Há 15 dias, uma bonita lancha de quase 20 metros de comprimento possivelmente vaga à deriva, sozinha, sem ninguém a bordo, em algum ponto da costa do Nordeste brasileiro.
E ninguém sabe onde ela está, se é que já não afundou ou está prestes a afundar.
“É uma sensação esquisita. Só sabemos que o mar levou a lancha embora e ninguém acha”, diz o empresário Paulo Fatuch, dono do barco, batizado Maria Bonita VI, e sócio de três pousadas na Ilha de Fernando de Noronha, onde a lancha fazia passeios regulares com os turistas da ilha.
E o vento levou…
O sumiço da lancha, que estava ancorada no porto de Fernando de Noronha ao lado de outros tantos barcos, foi detectado na manhã do dia 27 do mês passado, quando o mestre responsável pela embarcação, Francisco Melo, mais conhecido como “Patico”, chegou ao local e não encontrou a Maria Bonita na boia a qual ela estava amarrada desde que fizera seu último passeio, cinco dias antes.
“Ventou muito naquela noite e arrebentou o cabo da ancoragem, o que, às vezes, acontece”, diz o encarregado da lancha. “Mas o que não é comum é que ela não tenha sido encontrada em seguida, perto da ilha”.
Sem dormir direito
Naquele mesmo dia, a bordo de outro barco, Patico navegou cerca de 100 quilômetros a procura da lancha. Mas não a encontrou.
“O problema é que continuou ventando forte e isso deve ter empurrado a lancha para bem longe, se é que ela não virou e afundou”, pondera o marinheiro, que tem especial carinho pelo barco no qual trabalha há mais de oito anos.
“Desde que ela sumiu, não estou nem conseguindo dormir direito. Fico toda hora olhando para o celular, na esperança de surja alguma notícia do barco”, diz Patico, cuja habilitação náutica estava dentro da lancha, o que lhe dá a esperança de que, caso o barco seja encontrado, alguém faça contato.
Esperança é a correnteza
Mas a maior esperança, tanto do mestre quanto do dono da lancha, é que a Maria Bonita tenha sido levada por uma famosa corrente marinha que passa rente à ilha e vai dar no litoral do Ceará, a mais de 600 quilômetros de distância, o que já aconteceu antes com outros barcos.
Se isso aconteceu novamente, a expectativa é que a lancha esteja por chegar ao litoral cearense nos próximos dias, já que uma travessia desse tipo, à deriva, costuma levar cerca de 15 dias – mesmo período desde que a lancha desapareceu da ilha.
“Tomara que tenha sido isso, porque as outras duas hipóteses, roubo ou naufrágio, são bem piores”, analisa o dono do barco, que já entrou em contato com todas as colônias de pescadores do litoral cearense, pedindo que eles fiquem atentos.
Não tem seguro
Segundo ele, a lancha, que tem capacidade para 28 pessoas, três cabines, duas salas e uma cozinha, e é velha conhecida em Fernando de Noronha, onde costuma ser disputada pelos turistas para passeios em torno da ilha, não tem seguro, porque, como já era um barco antigo, o custo era proibitivo.
“Mas ela não vale muito, porque já tem quase 20 anos de uso”, consola-se o empresário.
Furto ou naufrágio?
O risco de a lancha ter afundado tem a ver com os fortes ventos que vêm soprando na região desde que ela desapareceu. Eles podem ter virado a lancha e a inundado.
Já a hipótese de furto tem a ver com a possibilidade de ela ter sido encontrada à deriva no mar e levada embora, porque, além de estar com bastante combustível no tanque, tinha até a chave no contato, como é hábito na ilha, onde os casos de furto de barcos são nulos.
“Se ela afundou ou foi roubada, fica praticamente impossível encontrá-la”, diz o proprietário do barco.
“Mas, se foi apenas levada pela correnteza, deve aparecer em alguma praia do Ceará nos próximos dias, especialmente na região de Aracati, onde já foram dar alguns barcos que desgarraram da ilha”, diz, esperançoso.
Risco de colisão
A Marinha, através da Capitania dos Portos de Pernambuco, foi acionada assim que ocorreu o desaparecimento do barco e emitiu um aviso aos navegantes da região, para que ajudem a encontrar a lancha, que também representa um perigo à navegação, já que supostamente está à deriva e pode ser atingida por outras embarcações durante à noite.
Dois casos curiosos
Barcos sem ninguém a bordo que são levados pelo mar e ficam à deriva é algo bem mais comum do que parece.
E, às vezes, levam meses ou anos para serem encontrados, quase sempre em locais bem distantes.
Como aconteceu com o velejador inglês Alex Thomson, que, em 2006, durante uma competição de volta ao mundo, precisou abandonar o seu barco no litoral da África, por conta de uma avaria mecânica, mas o reencontrou incríveis dez anos depois, encalhado na costa do Chile, a mais de 10 000 quilômetros de distância.
Outro caso ainda mais curioso foi o do japonês Ikio Yokohama, que durante o tsunami que atingiu a costa do Japão, em 2001, viu sua casa ser invadida pelo mar, que arrastou tudo o que encontrou pela frente – inclusive um container que ele usava como garagem para sua moto, no quintal.
Um ano depois, o tal container, ainda com a moto dentro, foi dar numa praia da costa do Canadá, do outro lado do Oceano Pacífico, em uma das mais singulares “viagens” que uma motocicleta já fez, sozinha e pelo mar – clique aqui para ler esta história, que rendeu até um lugar para a moto do japonês em um museu do Estados Unidos.
Já o marinheiro Patico sonha apenas em recuperar a sua lancha fujona.
Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba