Acusado pela Prefeitura de São Paulo de invadir o hospital de campanha do Anhembi ontem, na zona norte, um grupo de deputados estaduais alegou haver desperdício de dinheiro público com a criação de uma ala até o momento sem a ocupação de pacientes. O setor, no entanto, é utilizado como reserva de vagas para eventual necessidade no pico da pandemia.
Composto por nove parlamentares, o grupo autodenominado PDO (Parlamentares em Defesa do Orçamento) decidiu visitar de surpresa o hospital de campanha na tarde de quinta-feira (4), quando foram barrados pelos seguranças da SPTuris.
“Os deputados chegaram de surpresa e foram impedidos de passar pelo portão principal”, informou a Iabas, organização social que cuida do complexo. “Instalada a confusão, uma funcionária (…) autorizou a entrada dos deputados para evitar a continuidade do tumulto.”
Uma vez dentro da área do Anhembi, os deputados “se desgarraram dos funcionários e invadiram”, sem paramentação, a área do hospital. “Apenas depois de apelos os parlamentares aceitaram se paramentar”, diz nota enviada ao UOL.
A prefeitura ameaça prestar queixa contra os parlamentares por invasão. Uma live (veja vídeo acima) transmitida pela deputada Letícia Aguiar (PSL) mostra o momento em que ela e os colegas adentram uma ala do hospital ainda sem pacientes.
“Deputado não pode entrar, é área contaminada!”, grita uma funcionária do hospital. “Essa área não está aberta, cadê o segurança?”
Segundo os deputados, no entanto, “no exercício do mandato, temos livre acesso às repartições públicas para diligências para, pessoalmente, visitar os órgãos. Foi isso o que o grupo quis fazer”. Em nota, eles disseram ainda que tinha autorização da Iabas para entrar, o que a organização nega.
“Galpão inoperante”
O grupo decidiu visitar o hospital após anúncio feito pelo governo estadual de alugar 4.500 leitos em hospitais particulares ao custo de R$ 594 milhões “sob o argumento de aumentar a capacidade de atendimento a pacientes”.
“Suspeitava-se que a situação era de extrema gravidade ao ponto de se recorrer à iniciativa privada, mas o que se viu no Hospital de Campanha do Anhembi foi um imenso galpão inoperante”, afirmam.
Em vídeos divulgados em redes sociais, o deputado Márcio Nakashima (PDT) diz que encontrou leitos vazios, enquanto Adriana Borgo (Pros) afirma que “não tem doente porcaria nenhuma”.
Com capacidade para 1.800 pacientes, o hospital de campanha do Anhembi tem 397 pessoas internadas. Outros 3.700 pacientes já passaram por lá, com 2.800 curados, segundo a prefeitura.
De acordo com a gestão Bruno Covas, a ala “invadida” pelos deputados ainda não foi ativada, mas está pronta para receber novos pacientes em caso de necessidade.
Ala sem pacientes é necessária?
Para o infectologista Renato Grinbaum, conselheiro da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumatologia E Tisiologia) “os deputados deveriam dar graças a Deus por haver vagas no hospital de campanha”.
“É um sinal de que o isolamento social trouxe resultados e de que a prefeitura se preparou para o pico da pandemia, que ainda não chegou”, afirmou ao UOL. “Uma coisa que sempre se cobra das autoridades é planejamento. É mais do que razoável que as autoridades preparem o país para uma eventual piora da situação.”
Se o governo não se preparar e as pessoas estiverem morrendo, essas autoridades serão cobradas por isso
Renato Grinbaum, infectologista
Para o médico, “a politização da pandemia” impacta o trabalho dos médicos. “Tem paciente que chega exigindo cloroquina, por exemplo. É difícil para o profissional trabalhar e ser técnico nessas situações.”
A deputada Letícia Aguiar diz lamentar “o desperdício de dinheiro público” em uma estrutura temporária: “Um hospital enorme, sem demanda a um custo muito alto. Estamos questionando a necessidade disso. A prefeitura deveria recuar e desativar essas alas que estão vazias”.
Apontado como bolsonarista por parlamentares da situação, o PDO se define como “um grupo suprapartidário”, que não faz oposição ao governador João Doria (PSDB).
Até ontem, São Paulo tinha registrado 8.561 óbitos e 129.200 casos oficiais de covid-19. No Brasil, esse número era de 34.021 mortes e 614.941 casos.
Fonte: Uol
Créditos: Uol