Não ao racismo

Justiça impede que Fundação Palmares retire Marina Silva, Benedita da Silva e transformista da lista de personalidades negras

Decisão é mais um revés para o presidente Sergio Camargo

A Justiça Federal do Distrito Federal barrou a retirada dos nomes da deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), da ex-senadora Marina Silva (Rede) e do transformista João Francisco dos Santos, conhecido como Madame Satã, da lista de personalidades negras homenageadas pela Fundação Cultural Palmares (FCP). A decisão é mais um revés para o presidente Sergio Camargo. As informações são do UOL.

A exclusão, feita no ano passado, foi revertida em decisão liminar emitida pelo juiz Diego Câmara, da 17ª Vara Federal Cível (DF) na segunda-feira (15). Marina e Benedita ressaltaram a função da fundação na preservação da história e memória de ícones da população negra, mas sublinharam ser curioso que a representatividade tenha de ser garantida por meio de ações judiciais:

“Em uma democracia, a relevância de uma pessoa é medida pelo que ela representa para a sociedade. Portanto, estar no lugar de personalidade negra é uma honra. Porém, nos atuais tempos estranhos que estamos vivendo, cheios de arroubos autoritários, essa representatividade só está sendo respeitada por força de veredito da Justiça”, avaliou a ex-senadora Marina Silva.

Já Benedita criticou a atuação de Camargo à frente do órgão. Para ela, a instituição “criada para promover a história e a cultura do povo negro” teve “sua missão sequestrada pela pessoa que o governo racista colocou em sua direção”: “A exclusão dos nomes das personalidades negras da lista foi uma agressão vil e racista e, agora, com a sua legítima devolução, isso passa a representar um ato de justiça e de reconhecimento da nossa história, cultura e memória”.

Regras para homenagens da FCP

A ação popular foi movida pelos advogados Marivaldo Pereira e Ana Paula de Freitas, da Rede Liberdade, grupo de advogados que atuam em casos de violações de direitos e liberdades. Em sua decisão, o juiz Câmara aponta que a fundação promoveu a exclusão dos nomes sem “a observância do devido processo legal, e em aplicação retroativa da portaria nº 189, de 10 de novembro de 2020”. Camargo anunciou a retirada dos nomes, mas só depois editou o documento, que trata de diretrizes de publicação e seleção de biografias a figurarem no site da Fundação Palmares.

Com base nas novas regras, que estimulam apenas homenagens póstumas, o órgão excluiu em dezembro do ano passado 27 nomes, como os de Gilberto Gil, Milton Nascimento e Martinho da Vila. A medida gerou reação, com deputados federais e senadores se movimentando para derrubar a exclusão das personalidades.

Sergio Camargo recorreu às redes sociais para comentar: “Acho que há coisas mais importantes para a Câmara votar. Que relevância tem homenagear Madame Satã, Benedita da Silva e Marina Silva?”. Ele reclama do PDL (Projeto de Decreto Legislativo) 510/2020, que suspende os efeitos da portaria 189. Já aprovada no Senado, a medida aguarda apreciação da Câmara.

Perseguição política 

Para os advogados Marivaldo Pereira e Ana Paula de Freitas, a exclusão de nomes foi uma “evidente violação de direitos e um gesto de apagamento da memória de pessoas negras, algo contrário ao propósito de criação da Fundação Palmares, que surgiu justamente para ser um espaço de reconhecimento da história da população negra”.

Para eles, a decisão é um procedimento autoritário e de perseguição política. A ação pede a restituição apenas de Marina Silva, Benedita da Silva e João Francisco dos Santos porque eram os que haviam sido excluídos no momento em que o processo foi ajuizado. Os advogados dizem que agora solicitarão à Justiça que os demais nomes excluídos voltem à lista: “Estamos diante de um dos momentos mais trágicos de nossa história. Algo que jamais pensamos em vivenciar após a Constituição de 1988. Por isso a importância simbólica da decisão, que reverteu a tentativa de Sérgio Camargo de apagar nossa história. É necessário e fundamental resistir num momento como este”, disse Ana Paula de Freitas.

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba