O Ministério Público de Goiás pediu a prisão preventiva do médium João Teixeira de Faria, 76, o João de Deus, após a série de acusações de abuso sexual feitas por mulheres nos últimos dias.
A informação foi antecipada pelo blog de Lauro Jardim, do jornal O Globo, e confirmada pela Folha. Procurada, a defesa de João de Deus ainda não se manifestou sobre esse pedido de prisão.
Segundo uma pessoa envolvida na investigação relatou à Folha, dois promotores foram ao Fórum de Abadiânia no fim da tarde desta quarta-feira (12) protocolar o pedido.
Uma força-tarefa liderada pela Promotoria de Goiás foi criada para recolher relatos de supostas vítimas do médium e, até terça (11), já havia feito mais de 200 atendimentos, a maioria deles por email.
João de Deus nega as acusações e, nesta quarta (12), apareceu pela primeira vez após as denúncias virem à tona na Casa Dom Inácio de Loyola, espécie de hospital espiritual criado por ele em Abadiânia, no interior de Goiás.
“Agradeço a Deus por estar aqui. Ainda sou irmão de Deus. Quero cumprir a lei brasileira. Estou nas mãos da lei. João de Deus ainda está vivo”, afirmou a fiéis.
Os relatos de 13 mulheres foram feitos inicialmente ao programa Conversa com Bial e ao jornal O Globo. Desde então, outras denúncias surgiram, levando à criação da força-tarefa em Goiás para receber relatos e depoimentos em parceria com outros estados.
“Estão vindo de todos os lados. Chegam pelas redes sociais pessoais [das promotoras] e oficiais do Ministério Público. Pelo WhatsApp, Telegram, Facebook, email pessoal e institucional e até por colegas, que conhecem vítimas, e nos avisam”, afirma a promotora Silvia Chakian.
Para a promotora Gabriela Manssur, a divulgação dos casos encoraja outras mulheres a fazerem denúncias. “É impressionante o efeito cascata. Desde sexta-feira, a cada hora vem um email, WhatsApp, ligação, um pedido de ajuda de todo o Brasil”, diz.
Manssur afirma que até maridos têm procurado o Ministério Público para denunciar situações que afetaram suas companheiras.
“Pelos relatos que estamos recebendo, não há nenhum elo entre essas pessoas. São perfis diferentes. Você percebe que é uma narrativa com sentimento, verdade e sede de Justiça”, conta.
Depoimentos de vítimas poderão ser provas suficientes para embasar uma investigação e depois tentar condenar acusados de crimes sexuais. A avaliação é do Ministério Público do Estado de Goiás e de outros integrantes da força-tarefa que recebe os relatos e investiga os casos de denúncias contra João de Deus.
O promotor Luciano Miranda Meireles afirmou que os depoimentos podem ser o único meio de comprovar as acusações, já que crimes como o de estupro não ocorrem à luz do dia nem têm testemunhas. “Não há por que duvidarmos dos relatos das vítimas. É claro que não vamos encontrar vestígios do crime nem lesões.”
O órgão envolveu seis delegados e duas psicólogas na força-tarefa e fez contato com Promotorias de outros estados, como São Paulo e Maranhão, para evitar que vítimas se desloquem até Abadiânia
Fonte: Folha de S. Paulo
Créditos: Folha de S. Paulo