A gerente de marketing Bárbara Régis, 34, conta que ficou com marcas de queimaduras na perna esquerda após uma sessão de depilação a laser, em setembro. A empresa diz que a sensibilização da pele ao laser pode ocorrer e os casos são reversíveis.
Comentei [com a profissional] mais uma vez que estava doendo e ardendo. O cheiro de queimado é normal, mas estava muito mais forte e intenso do que das últimas vezes. Fiquei preocupada.
Pedi para ela parar porque passou pela minha cabeça que minha pele estava sendo queimada de verdade.
Fui olhar para ver como estava e levei um susto. As marcas do laser, umas bolinhas, ficaram nítidas na minha perna. Era uma queimadura.
Como aconteceu
Não era a primeira vez que Bárbara fazia uma sessão de depilação na Espaçolaser. Ela vive em Londres há quase dois anos e, quando vem a São Paulo, aproveita para fazer o “dia da beleza”. Bárbara diz ser acostumada ao procedimento e segue a orientação de ficar 30 dias sem tomar sol antes da depilação.
Ela comentou com a profissional que estava doendo mais do que o normal. “Estou acostumada com os ‘choques’ do laser e até perguntei se ela tinha aumentado a frequência.”
A profissional seguiu com o procedimento, mesmo após as reclamações, segundo Bárbara. “Ela disse que aquilo era normal, que eu estava com mais pelos e que minha pele estava sensível.”
Bárbara deixou a sessão e reparou que a perna esquerda estava vermelha, mas sem marca. A profissional sugeriu que ela passasse um creme e esperasse passar.
Quando chegou a um salão de beleza para outros procedimentos, sentiu um incômodo na perna e levantou a calça. A gerente de marketing disse que “bateu um desespero, taquicardia” com a situação.
As pessoas no salão ficaram horrorizadas. Perguntaram se aquilo tinha sido uma ‘tortura’. Foi muito chocante visualmente. Parecia que alguém tinha passado um acendedor de cigarro, daqueles antigos que tinham no carro, na minha perna.
Uma conhecida dela, que é dermatologista, prescreveu uma pomada para amenizar as dores e o efeito do laser na pele. Segundo conta, a gerente da Espaçolaser pediu que Bárbara voltasse ao estabelecimento depois que o marido dela foi até o local para mostrar, em fotos, como ficaram as queimaduras na perna da esposa.
Bárbara contou que a gerente sugeriu o contato de uma dermatologista e concordou em pagar os custos da queimadura. Ela disse ainda que a Espaçolaser a procurou depois para um acordo, mas o valor não pagaria nem um terço do que ela gastou tentando melhorar a aparência da perna. “Ofereceram cerca de R$ 4 mil, mas, ao todo, gastei por volta de R$ 12 mil e R$ 13 mil.” Bárbara entrou com ação na Justiça contra a empresa.
Bárbara está em tratamento com dermatologista. A maioria dos médicos que ela contatou disse que teria chances de as marcas sumirem ao longo do tratamento.
Assim que aconteceu, minha perna ficou vermelha, depois os machucados escureceram, formou a casquinha e, depois de quase um mês, a pele ficou clara e esbranquiçada.
Quando vou à academia, tenho vergonha de usar shorts porque as pessoas ficam olhando. É muito desconfortável. Além do dano estético, ainda preciso lidar com essa parte emocional.
O que diz a empresa
A Espaçolaser disse que, em alguns casos, pode ocorrer sensibilização da pele à exposição do laser, que é “relativa de cliente para cliente”, mas que isso não quer dizer que esteja ocorrendo uma lesão.
Informou ainda que a preparação para a sessão é fundamental para um bom resultado. “Em áreas muito expostas como a região da perna, por exemplo, é preciso cuidado, pois uma breve exposição ao sol pode pigmentar a pele dependendo do seu fototipo, por isso o ideal é proteger a região que será depilada e não se expor ao sol de forma alguma.”
A Espaçolaser disse que fornece todas as informações no contrato dado ao cliente. O documento afirma que “como qualquer outro procedimento, podem ocorrer intercorrências”. A empresa falou ainda que a sessão só é realizada com consentimento do cliente e assinatura do contrato. E disse que dá assistência e faz o encaminhamento a dermatologistas, a depender do caso.
Todos os casos são reversíveis com recuperação total da pele afetada.Espaçolaser, em nota
Empresa afirma que “ofereceu todo apoio e suporte” a Bárbara. Segundo a Espaçolaser, ela “preferiu não seguir com os médicos da empresa, como também não apresentou notas fiscais e/ou recibos para comprovar a despesa médica para reembolso.” A Espaçolaser diz que a equipe jurídica está em contato com advogados da cliente.
Disse ainda que segue “rígidos protocolos de segurança” para aplicação do laser e atua conforme o requerimento de qualificação técnica do Crefito (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional).
Os riscos
Procedimento elimina pelos do corpo por meio da emissão de raio laser (feixes de luz). O mecanismo é atingir o pigmento do pelo (melanina), que absorve a luz, fazendo-a percorrer por toda a sua extensão, até chegar ao folículo piloso onde ocorrerá a cauterização de sua raiz.
Assim como qualquer procedimento estético, a depilação a laser tem seus riscos, entre eles, a queimadura, segundo Melissa Maeda, dermatologista do Hospital Nove de Julho (SP).
A queimadura pode ocorrer por causa de uma potência mais alta e o laser não pegou só a melanina do pelo, mas também da pele. Melissa Maeda, dermatologista
Outros efeitos adversos são alterações da cor da pele, infecções e cicatrizes permanentes, conforme explica Carla Gayoso, professora na residência médica em dermatologia da UFPB (Universidade Federal da Paraíba).
Os erros mais comuns são causados pela técnica utilizada pelo profissional, como energias altas em peles mais escuras, múltiplas passadas do laser em uma única região e o procedimento em peles bronzeadas. Carla Gayoso, dermatologista
Um dos cuidados mais importantes é não tomar sol pelo menos 30 dias antes, segundo os especialistas.
Maeda acredita que é possível recuperar a pele. Tudo depende do nível de profundidade da queimadura, o aparelho utilizado e o tom de pele da pessoa. O problema é a demora: isso pode levar um ano ou mais.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba