O julgamento do recurso da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do triplex do Guarujá (SP) pelo Tribunal Regional da 4.ª Região (TRF4), em Porto Alegre, na próxima quarta-feira, 24, mobiliza movimentos pró e contra Lula na capital gaúcha. As manifestações tomarão corpo a partir desta segunda-feira, 22, e as forças de segurança se articulam para planejar sua atuação.
As manifestações mais numerosas prometem ser as de movimentos sociais e partidos de esquerda que apóiam o ex-presidente. Entre os participantes da Frente Brasil Popular, ligada à CUT, que lidera a organização dos atos pró-Lula, o clima é de Fórum Social Mundial – movimento esquerdista que se destacou em Porto Alegre no início dos anos 2000.
Na segunda e na terça-feira, 23, serão realizadas diversas plenárias, contando com nomes de expressão nacional, como a presidente cassada Dilma Rousseff e a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que participarão do painel “Mulheres pela Democracia”, e dos senadores Paulo Paim (PT-RS) e Roberto Requião (PMDB-PR), convidados para a “Ação Global Anti-Davos”. Ambos os eventos serão realizados na terça-feira, no auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa.
O principal ato público dos movimentos de esquerda será realizado no fim da tarde de terça-feira, quando são esperadas mais de 200 caravanas do interior do Rio Grande do Sul e dos Estados vizinhos, Santa Catarina e Paraná, para uma marcha na região central da capital gaúcha. Os organizadores esperam reunir mais de 50 mil pessoas na chamada “esquina democrática”, que fica perto do Mercado Público de Porto Alegre, a partir das 17 horas do dia 23.
“Será uma marcha pacífica e organizada em defesa da democracia e contra a condenação sem provas do ex-presidente Lula. Queremos mostrar que aqui se pratica a democracia e denunciar a gravidade do que está acontecendo na Justiça, que insiste em condenar sem provas”, diz Claudir Nespolo, umas das lideranças da Frente Brasil Popular, que reúne 78 organizações.
Para garantir que a manifestação seja pacífica, Nespolo informa que os organizadores designaram cerca de 2 mil orientadores, que circularão entre os manifestantes para tentar evitar qualquer tipo de confronto com grupos favoráveis à condenação de Lula ou com as forças de segurança, bem como impedir atos de vandalismo contra o patrimônio público ou privado.
Os movimentos de esquerda também planejam montar um acampamento em local ainda por ser definido junto aos órgãos de segurança e realizar uma vigília o mais próximo possível do TRF-4 no dia do julgamento.
Já os movimentos favoráveis à condenação de Lula têm optado por manifestações mais discretas. O Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua espalharam pela cidade cerca de 30 outdoors pedindo “Lula na cadeia”. Na véspera do julgamento, um ato está sendo convocado para o Parque Moinhos de Vento, o Parcão, espaço usual de protestos em apoio à Lava Jato em Porto Alegre. O evento no Facebook, marcado para às 18 horas do dia 23, tinha menos de 100 confirmações até esta quinta-feira, 18.
“Vai ser um evento pequeno, já que consideramos e avaliamos que um evento grande poderia implicar questões de segurança. Será um ato de apoio ao TRF4 e à Justiça, para que continuem fazendo o seu trabalho e que não se tolere ameaças ou intimidações”, afirma Iria Cabreira, uma das coordenadoras do Vem Pra Rua no Rio Grande do Sul.
O MBL convoca para outra manifestação no dia do julgamento, também no Parcão. Chamado de “CarnaLula”, o evento é anunciado pelo movimento como “um verdadeiro pré-carnaval” em “comemoração pelo início da libertação do Brasil”. Segundo a divulgação, “a condenação de Lula marcará uma nova era em que a população construirá um país mais livre, digno e próspero”. O ato está marcado para as 18 horas do dia 24.
Órgãos de segurança têm realizado diversas reuniões de trabalho nos últimos dias para planejar a atuação até o julgamento. Movimentos sociais, representantes dos magistrados e também a imprensa foram chamados para coordenar procedimentos.
O acesso ao entorno do TRF-4 será restrito a pessoas previamente cadastradas no site do Tribunal, ônibus passarão por revistas das polícias rodoviárias federal e estadual para verificar a presença de objetos que possam ser usados como armas. A Polícia Federal atuará na segurança dos magistrados enquanto a Brigada Militar fará a proteção de prédios públicos, além de monitorar possíveis conflitos nas manifestações.
Fonte: Taís Seibt
Créditos: Estadão