Uma missa realizada no santuário do Cristo Redentor, no alto do Morro do Corcovado, na manhã desta sexta-feira (2), lembrou a memória do jornalista Tim Lopes, morto há 15 anos quando fazia uma reportagem sobre abuso de menores e tráfico de drogas na Vila Cruzeiro. A celebração lembrou o legado de Tim enquanto pessoa e para o Jornalismo.
O evento contou com a presença de amigos, familiares, de representantes de organizações de direitos humanos e alunos da Escola Estadual Tim Lopes, que fica no Conjunto de Favelas do Alemão, onde o jornalista foi assassinado.
Para o jornalista Bruno Quintella, filho de Tim, a morte do pai parece que foi ontem. Ele afirmou que a lembrança da morte do pai vive em sua memória. Ele acredita que, se a intenção era calá-lo, o efeito foi justamente o contrário.
“Entendemos que os assassinos foram presos. A gente tem a sensação de que o caso foi elucidado. Mas a saudade fica, ele morreu sofrendo. Foi uma morte para silenciar, para impactar. E os que odeiam ter medo, se encorajaram e se tornearam ainda mais jornalistas”, destacou Bruno.
Paulo Henrique Gonçalves, de 17 anos, é estudante do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual Jornalista Tim Lopes. Ele revela que o legado do jornalista está sempre presente nos estudos e na comunidade.
“Além de morar no local onde ele veio a falecer, a escola é ligada à história dele e não nos deixa esquecer. Estamos sempre lembrando”, destacou o estudante.
A missa em memória de Tim Lopes também reuniu representantes de diversas causas. Jovita Belfort, mãe da jovem desaparecida Priscila Belfort, destacou a importância da memória viva.
“Além da homenagem, os eventos mostram que a vida dele não foi em vão. A memória da escola, dos amigos, está mais presente do que nunca. Tudo o que o Tim quis, almejou, está mais presente. É importante não deixar a memória, a luta, se esvair. O Rio de Janeiro ainda precisa muito de Tim Lopes”, explicou Jovita.
Padre Omar, reitor do santuário do Cristo Redentor, espera que as orações pela paz se consolidem em um futuro melhor.
“É uma oportunidade para rezar, fortalecer nosso pedido de paz e solidariedade por um Rio de Janeiro melhor. Que esse pedido saia do Corcovado e possa reverberar, chegar aos corações e reflita nas decisões que mexem com a população”, destacou Padre Omar.
Também na manhã desta sexta (2), a ONG Rio de Paz realiza um ato na Praia de Copacabana, na Zona Sul, para lembrar a memória de Tim e chamar a atenção para os casos de violência contra jornalistas durante o exercício de sua profissão.
Entenda o caso
O jornalista Tim Lopes foi assassinado na madrugada do dia 2 de junho de 2002, quando realizava uma reportagem sobre abuso sexual de menores e tráfico de drogas em um baile funk da comunidade da Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio. O repórter foi sequestrado, torturado e morto por traficantes da região. A confirmação veio após uma semana do desaparecimento.
Sete criminosos foram presos e condenados a até 28 anos de cadeia. Atualmente, quatro deles cumprem pena. Um deles morreu e outros dois conseguiram ser soltos por decisão da justiça.
Quando foi brutalmente assassinado, Tim Lopes já tinha mais de 30 anos de carreira, em uma trajetória sempre marcada por uma obsessão: combater a violência, as injustiças e as desigualdades sociais por meio do jornalismo.
Muitas vezes, assumiu disfarces para denunciar o que estava errado. Ele foi pedreiro para mostrar a dura vida dos canteiros de obras. Fingiu ser dependente químico para revelar irregularidades em clínicas de tratamento. Chegou até a se vestir de Papai Noel para falar do Natal de crianças que não tinham a esperança de receber a visita do Bom Velhinho.
Fonte: G1