Menino de ouro

Mãe afirma que filho tem doença, após ter matado própria irmã

“Meu filho não é bandido, é menino de família, que cresceu com base, com educação, com tudo que tinha direito. Ele quer ser médico, estudava muito e fazia teatro há três anos.

” Durante uma hora de conversa pelo telefone, a gerente de contas Denise Beckmann, 36, intercala choro com gargalhadas de nervosismo. Ela estava na casa dos pais, em Santa Catarina, um dia após o aniversário de 15 anos do primogênito. “Falei pra ele: ‘Filho, você tem que entender que antes você tinha uma vida, agora vão te acusar por qualquer vento norte que soprar'”, lembra, antes de pausar a fala para mais um momento de lágrimas.

Sem nenhum sinal de briga ou desentendimento, o adolescente matou a irmã, de 12 anos, a marteladas na tarde do último dia 4 de junho, no apartamento onde a família vivia, em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba (PR). Ficou até o dia 9 de agosto num centro socioeducativo, mas, de acordo com a mãe, foi liberado pelo Ministério Público do Paraná para viver e receber tratamento na casa do pai, de quem Denise se separou há 11 anos. Ele ainda não tem um diagnóstico fechado, mas “várias explicações possíveis de doenças mentais”. A mãe fala que ainda não está pronta para lidar 24h por dia com o menor.

“Desenvolvi síndrome do pânico. Não estou preparada para ser forte por ele. Consigo vê-lo, passar uma tarde sem mostrar minhas fraquezas, mas ficar 24h com ele ainda é pesado pra mim”, diz Denise, que vive com os pais desde o dia da tragédia.

O Ministério Público do Paraná, por meio da 3ª Promotoria de Justiça de São José dos Pinhais, informou à reportagem, por email, que o caso tramita sob sigilo total, e que, por isso, não confirma ou afirma nada sobre o ocorrido, mesmo sabendo que as informações vieram da mãe. A Polícia Civil, por email e telefone, afirmou que ainda vai ouvir algumas testemunhas e confirmou as informações enviadas pela reportagem sobre o ocorrido, sem nada acrescentar.

O dia da tragédia

Era hora do almoço quando Denise foi em casa buscar a caçula para levá-la a escola. Encontrou o filho mais velho ferindo a garota com golpes de martelo. Ele também acertou o instrumento na nuca da mãe, que teve traumatismo craniano leve.

O Corpo de Bombeiros foi ao local após receber uma chamada dos vizinhos sobre uma briga entre jovens. Ao chegar ao condomínio onde vivia a família, agentes encontraram a menina com um ferimento profundo na cabeça e o irmão descontrolado, “possivelmente em surto psicótico”, como descreveu o tenente Rafael Lechinhoski em entrevista para um canal de TV.

Na mesma reportagem, vizinhos disseram que, antes do incidente, o garoto havia batido em algumas portas pedindo por um martelo emprestado, sugerindo que o crime foi premeditado.

A mãe diz que o filho tentou fugir pulando a janela do apartamento, no segundo andar do prédio. Na queda, quebrou as duas pernas e até hoje ainda não consegue andar. Está com pinos e pontos nos membros.

“Fingindo demência” Denise não voltou ao apartamento. Desde então, mora na casa dos pais, a 430 quilômetros de São José dos Pinhais, e dali não pretende se mudar. Diz que tudo lembra a vida feliz que tinha com os filhos e que só quer esquecer de toda a cena. Ela toma um antidepressivo de dia e um remédio para dormir à noite. Está de licença do banco onde atuava como gerente de contas e tem consultas ocasionais com um psiquiatra:

“Consigo fingir demência, me enganar, imaginar que estou a passeio, e que vou voltar para casa e minha vida vai estar lá, exatamente como era. Não tenho outra opção até estar preparada para dar mais detalhes”.

Nada na narrativa de Denise indica que ela pudesse prever o que iria acontecer naquela família.

“Se eu fosse uma péssima mãe, se odiasse meu filho, se minha família fosse desestruturada, pensaria: ‘Me livrei de tudo aquilo’. Mas minha família era perfeita. Batalhei muito para dar do bom e do melhor. Comiam o que queriam. Viajávamos muito. Meu filho fazia banco pra mim. Minha filha fazia bolo. De repente, tudo desabou.”

 

Fonte: Universa
Créditos: Polêmica Paraíba