Se dependesse apenas do departamento de Jornalismo da Globo, a emissora não teria demorado para comentar nos telejornais as denúncias de assédio moral e sexual contra o ex-diretor de Humor, Marcius Melhem, divulgadas pela revista Piauí.
A autorização só veio após a diretoria do Grupo Globo analisar e aprovar a forma com que seria feita a menção: uma nota coberta, com citação do compromisso da casa com as regras de compliance e indicação de links para o telespectador saber mais do caso.
Segundo apurado pelo UOL, a equipe de jornalismo desejava falar sobre o assunto no mesmo dia que a matéria foi publicada. Mas optou-se, primeiro, em discutir o assunto internamente, com outros executivos da empresa, para daí saber como falar nos noticiários.
As primeiras denúncias de assédio contra Melhem surgiram em dezembro de 2019 na coluna de Leo Dias ainda no UOL. Meses depois, em outubro deste ano, Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, realizou uma longa entrevista com a advogada Mayra Cotta, que representa seis vítimas. Mas só a longa reportagem da Piauí, com detalhes de ocorrências, levou a empresa a se posicionar em sua programação.
Apesar da pressão causada pelo impacto da matéria, houve um espaço de quase cinco dias entre a publicação do texto, ocorrida na madrugada de 4 de dezembro, e a primeira leitura da nota da emissora, por volta das 21h40 de 8 de dezembro, ao final do Jornal Nacional. O mesmo conteúdo foi divulgado, na íntegra, no G1, e lido nos demais telejornais da Globo e Globo News posteriormente.
Questionada pela reportagem, a Globo disse que “com as explicações que publicou em seus telejornais, ao mesmo tempo em que informou onde as denúncias poderiam ser conhecidas em todos os seus detalhes, reiterou e justificou também a impossibilidade de comentá-las publicamente sem ferir suas políticas de compliance. Foi a forma transparente que encontramos para tratar do assunto junto a nossos telespectadores, diante dessas limitações”.
Caso Marcius Melhem
A reportagem da Piauí ouviu mais de 40 pessoas, sendo duas vítimas de assédio sexual, sete de assédio moral e três dos dois comportamentos. Os episódios relatados teriam acontecido, em sua maioria, em 2017, dentro e fora do ambiente de trabalho.
Dani Calabresa aparece como uma das vítimas e, horas após a publicação da matéria, postou um desabafo em seu Instagram. “Para recuperar minha saúde, precisei me defender”, disse na postagem. Ela passou a receber mensagens de apoio de personalidades e instituições.
Posteriormente, Marcius Melhem concedeu uma entrevista ao UOL, em que admitia ter sido “um homem tóxico”, mas negou as acusações sexuais. “Eu jamais tive nenhuma relação que não fosse consensual e eu jamais pratiquei nenhum ato de violência com quem quer que seja na minha vida”, alegou. Ainda, anunciou medidas judiciais contra Dani e a advogada Mayra.
Fonte: Polêmica Paraíba
Créditos: UOL