Cinco pessoas morreram de covid-19 nesta semana no Hospital Conceição, em Porto Alegre. Todas elas eram pacientes e estavam internadas no local quando foram contaminadas. O grupo faz parte de um problema maior, que é o surto de covid dentro dos hospitais da capital gaúcha. Somente no Conceição, 23 funcionários e 66 pacientes de diferentes alas foram diagnosticados com a doença entre o final de semana passada e esta semana. Problemas semelhantes aconteceram nos hospitais Clínicas e Vila Nova.
De acordo com o diretor-técnico do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Francisco Paz, a alta taxa de transmissão foi detectada na terça-feira passada, 3 de agosto, e pegou a equipe médica de surpresa. “Havia um ar de alívio no hospital no final da semana passada, estávamos trabalhando com uma perspectiva de momentos mais tranquilos”.
Na ocasião, a direção do hospital discutia a retomada das atividades normais, como cirurgias eletivas e reabertura completa da vacinação. Porém, oito pessoas que estavam em uma mesma enfermaria foram detectadas com covid naquele dia, número que cresceu exponencialmente pouco mais de uma semana depois, passando para 93 pessoas infectadas, entre pacientes e funcionários.
Paz acredita que essa velocidade de contaminação é uma consequência direta da variante Delta. Embora não tenha a comprovação oficial por parte da Fiocruz, único laboratório que analisa a presença da variante, o diretor-técnico relata que há poucos casos registrados da variante Gama, ou P1, responsável por outros surtos no início deste ano.
A presença da variante coloca em alerta também as autoridades. A diretora adjunta da vigilância em saúde de Porto Alegre, Fernanda Fernandes, avaliou os sinais preliminares e confirma que a tendência é que essa contaminação seja uma consequência da variante Delta. “Nos preocupou a questão das análises preliminares que sugerem uma possível variante delta que possa estar causando esses surtos.”
De acordo com a diretoria do Conceição, todas as mortes registradas no hospital são de pacientes idosos e com comorbidades graves, que já haviam recebido as duas doses da vacina. “Estamos aqui aconselhando as pessoas que mesmo vacinadas mantenham todas as medidas de prevenção”, alerta Paz ao lembrar que a vacina não impede a transmissão do vírus, mas faz ele perder força nos contaminados.
Na avaliação de Paz, este comportamento do vírus deve ser o mais natural nos próximos tempos. “O surto pandêmico geral está diminuindo e estamos vivendo um novo surto localizado no hospital, como entendemos que deve ser daqui para frente o comportamento da doença”. O médico acredita que as contaminações devem ficar restritas a ambientes institucionais, onde há circulação de pessoas trabalhando.
Foi o que aconteceu no Clínicas, onde o surto foi registrado no setor administrativo, com a contaminação de oito funcionários de uma só vez. Chefe do Serviço de Medicina Ocupacional do Clínicas, Fábio Dantas acredita que um certo descuido por parte da população em geral, e de alguns funcionários, pode ter tido influência. “Essas coisas acontecem para nos lembrar que a gente tem medidas muito simples e muito baratas e isso não mudou e não vai mudar em relação à covid”, afirma, também reforçando a necessidade de manter cuidados como uso de máscara e distanciamento.
No caso do Clínicas, todos os contaminados foram vacinados, mas nenhum teve evolução grave da doença, tendo apenas sintomas leves. “A gente está vendo o vírus seguir o curso natural da sua história evolutiva. A vacina impede que as pessoas evoluam para formas graves e conseguem se recuperar com medidas de tratamento simples”, afirma Dantas indo ao encontro do que diz o diretor-técnico do Conceição.
Dantas chama atenção para um fenômeno causado pela vacinação, no qual os imunizados acabam reduzindo os cuidados com as medidas de proteção ao coronavírus. “Tem uma contradição, porque as pessoas ficam seguras por estarem vacinadas e acabam relaxando nas medidas de proteção. É justamente o contrário, pessoas vacinadas têm que redobrar a vigilância porque às vezes elas adoecem sem manifestar sintomas por estarem vacinadas, então elas vão acabar transmitindo o vírus.”
Medidas de contenção
Os surtos em Porto Alegre acontecem no mesmo momento em que o governo do Estado e do município discutem a flexibilização maior das atividades sociais e econômicas. De acordo com Fernanda Fernandes, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) vai debater nos próximos dias se Porto Alegre deve tomar medidas mais duras e restritivas para evitar a propagação do vírus.
Por ora, para evitar que os surtos saíam dos hospitais e cheguem às ruas, as medidas adotadas foram a restrição de visitas aos internados, reforço de EPIs às equipes que atuam dentro das instituições de saúde, afastamento dos funcionários suspeitos de covid e testagem de rastreio, para detectar os casos ainda no início.
A última vítima, confirmada nesta quinta-feira, é um homem de 77 anos. Morador de Viamão, cidade vizinha de Porto Alegre, ele foi internado em julho com sintomas de tuberculose. O primeiro exame para covid foi aplicado no dia 21 de julho, e o resultado foi negativo, mas no dia 06 de agosto o exame foi refeito com resultado positivo. Mesmo vacinado com as duas doses da Coronavac, ele não resistiu, já que além do coronavírus também teve uma doença pulmonar grave.
Fonte: Terra
Créditos: Polêmica Paraíba