Se a expectativa de vida para mulheres no Brasil é de 79 anos e a menopausa costuma chegar por volta dos 45/50, ainda há muita vida para uma mulher depois do fim do ciclo reprodutivo. É justamente esta fatia do mercado que vem chamando a atenção da indústria da moda, que começa a buscar alternativas para amenizar um dos efeitos mais conhecidos das alterações hormonais nesta fase: as constantes ondas de calor, conhecidas como fogacho.
O desenvolvimento de produtos que levam em conta as especificidades do corpo da mulher no climatério e na menopausa – e que agregam tendências de moda em modelagens, cores e estilos – começa a ser visto em coleções de marcas ainda pouco conhecidas por aqui.
A Cucumber, do Reino Unido, apresenta a coleção 37.5, com peças projetadas para manter a temperatura corporal. Segundo Nancy Zeffman, cofundadora da grife, as roupas têm uma tecnologia com uso de minerais vulcânicos que, quando incorporados aos fios, permitem o conforto térmico necessário para mulheres nesta fase da vida.
Basicamente, o tecido funciona removendo a umidade da peça na fase de vapor, antes que o suor líquido comece a se formar.
No portfólio, estão peças multifuncionais como vestidos, blusas com decote em V, cardigãs e macacões com esta tecnologia. “Obviamente, temos muitas clientes que estão passando pela menopausa, já que nossas roupas podem ajudar muito a atenuar os sintomas”, explica Nancy. “Mas muitas consumidoras também são recém-mães, que podem sofrer da mesma maneira devido à queda drástica nos níveis de estrogênio. O mesmo vale para mulheres que tomam alguns medicamentos que interferem na regulação hormonal”, completa.
Tem até dedo da Nasa nisso
Uma das tecnologias que estão sendo usadas em roupas que oferecem conforto térmico é a Outlast, que originalmente foi desenvolvida pela Nasa para proteger astronautas das variações de temperatura do corpo – e que também já integrou os macacões de pilotos de Fórmula 1 com esta mesma finalidade.
As microcápsulas integradas às fibras e ao tecido conseguem interpretar a temperatura do corpo: quando a pele se aquece, o calor é absorvido, e na medida em que ela se esfria, o calor é liberado. Esta funcionalidade inteligente regula pró-ativamente a temperatura ao mesmo tempo em que controla a umidade antes mesmo de ela ser produzida.
É esta a tecnologia utilizada pela marca Fifty One Apparel, que surgiu em março de 2018 com o objetivo de criar roupas para mulheres na menopausa. Com o slogan “Cool clothes for hot women” – “roupas frescas para mulheres quentes”, em tradução livre, a marca hoje comercializa peças com este perfil no Reino Unido, França, Suécia, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Holanda. “Esta tecnologia traz conforto térmico às mulheres. Não dizemos que interrompem as ondas de calor, mas aliviam os sintomas”, conta a fundadora Louise Nicholson.
Aqui no Brasil, a tecelagem Santaconstancia trabalha com esta tecnologia em tecidos que vêm sendo utilizados para diversas aplicações, como camisetas esportivas, pijamas e blusas segunda pele. Segundo a diretora Gabriella P. Costa, os fios absorvem, armazenam e liberam o calor, resfriando na medida certa para oferecer conforto na percepção da temperatura corporal.
“Devido a regulação contínua do microclima da pele, acreditamos que o tecido pode oferecer um melhor conforto para mulheres na menopausa”, diz Gabriella. Embora o tecido tecnológico já seja fabricado no Brasil, ainda faltam confecções que o adaptem às tendências de moda voltadas para este público.
Mercado a ser explorado
Enquanto segmentos como sportswear e moda praia inovam constantemente com materiais e acabamentos têxteis que trazem funcionalidade às peças – como proteção UV, propriedades antibacterianas, hidratantes e até repelente a insetos -, o desenvolvimento de roupas com foco em mulheres na menopausa ainda é um mercado ainda pouco explorado.
Mas não é por falta de pesquisa na área: no curso de Tecnologia em Design de Moda da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, o assunto já é bem conhecido e foi o tema da monografia da designer Cássia Matveichuk Chernev. Inspirada na mãe, que entrou no climatério com apenas 37 anos, ela criou peças underwear funcionais com um design atrativo, trabalhando com nanoemulsão de aloe vera como agente hidratante e revigorante.
“A gente sempre imagina que uma mulher na menopausa vai ser muito madura, e foi o contrário. Vi minha mãe muito ativa, principalmente na vida profissional, na meia idade, já sofrendo com os sintomas da menopausa”, recorda Cássia, que admite existir uma deficiência de produtos para atender a um mercado com muito potencial de compra. “São mulheres que ainda estão ativas em todas as áreas da vida, e não se contentariam em usar produtos voltados ao público de terceira idade.”
Orientador da monografia de Cássia, o professor Fabio Scacchetti acredita em um rápido crescimento deste mercado no Brasil, já que “as pessoas estão conectadas e atualizadas sobre novos produtos e se tornam cada vez mais exigentes, esperando algo além do conforto e proteção tradicionais”. Segundo ele, há um movimento natural para o desenvolvimento da moda funcional, seja para mulheres na menopausa ou outras necessidades.
“É evidente que a Europa vem mais forte neste movimento devido ao alto investimento em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Mas já existem empresas nacionais investindo no desenvolvimento de produtos de maior complexidade que atendam a essas demandas”, diz o professor.
Fonte: Universa
Créditos: Universa