O senador Flávio Bolsonaro, coordenador do comitê de campanha à reeleição do presidente, colocou em dúvida a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, em um eventual segundo mandato de seu pai. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar reconheceu que o papel exercido pelo chefe da equipe econômica é “cansativo”, mas que só depende de Guedes “continuar dando a sua contribuição” ao governo.
O senador elogiou “as orientações” de Guedes na política econômica, mas deixou claro que há um cardápio eleitoral que o ministro precisará seguir:
– Ele (Guedes) tem o senso de responsabilidade de buscar o meio-termo para que a política econômica não degringole o Brasil de vez, a médio e longo prazo, mas sabe da importância, em ano eleitoral, de ter um remédio mais amargo para segurar a inflação, reduzir o preço do dólar e gerar mais emprego. Eu não sei se ele seguiria no cargo em um segundo governo. Depende da disposição dele, que é cansativo. Você vê que o presidente Bolsonaro envelheceu muito, o Paulo Guedes também. É muito desgastante. Se ele quiser continuar dando sua contribuição, o presidente Bolsonaro vai indiscutivelmente topar na hora, mas não sabemos os planos pessoais dele.
Em conversas reservadas, Paulo Guedes já disse que, em caso de vitória de Bolsonaro em 2022, ele não descarta deixar o governo ou mesmo migrar de pasta.
Nos últimos meses, o presidente e o ministro da Economia têm trilhado caminhos opostos ao traçado nas eleições em 2018, quando a agenda liberal era uma bandeira prioritária de Bolsonaro. Um exemplo desse distanciamento ocorreu nos últimos dias. Sob a bênção do presidente e com o apoio de Flávio, a Casa Civil articulou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que, se aprovada, pode gerar um impacto de R$ 100 bilhões aos cofres públicos. A medida, apelidada pela equipe de Guedes de ‘PEC Kamikaze’, prevê a concessão de um auxílio a caminhoneiro na compra de diesel e a redução de impostos nos combustíveis.
Questionado sobre por que assinou a PEC Kamikaze que contariava a orientação de Guedes, Flávio disse que apenas seguiu a orientação da liderança do governo na Casa. Disse ainda que há um consenso para uma redução do preço do combustível o mais breve possível:
– Eu estava em Belo Horizonte, e quando eu saio eu vi a notícia que eu tinha assinado a PEC. No Senado, a assessoria faz tudo eletrônico. Não tinha conseguido me consultar na hora e como havia a orientação da liderança do governo de que seria favorável à PEC eles fizeram a assinatura digital. Então, a responsabilidade é minha. A PEC tem coisas positivas e negativas.
– Em função dessa PEC acendeu um alerta no governo para acelerar quais as propostas do governo para reduzir o preço do combustível, atender toda a cadeia produtiva, caminhoneiros, o pessoal que usa transporte coletivo, quem tem carro etc. O importante é que todos estão imbuídos de reduzir o preço de combustível que está muito alto – completou.
Em entrevista ao GLOBO, duas semanas atrás, o chefe da Casa Civil disse que passou a ser “para-raio do Posto Ipiranga”, ao justificar a nova atribuição. De acordo com Ciro, a mudança se deu para preservar Guedes, apelidado de “Posto Ipiranga” por Bolsonaro, em referência à propaganda de uma rede de posto de combustível onde o cliente podia sanar qualquer dúvida.
– Essa situação foi criada em comum acordo com o ministro Paulo Guedes. Achamos que era muito melhor tanto para ele quanto para a Casa Civil. Levamos esse pleito ao presidente. O que acontece é que o Paulo Guedes sempre ficava encarregado de dar o “não” para alguns pleitos dos ministérios. Além de amortecedor, agora eu sou um para-raio do Posto Ipiranga. Divido com Guedes a responsabilidade de dizer o “não” e o “sim” – afirmou Ciro na ocasião.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba