Sonho

Mulher falece após realizar sonho de se casar

"Só me resta fazer piada dessa droga dessa doença", disse Layra Jordão, 30, em entrevista ao UOL, em junho deste ano. Ela havia descoberto que o câncer que atingia sua boca e pulmões não tinha mais chances de cura.

“Só me resta fazer piada dessa droga dessa doença”, disse Layra Jordão, 30, em entrevista ao UOL, em junho deste ano. Ela havia descoberto que o câncer que atingia sua boca e pulmões não tinha mais chances de cura.

A doença não foi capaz de tirar o bom humor de Layra, mas a levou à morte na última segunda (30), um mês e meio após a carioca realizar o sonho de se casar.

A história dela ficou conhecida quando, após ser desenganada pelos médicos, Layra pediu ajuda para poder conseguir tirar um sonho do papel. Com uma “vaquinha” virtual, ela pedia modestos R$ 2.500 para fazer um casamento simples com Alex Silva, seu companheiro de vida há 9 anos. “Recebi essa notícia tão ruim, desse prazo que está correndo sem parar, e falei para o Alex: tem que ser agora! Eu quero teu nome no meu, para levar isso comigo”, contou, à época, ao UOL.

Tocados com a história e com a força da mulher, desconhecidos se empenharam em ajudar. Em poucos dias, o financiamento coletivo arrecadou mais de R$ 25 mil. O dinheiro, porém, acabou sendo doado, depois que Layra teve os fornecedores para o grande dia se oferecendo para trabalhar de forma voluntária.

“Foi uma linda corrente do bem. E eu não tenho palavras para agradecer ao presente de Deus que foi Layra em meu caminho”, contou Ana Hoffmann ao UOL. Após saber, pelas redes sociais, da luta de Layra, Ana mobilizou profissionais de diversas áreas e virou a “braço direito” dela na organização do evento.

A data escolhida por Layra, no meio de setembro, era a mais próxima possível do aniversário de namoro do casal. Mas, com a saúde frágil, isso também foi motivo de preocupação. “Tinha medo dela não chegar até a data que marcamos, por todo o histórico que ela me contou. Mas sempre que eu ligava para ela, ela estava radiante de felicidade. Ela emanava luz, não doença”, disse Ana.

Mesmo em meio a uma saga dolorosa, Layra levava seus dias sorrindo, fazendo graça e dizendo que só queria ter mais tempo. Na entrevista que fizemos em junho, ela falou: “Eu espero ainda viver muito, muito, muito, muito. Até o último minuto eu quero estar aproveitando tudo, mas a gente não sabe quanto tempo restante tem”.

No dia da festa, Layra estava radiante de felicidade, embora sem muito fôlego e se cansando facilmente, já debilitada pelo estado avançado do câncer. “Quando ela chegou não acreditei no que via. Ela estava tão plena, linda e feliz”, revela Ana.

Quando a cerimônia começou, a assessora tentou convencer Layra a ficar sentada. “Disse, baixinho, ‘se quiser sentar, me avisa. Tudo bem sentar, todos estão sentados’. Mas ela respondeu ‘vou ficar de pé! Eu aguento!’ E de fato ela aguentou”.

Também responsável pela celebração do casamento, Ana revelou, em seu discurso: “Quando soube da história de vida de vocês, eu mesma me fiz frear e percebi que nada além do amor é capaz de parar o tempo. O amor não conta tempo. Quando amamos pode-se ter 1 minuto ou 3 horas do lado de alguém, que aproveitamos tudo”.

Ana diz que na festa o cansaço de Layra bateu. “Ela se recolhia num cantinho para respirar e fazíamos questão de não deixar ninguém chegar perto dela nessa hora. Mas ela se recarregava rápido, juntava forças e ia para a pista! Dançava linda, curtia tudo que podia até a próxima falta de ar”.

O casal conseguiu curtir a lua de mel em Búzios, que também recebeu de presente. Segundo Ana, os dois curtiram muito e a viagem foi ótima. Ao voltar, entretanto, Layra precisou ser internada. Ainda assim, a carioca fazia graça: no Facebook, pedia que amigos “contrabandeassem” comidas gostosas para ela no hospital.

Poucos dias depois, ela foi liberada e pôde até curtir o Rock in Rio. “Ela ama rock! Eles se divertiram muito até a última internação”, conta Ana.

Quando conversamos com Layra, há quatro meses, ela confessou: “Todo dia é difícil. É difícil quando eu me canso por subir uma escada, é difícil quando me abaixo e fico tonta ao levantar, é difícil respirar. É difícil um monte de coisa, mas eu tenho tanto amor, tenho tanta gente maravilhosa do meu lado… então, vamos viver”.

Ana conta que, na última internação, Layra já estava sobrevivendo a base de morfina. “Ela havia completado a missão dela aqui na terra. Ela sabia disso”. Layra foi enterrada hoje (1), pela manhã, no Rio de Janeiro.

Fonte: Bol Notícias
Créditos: Denise Almeida