões é o “exótico”.

“As pessoas não conseguem identificar a xenofobia porque o padrão está tão enraizado na sociedade que as pessoas percebem como uma regra”, diz Juliana Ferreira.

Fonte: Polêmica Paraíba com UOL
Créditos: Polêmica Paraíba