Em depoimento à Polícia Federal, Jair Renan Bolsonaro afirmou que outras pessoas “usaram seu nome para ganhos pessoais”. O filho Zero Quatro do presidente Jair Bolsonaro é investigado por suposto tráfico de influência e nega ter atuado para abrir as portas do governo para empresários.
Ao longo de quatro horas de depoimento, Renan Bolsonaro contou que decidiu abrir um escritório em um camarote no estádio Mané Garrincha, em Brasília, para gravar vídeos que seriam divulgados nas redes sociais. Segundo o filho do presidente, o seu personal trainer Allan Lucena seria responsável pela captação de patrocinadores. “Quem resolvia tudo era Allan”, afirmou. Procurado, o educador físico não quis comentar.
Em setembro de 2020, Jair Renan viajou para o Espírito Santo para se reunir com empresários interessados em fazer negócios com o governo federal. O encontro tinha como objetivo apresentar ao filho do presidente um protótipo para construção de casas populares de pedra de granito. “O seu pai (Jair Bolsonaro), que está à frente desse governo, vai certamente aprovar e vai agradecer por essa iniciativa”, discursou um dos parceiros do projeto em um vídeo divulgado nas redes sociais.
Dois meses depois, em novembro de 2020, um desses empresários presentes no encontro no Espírito Santo conseguiu uma agenda com o então ministro Rogério Marinho, do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Segundo nota divulgada pela pasta, a audiência foi solicitada “pelo senhor Joel Fonseca, assessor especial da Presidência da República”.
A reunião contou com a presença de Jair Renan Bolsonaro, da arquiteta Tânia Fernandes e de Allan Lucena. Questionado a respeito desse evento, o filho do presidente disse à PF que compareceu a convite dos participantes e que “entrou mudo e saiu calado”.
A PF teve acesso a mensagens nas quais Allan diz que Jair Renan seria “o padrinho” do projeto de habitações populares de pedra de granito. Ao ser confrontado com os diálogos, o filho do presidente disse que “nenhum empresário pediu intermediação com o governo federal”. Procurados, Joel e Tânia não quiseram se manifestar.
Uma empresa ligada ao empresário capixaba que conseguiu uma agenda no MDR doou um carro elétrico, no valor de R$ 90 mil, para um projeto social de Allan de Lucena. Questionado pela PF sobre esse presente, Jair Renan afirmou que “não sabe dizer” como ocorreu a entrega do automóvel e disse que o seu personal trainer foi o responsável pelas tratativas. Em seu depoimento, Allan confirmou que foi ele quem recebeu o veículo, mas garante que o devolveu após o caso vir à tona.
A PF investiga se Jair Renan intercedeu junto ao governo federal em favor dos seus patrocinadores. O filho do presidente nega ter praticado qualquer irregularidade e afirma que o seu plano de negócio envolvia divulgar os nomes de seus parceiros comerciais em suas redes sociais. Questionado sobre qual seria a contraprestação dessa publicidade, o Zero Quatro respondeu: “Seria a ‘permuta’. A ‘permuta’ se trata de visibilidade nas redes sociais”.
Bolsa móveis e bolsa reforma
Mensagens obtidas pela Polícia Federal mostram que empresários foram procurados para pagar obras de reforma na sala comercial de Jair Renan. Nessas conversas, conforme revelado pelo GLOBO, a arquiteta responsável pela obra chegou a ironizar a busca por patrocinadores e disse que pediriam “bolsa móveis e bolsa reforma”.
Os investigadores tiveram acesso a diálogos do WhatsApp entre a arquiteta Tânia Fernandes e Allan Lucena. Em uma conversa do dia 22 de maio de 2020, Allan disse a Tânia: “Estamos indo já em um patrocinador”. Em seguida, ela respondeu: “Oba, preciso de todos os patrocinadores. Veja as cotas para patrocinar a execução”.
Na troca de mensagens, o personal trainer disse que, quando o orçamento da reforma estivesse finalizado, seria mais fácil montar as cotas de patrocínio para oferecer aos empresários. “Cota eletrônicos. Cota móveis. Cota reforma. Kkkkkk”, escreveu ele. A arquiteta, então, respondeu: “Kkkkk vamos pedir bolsa móveis, bolsa reforma, bolsa família”. Em tom de deboche, Allan afirmou que esses pedidos poderiam vazar para a imprensa e gerar manchetes a respeito do assunto: “Já já sai na mídia. Filho de presidente pede Bolsa Móveis”.
Uma das empresas apontadas como patrocinadoras do projeto de Jair Renan recebeu, desde 2019, R$ 25,4 milhões em contratos para o fornecimento de móveis como poltronas, cadeiras e mesas de escritório ao governo federal.
A PF ainda obteve indícios de que os responsáveis pela reforma buscaram ocultar o nome do filho do presidente no negócio e negociaram a diminuição no valor da reforma caso não fosse emitida uma nota fiscal, sem recolhimento de impostos.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba