Claudia Helena Camargo da Silva, mãe do adolescente Cauã da Silva Santos, de 17 anos, compareceu ao Instituto Médico Legal (IML) muito abalada após a morte do seu filho. Cauã foi assassinado com um tiro no peito, na noite de segunda-feira (4), quando saía de um evento do Centro Esportivo Resgate, projeto social da associação de moradores da comunidade do Dourado, em Cordovil, na Zona Norte do Rio.
Muito abalada, ela falou ao DIA sobre o ocorrido: “Acabaram com a vida do meu filho com um tiro no peito. Ele só tinha 17 anos, era lutador, estava lutando em um evento do time”. A tia do adolescente, Juliana da Silva, de 45 anos, também fez um desabafo na porta do IML. “A polícia acha que na comunidade só tem bandido. Não tem. Tem um Cauã da vida que era estudante, era alegre, tinha sonhos e ia seguir a carreira de lutador, mas infelizmente o sonho dele foi cortado”, disse.
Juliana também deu a mesma versão relatada pelos moradores da região e familiares do jovem. “No domingo ele ia participar de um evento mundial. Nesse evento ele foi patrocinado por dois vereadores. Após os comes e bebes, assim que acabou, a polícia entrou atirando e nesse desespero todos correram e ele [Cauã] foi cercado. Deram um único tiro nele e ainda jogaram [o corpo] no rio”, afirmou.
Ainda não há informações sobre o sepultamento. Na noite de segunda-feira e na manhã desta terça (5), moradores realizaram uma manifestação na comunidade pedindo justiça. No protesto, manifestantes atearam fogo em três ônibus. Dois deles ficaram totalmente destruídos, mas os motoristas conseguiram conter as chamas que atingiram o terceiro.
Perícia vai fazer confronto balístico
A perícia da Polícia Civil analisa se há fragmentos de bala no corpo de Cauã para realizar um confronto balístico. As armas usadas pelos policiais do 16º BPM (Olaria) foram apreendidas e os agentes envolvidos na ação foram retirados das ruas. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) também instaurou um Inquérito Policial Militar para apurar todas as circunstâncias do caso.
A Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) investiga a morte e testemunhas serão ouvidas para esclarecer todos os fatos.
Inicialmente, a PM havia informado que agentes realizavam policiamento na Rua Antônio João, nas imediações da comunidade da Tinta, quando foram atacados. Houve confronto e um suspeito foi atingido. Com o homem, que seria foragido do sistema prisional, foram apreendidas drogas e R$ 39. No entanto, pouco tempo depois, a corporação mudou a versão.
A nova nota informou que os policiais seguiram até um valão próximo onde outros criminosos tinham pulado durante a fuga. No local, eles apreenderam uma pistola e três carregadores. A polícia disse também que os militares souberam, depois, que um homem atingido por bala de fogo deu entrada no Hospital Estadual Getúlio Vargas, mas não resistiu.
Na tarde desta terça-feira, em entrevista ao ‘RJTV 1’, o porta-voz da PM Ivan Blaz falou sobre a ação dos agentes. “É uma área de interesse de diferentes facções criminosas e, por isso, temos ali uma ação constante de policiais militares naquela região. Era uma ação de patrulhamento, não era uma operação, ao contrário do que se diz. Esses policiais são constantemente atacados, por ambas as facções que disputam aquela região”, justificou Blaz, que informou que o confronto teria ocorrido distante de onde o evento acontecia.
Dados do Fogo Cruzado
A morte de Cauã não foi um caso isolado. Em 2022, duas crianças e 10 adolescentes foram baleados durante ações ou operações policiais no Grande Rio, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado: entre essas vítimas, uma criança e três adolescentes morreram. Em 2021, 30 crianças e adolescentes foram baleados durante ações e operações policiais. Nove deles morreram.
Cecília Olliveira, diretora executiva do Instituto Fogo Cruzado reforça a necessidade de um plano de segurança que garanta a proteção de crianças e adolescentes. Desde 13 de janeiro de 2021, a Lei Ágatha Felix determina a prioridade nas investigações de crimes contra a vida de crianças e adolescentes. A lei que obriga o uso de câmeras nos uniformes de policiais militares também está em vigor desde julho do ano passado, mas o governo do estado ainda não instalou os equipamentos.
“É dever do estado zelar pela integridade física da população e garantir que crianças e adolescentes cresçam e se desenvolvam de maneira sadia e segura. Os dados mostram que crianças e adolescentes mortos durante ações e operações policiais não são casos isolados. A própria lei que pede celeridade na investigação de mortes tem o nome de uma criança morta por um policial. Isso é inadmissível”, afirma.
No julgamento da ADPF 635, em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal determinou que o governo do Estado criasse um plano de redução da letalidade policial. O plano foi divulgado em março, mas não abrange todas as determinações do Supremo. Cecília Olliveira frisa que não existe ainda um plano de segurança pública no Rio de Janeiro.
Fonte: Meia Hora
Créditos: Polêmica Paraíba