A dois meses e meio do carnaval de 2022, a maioria das capitais do Brasil ainda não se definiu quanto à realização do evento. Em pelo menos 19 cidades e no Distrito Federal, as gestões afirmam que essa decisão será tomada no futuro, mas evitam até estipular um prazo final.
Um exemplo é Salvador, que tem um dos maiores carnavais de rua do país. Apesar das cobranças de entidades ligadas à realização da festa, não há qualquer expectativa de quando um anúncio será feito. Procurada pelo iG, a assessoria de comunicação da prefeitura da capital baiana disse apenas que a administração municipal solicitou uma audiência com o governo do estado para discutir o assunto.
Essa resposta não difere muito da apresentada por capitais como Manaus (AM), São Luís (MA) e Vitória (ES), que ressalta que “as decisões serão baseadas em critérios científicos e sanitários, ouvindo os profissionais da saúde e preservando a vida e a integridade física dos moradores”. A reportagem perguntou a todas as assessorias quais seriam esses critérios levados em conta para realizar ou suspender a festa, mas nenhuma delas respondeu especificamente.
O tema está em debate porque, embora os índices da pandemia tenham melhorado com o avanço da vacinação, grandes aglomerações ainda não são indicadas pelas autoridades de saúde. Na sexta-feira (10), o Brasil tem média móvel de 182 mortes por Covid-19 e 64,2% da população com o ciclo de vacinação contra o coronavírus completo, segundo a plataforma Our World in Data. Mas para instituições como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esse é um cenário que ainda não permite a realização da festa.
“Falar em carnaval é impossível no contexto epidemiológico que dezembro apresenta com a alta tendência de aumento da mobilidade humana entre regiões do Brasil. É importante observar qual será o comportamento da transmissão nas festas de fim de ano de 2021, saber como a estratégia de vacinação anda em 2022 e como ficará a eficácia da vacina diante da nova variante mais ameaçadora: a ômicron”, defende Juliane Freitas de Oliveira, PhD em matemática para epidemiologia e pesquisadora do Centro de Integração e Dados para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).
A avaliação de Juliana é reforçada pelo Comitê Científico do Consórcio Nordeste, criado para orientar os governos da região no combate à pandemia. O grupo divulgou um parecer, no último dia 3, em que recomendou a proibição dos eventos carnavalescos e de fim de ano por entender que os cenários observados em outros países — a Europa já enfrenta uma quarta onda da Covid-19 — podem ocorrer no Brasil.
As festas públicas de réveillon, inclusive, já foram canceladas na maioria das cidades. A descoberta da ômicron , classificada como “variante de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS), é mencionada pelas prefeituras para justificar a suspensão das celebrações públicas de fim de ano e o adiamento quanto à definição do carnaval.
“A Prefeitura de Aracaju ainda não decidiu pela realização de eventos de grande porte na capital sergipana em 2022, a exemplo dos festejos carnavalescos. De acordo com a gestão municipal, a transmissão comunitária de novas variantes do coronavírus ainda requer de toda a população a manutenção de cuidados preventivos. Neste sentido, o Município segue analisando diariamente os boletins epidemiológicos elaborados pela Secretaria Municipal da Saúde para a adoção de medidas de flexibilização das restrições impostas para o controle da pandemia de Covid-19”, respondeu a gestão da capital de Sergipe.
Fonte: IG
Créditos: IG