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Menores, focos de incêndio na Amazônia estão mais destruidores

23.ago.2019 - Queimadas na Área de Proteção Ambiental Jamanxim, em Novo Progresso (PA) - Victor Moriyama / Greenpeace

As queimadas na Amazônia em 2019 causaram o maior impacto em termos de área média atingida desde o início das medições no bioma. O UOL comparou os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de área queimada e número de focos de fogo e chegou a uma relação de 0,89 km² por foco medido. Os números disponibilizados pelo órgão começam em 2002.

O mês de setembro ilustra essa relação: o número de focos de incêndios caiu na Amazônia, mas a área queimada cresceu em relação ao mesmo período de 2018.

Segundo os dados do Inpe, no mês passado, o fogo atingiu 16.253 km² do bioma —em 2018 esse número foi de 12.852 km². Já em número de focos, setembro registrou uma queda: 19.925 registrados em 2019, contra 24.803 no ano anterior.

Em tese, isso quer dizer que os incêndios ocorreram em menor número, mas atingiram áreas maiores. Entretanto, há variáveis que precisam ser levadas em conta, como, por exemplo, o tempo de duração do fogo. Como as medições do Inpe são diárias, um foco que dura mais de um dia é medido mais de uma vez.

Por conta disso, não é possível determinar um tamanho médio exato de cada foco, mas sim sua relação de acontecimento em relação à área atingida.

Fumaça de incêndios na Amazônia pode ser vista do espaço - NASA
Fumaça de incêndios na Amazônia pode ser vista do espaço. Imagem: NASA

No ano, o total de área queimada na Amazônia já soma 59.877 km² até o fim de setembro, mais que todo o acumulado de 2018, que registrou 43.171 km².

Também em 2019, a Amazônia já contabiliza 66.750 focos de queimadas até o mês de setembro. Em outubro, até o dia 10, o Inpe detectou 2.252 focos de queimadas.

Desmatamento explica relação maior

Os números do desmatamento também apresentaram alta nos últimos anos. A área total de alertas na Amazônia brasileira cobriu 7.929 km², segundo o Deter (sistema de detecção de alertas de desmatamento em tempo real do Inpe) —o que significa uma alta de quase 150% se comparado à média dos últimos dez anos.

Para a diretora de ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) Ane Alencar, as queimadas podem ter sido maiores neste ano porque existe um aumento significativo nos dados de desmatamento.

“No ano passado tivemos, pelo Prodes [sistema de medição do Inpe], uma área de 7.900 km² de desmatamento. Neste ano, até hoje, já temos 8.000 km², isso levando em conta os dados do Deter, que é muito subestimado em relação ao Prodes. Em média, quando saem os números finais do Prodes, eles ficam 30% maior que o Deter. E mesmo no número subestimado já está maior que todo o ano passado”, afirma.

O dado que chama a atenção da diretora é que o mês de setembro fechou com um número de queimadas menor do que em agosto. “Isso é superanômalo, porque setembro é o mês histórico de pico de queimadas”, lembra. “Acho que as pessoas ficaram meio com medo, porque as queimadas em agosto tiveram muita repercussão, e aí o governo teve de fazer alguma coisa”, relata.

Uma outra explicação citada por Alencar para que existam mais queimadas em menos focos pode ser explicado pelo local do fogo. “A borda da floresta tem área mais desmatada e fica mais suscetível ao fogo. E tem muita área foi desmatada, o desmatamento não parou, por isso aumentam as queimadas”, diz.

A gerente de ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, concorda com a tese de que as queimadas neste ano podem ter sido maiores porque ocorreram em áreas menos úmidas —o que facilita o alastramento do fogo.

“Essas áreas são na borda de Amazônia. Isso significa que ou é área de transição, ou é área mais de savana, e elas são mais secas. Nossa visão é que, geralmente, em áreas mais degradadas, há mais chance de um foco se espalhar, provavelmente ampliando o tamanho dessas queimadas”, explica.

Ela ainda lembra que, apesar de ser um bioma apenas, a Amazônia não queima por igual. “Ela começa normalmente queimando por ali em Roraima, vem de leste para oeste. Muda a região que queimou, muda o número de focos”, explica.

Fonte: UOL
Créditos: Carlos Madeiro