Mensagens trocadas entre policiais militares alvos da operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Rio (MPRJ), realizada nesta quinta-feira, mostram detalhes do esquema de extorsão e tortura praticadas contra traficantes e comerciantes. Em uma das conversas retiradas do grupo de mensagens “Os Mercenários”, obtida pelo Ministério Público do Rio, é possível ver quando o PM Adelmo Guerini diz a um comparsa que o sequestro do então chefe do tráfico do Pavão-Pavãozinho, Leonardo Serpa, o ‘Léo Marrinha’, tinha “dado bom demais”. Com a extorsão para que o criminoso não fosse preso em uma operação, foi arrecadado R$ 1 milhão, valor que foi dividido entre o militar e policiais civis ainda não identificados.
Em um outro trecho da conversa, um integrante do grupo de mensagens confirma o nome do chefe da comunidade citada e mostra fotos de ‘Leo Marrinha’. Logo em seguida, Adelmo confirma a prisão do traficante dizendo: “Está na minha mão. Está totalmente diferente”. Então Diego comemora a prisão: “bingou bonitão”.
Os policiais também utilizavam, constantemente, informantes e arrecadadores da propina, que tinham a função de conseguir informações precisas sobre os criminosos que atuavam nas áreas de batalhões que os PMs pertenciam e, em seguida, se dirigir até eles para cobrar o valor da propina. Nas conversas, de acordo com a denúncia do MP, fica claro que os denunciados tinham acerto com traficantes de Itaguaí e Japeri, utilizando os códigos “GD” e “ENG” para se referir às comunidades do Guandu e Engenho Pedreira, em Japeri, e “ST” para se referir à comunidade Sem Terra, localizada em Itaguaí. “Fica evidente, ainda, a preocupação por parte dos denunciados de que o arrecadador seja morto nas idas até às comunidades para buscar o valor da propina”, diz um trecho da denúncia do Gaeco.
Em uma outra conversa, recuperada no dia 18 de abril de 2020 do grupo de WhatsApp “Os Mercenários”, os integrantes falam sobre uma pessoa que estaria com estaria com dificuldade de acertar com os policiais. No diálogo, o PM Denilson de Araújo Sardinha ressalta que a pessoa, além de ter pedido “um tempo pra mandar o combinado”, teria solicitado a devolução das “paradas” que estariam com os policiais, deixando claro que os denunciados teriam apreendido algum pertence desta pessoa e estariam guardando enquanto o pagamento combinado não fosse realizado.
Sardinha ainda diz a seus comparsas que informou ao comerciante que era para ele falar com o patrão dele e quando tivesse o “combinado na mão” voltasse a fazer contato.
Na denúncia do MP, os investigadores dizem que os policiais agiam com violência constantemente, justamente para impor medo em comerciantes e criminosos, forçando eles a realizar o pagamento de propina exigido. O MP reuniu um vídeo e foto, que foram enviados por Adelmo no grupo de mensagens, no dia 8 de junho de 2020, que exemplificam os atos. Nas imagens, segundo o MP, é possível ver uma pessoal sendo torturada com tapas e enforcamentos com saco de lixo na cabeça. Essa pessoa teria sido presa em flagrante por tráfico de drogas.
Operação ‘Os Mercenários’
As mensagens trocadas pelo grupo chegaram ao Gaeco após o celular do policial militar Adelmo Guerini ter sido apreendido na Operação Gogue Magogue, em agosto de 2020, contra uma milícia que explorava o serviço de mototáxis na comunidade Asa Branca, em Jacarepaguá. Desde então, os agentes vem analisando as informações contidas no aparelho, até que chegaram aos “mercenários”.
Até o momento, dez agentes foram presos e um segue foragido.
Fonte: O Dia
Créditos: Polêmica Paraíba