Após a Polícia Federal (PF) confirmar a obstrução nas investigações sobre as execuções de Marielle Franco e Anderson Gomes, com a constatação do falso testemunho do policial militar Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, policiais federais, civis e promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) adotaram uma estratégia em comum para tentar chegar ao mandante dos assassinatos: o desmembramento do inquérito original e a revisão de antigos inquéritos onde suspeitos de envolvimento no caso Marielle são citados como responsáveis por outros crimes.
Segundo fontes ouvidas pelo UOL, o objetivo seria conseguir delações a partir de prisões por crimes sem relação direta com as mortes de Marielle e Anderson.
A pressão por delações já havia sido denunciada por advogados que defenderam ou ainda defendem na Justiça presos como Ferreirinha e Orlando Curicica — apontado no falso testemunho do PM como mandante do crime.
Na época em que foi transferido para uma penitenciária federal de segurança máxima, o então defensor de Orlando, o advogado Renato Darlan, afirmou que a mudança era uma maneira pressionar o ex-policial a assumir o crime e responsabilizar o vereador Marcello Sicilliano (PHS) como o mandante. Ambos sempre negaram envolvimento com as mortes.
A estratégia já teria resultado em ações pontuais, em especial, na Operação Entourage, realizada em 31 de maio. Na ocasião, a Justiça expediu 21 mandados de prisão e 62 de busca e apreensão. Oficialmente, PF e MP se negam a comentar os desdobramentos da investigação.
Nos bastidores, entretanto, a adoção da estratégia é confirmada por advogados que defendem ou defenderam suspeitos de participação nas execuções de Marielle e Anderson.
Na Operação Entourage foram presos o PM Rodrigo Jorge Ferreira, o Ferreirinha, que admitiu em depoimento à PF ter mentido ao ser ouvido como testemunha do caso, quando acusou o ex-policial Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica, como um dos envolvidos no planejamento da execução de Marielle. Além dele, foram detidos os policiais militares Ricardo Bezerra dos Santos, cabo lotado no 3º BPM (Méier) e apontado como chefe da milícia que atua no Terreirão, comunidade no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio. Leandro Marques da Silva, o Mingau, cabo do 14º BPM (Bangu) citado como 02 da organização chefiada por Curicica, o soldado PM Renato Marques Machado,
Foram presos ainda Eduardo Almeida Nunes de Siqueira e Rafael Carvalho Guimarães, citados em inquéritos por envolvimento em roubo e clonagem de placas de carros usados em crimes. Há suspeita de que os dois teriam sido os responsáveis pela clonagem do Cobalt usado na tocaia contra a vereadora.
Também foram presos Fábio Conceição da Silva e Elton Pereira da Costa, o Peppa, que atuaria na distribuição de cigarros contrabandeados nas áreas sob influência da milícia de Orlando Curicica.
Henrique Telles, advogado de Élcio Vieira de Queiroz acusado de dirigir o carro de onde partiram os tiros que mataram Marielle e Anderson, nega estudar um eventual acordo de delação. “Nossa linha de defesa é a de inocência absoluta de nosso cliente”.
Fernando Santana, advogado de Ronnie Lessa, voltou a dizer que seu cliente nega envolvimento no crime.
Ouvido ontem em videoconferência no caso das peças de 117 fuzis encontrados na casa de Alexandre Motta de Souza, o sargento reformado voltou a confirmar que as caixas com as peças eram dele e que seu amigo não tinha conhecimento do conteúdo das embalagens. Lessa não se referiu ao material como fuzis, mas como partes de armas.
Fonte: Uol
Créditos: Uol