Pesquisas de opinião são instrumentos importantíssimos para medirmos a opinião média da população. Apesar de muito atacadas, principalmente quando nos contrai, elas nos ajudam mais do que atrapalham. No entanto é importante conhecer suas perguntas e alternativas de respostas para evitar manipulações, saber quais são os seus limites e o que, na verdade, essa pesquisa mede.
No caso da pesquisa CNI/Ibope “Retratos da Sociedade Brasileira n. 48: percepção dos brasileiros sobre o sistema Previdenciário” algumas considerações são importantes, pois ela não pode ser utilizada, de forma alguma, para dizer que “59% dos brasileiros consideram reforma da Previdência necessária, diz pesquisa CNI/Ibope” ou que “Seis em cada dez brasileiros concordam com a reforma da Previdência, diz pesquisa Ibope/CNI“, como fizeram o Estadão e O Globo, respectivamente.
Vejamos o que está dentro desta pesquisa
A primeira pergunta feita pelos aplicadores foi: “De forma geral, pensando no que o(a) sr(a) sabe ou ouviu falar até o momento, o(a) sr(a) concorda ou discorda que é preciso reformar a previdência?”. Esta questão que foi utilizada pelos jornais para estampar o apoio da população à reforma da Previdência. Mas leia de novo e pense, eles estão perguntando se alguém é a favor de “uma reforma” ou “da reforma proposta pelo governo”?
Nos últimos anos já rodei universidades, escolas, sindicatos e praças para falar o porquê de eu ser contra a Reforma da Previdência. Mas se me fizessem esta pergunta eu teria que responder “sim”, afinal de contas eu acho um absurdo o sistema previdenciário militar, que não paga contribuição para as aposentadorias, e de políticos, que são os únicos a poderem receber a aposentadoria sem nenhum tipo de teto, como qualquer outro trabalhador comum.
Vejam, aqui o pesquisador quer saber se o respondente é a favor, ou não, de uma reforma, e não desta reforma. O resultado foi: 59% disse que concorda, 36% discorda, 5% não soube responder e 1% disse que nem concorda e nem discorda.
Só na segunda pergunta que o pesquisador questiona: “O(A) sr(a) está ou não está sabendo que o atual governo apresentou, recentemente, uma proposta sobre a Reforma da Previdência? (CASO SIM) E o quanto o sr(a) conhece o conteúdo dessa proposta?”. Nesta, 61% dos respondentes afirmou, ou que “tem amplo conhecimento”, ou que “conhece os principais pontos”. O resto diz não conhecer o conteúdo desta reforma.
Apenas na terceira pergunta, reservada aos que responderam conhecer alguma coisa da proposta foi questionado se você é contra ou a favor DESTA reforma: “O(A) sr(a) é a favor ou contra à proposta de Reforma da Previdência apresentada pelo governo?”.
Aí sim a única pergunta que pode ser, honestamente, utilizada para dizer se alguém apoia ou não a Reforma da Previdência do governo Bolsonaro.
Sobre esta pergunta a maioria das pessoas disse ser contra esta reforma. Enquanto 51% das pessoas disse ser contra a reforma, apenas 39% disse que apoiava esta reforma. Ou seja, se algum jornal ou político quiser usar honestamente esta pesquisa para falar de apoio à esta reforma do Bolsonaro, a única coisa que poderia responder é que a maioria das pessoas é contra esta reforma.
Você pode questionar: “Ah, o povo sabe de qual reforma o rapaz com o tablet do Ibope na mão está perguntando!”.
Vejamos outro ponto que podemos utilizar para refletir
A espinha dorsal da Reforma da Previdência, desde Temer, é a idade mínima (elevada) e, consequentemente, fim da aposentadoria por tempo de contribuição, sem isto não há sentido na reforma. Destes dois pontos a única coisa que a pesquisa do Ibope trata é sobre idade mínima. Vejamos. 50% disse que concorda que “É necessário estabelecer uma idade mínima com as pessoas vivendo até idades cada vez mais avançadas”. No entanto quando vamos para qual idade seria esta, apenas 19% concorda que a idade seja de 61 anos pra cima (a proposta do Bolsonaro é de idade mínima de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens).
Bem, apesar de as pesquisas de opinião, tanto esta quanto a do Datafolha, não mostrarem que a população apoia esta reforma, o percentual de pessoas que apoia cresce paulatinamente. Isto é fruto de uma verdadeira guerrilha ideológica por parte do governo, empresários e mídia para dizer à você, todos os dias sem descanso, que a reforma é urgente e necessária.
Que, assim como fizeram com a reforma trabalhista, quando diziam que o desemprego só cairia se fizéssemos a reforma (e, pasmem, era mentira! O desemprego continua tão elevado quanto), a economia só voltará a crescer quando aprovarem a reforma. São chantagens e mentiras todos os dias. Ninguém fica imune a isto.
Além disto, diferentemente de 2016/2017, quando ainda se havia algum espaço na mídia para pessoas que eram contra a reforma, hoje a estratégia dos jornais mudou, ninguém (absolutamente ninguém) que diz que é contra esta reforma tem um segundo ou umas míseras linhas nos jornais para expôr o porquê ser contra este projeto.
Fonte: Pragmatismo Político
Créditos: Pragmatismo Político