As eleições municipais de 2024 na Paraíba fortaleceram líderes de partidos do centrão no Congresso Nacional, mas ainda não deixaram nítido o cenário eleitoral para o pleito de 2026 no estado.
Entre as principais incertezas, estão os movimentos do governador João Azevêdo (PSB) e do deputado federal Hugo Motta (Republicanos), candidato à presidência da Câmara dos Deputados.
Legendas da base do governador elegeram 157 prefeitos, incluindo 8 dos que comandarão as 10 maiores cidades. Já as siglas de oposição conseguiram a vitória em 66 municípios.
Azevêdo está em seu segundo mandato. A dúvida se ele irá disputar uma das duas vagas para o Senado daqui a dois anos embaralha as previsões.
Se decidir concorrer, ele terá de renunciar em abril de 2026 e transmitir o cargo para o vice, Lucas Ribeiro (PP), que poderia tentar a reeleição como governador seis meses depois.
Lucas é filho da senadora Daniella Ribeiro (PSD) e sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP).
Uma eventual candidatura do sobrinho ao governo terá que ser discutida com a base aliada, afirma Aguinaldo.
“Vamos conversar com a base e fazer uma avaliação sobre os caminhos de 2026. Isso passa naturalmente por uma decisão do governador sobre sua posição de disputa no cenário de 2026”, diz.
Outro nome cotado para ter o apoio do governador é o do secretário estadual de Infraestrutura e Recursos Hídricos, Deusdete Queiroga. Neste cenário, Azevêdo cumpriria o mandato até o fim e, no cargo, apoiaria o seu atual auxiliar para a sucessão.
Porém, a aposta entre partidos da base do governo é que Azevêdo vai optar pela disputa do Senado.
Políticos próximos rememoram, nos bastidores, que ele é pragmático nas escolhas e não quer perder protagonismo se ficar sem mandato, citando o padrinho político dele, o ex-governador Ricardo Coutinho (PT). Ambos romperam em 2019, um ano após Coutinho apoiar Azevêdo.
Além disso, o governador é tido como favorito para uma disputa do Senado, já que teria o apoio da maioria dos prefeitos. Como senador, também poderia ajudar um eventual novo governo Lula (PT).
Nas eleições municipais, o PSB conquistou 69 prefeituras na Paraíba, que tem 223 municípios ao todo. Em segundo lugar, ficou o Republicanos, comandado no estado pelo deputado federal Hugo Motta, que disputará a eleição à presidência da Câmara com o apoio de partidos que somam 75% das vagas da Casa.
A legenda de Hugo elegeu 50 prefeitos no estado, sobretudo no sertão paraibano, onde fica o principal reduto político do deputado. O município de Patos (a 300 km de João Pessoa) é governado pelo seu pai, o prefeito Nabor Wanderley (Republicanos).
Antes de ser lançado candidato à sucessão de Arthur Lira (PP-AL), Hugo era tido como nome certo na chapa governista para o Senado em 2026 na Paraíba.
Agora, aliados dele dizem que ele poderá abrir mão da disputa em prol de um novo mandato de deputado federal. Se reeleito, ele poderá se candidatar outra vez à presidência da Câmara em 2027.
Nesse cenário, o Republicanos poderá indicar outro filiado para disputar o Senado. Um dos cotados é o presidente da Assembleia Legislativa, Adriano Galdino.
A senadora Daniella Ribeiro, mãe do vice-governador, pode abrir mão da reeleição caso seu filho seja o candidato a governador. O grupo político dos Ribeiro comanda na Paraíba o PSD e o PP, partido do prefeito reeleito de João Pessoa, Cícero Lucena. No total, as duas legendas elegeram, respectivamente, 11 e 20 gestores municipais.
Na oposição, deve haver uma chapa do grupo político formado por União Brasil, MDB e PSDB —as duas primeiras siglas elegeram 23 prefeitos cada em 2024, e os tucanos, nove.
Os favoritos desse campo político para a candidatura ao governo são o ex-deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB) e o senador Efraim Filho (União Brasil).
Cunha Lima foi candidato em 2022 e perdeu no segundo turno para Azevêdo em disputa acirrada. O tucano alcançou 47,49% dos votos válidos e venceu na capital e em outras cidades da região metropolitana de João Pessoa.
Uma das vitórias da oposição em 2024 foi em Campina Grande, segunda maior cidade da Paraíba, com a reeleição de Bruno Cunha Lima (União Brasil), primo de Pedro.
Outra possibilidade para a próxima eleição é que Efraim seja o candidato ao governo, e Cunha Lima dispute o Senado.
Um nome dado como certo na disputa é do senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB), que vai tentar a reeleição. O emedebista é da base do governo Lula e espera ter apoio do presidente.
Cunha Lima defende que o nome do cabeça de chapa para o governo do estado seja escolhido já em 2025.
“Acredito que é mais estratégico ter uma antecedência, porque fez falta em 2022. Defendo que a gente não cometa o mesmo erro. Consolidando um nome, todo o campo da oposição vai trabalhar por esse nome com um pouco de antecedência”, diz.
Outro partido de oposição é o PL, que teve 11 prefeitos eleitos. A legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro deverá ter chapa própria.
O ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga e o deputado federal Cabo Gilberto são cotados para integrar a chapa, além do pastor Sérgio Queiroz (Novo). Até o final do próximo ano, o grupo deve definir quem vai se candidatar em qual posição. A prioridade do PL no estado é a eleição para o Senado.
A agremiação bolsonarista não cogita uma aliança inicial com o grupo formado por União Brasil, MDB e PSDB, já que o MDB de Veneziano é aliado de Lula. Uma eventual união no segundo turno, no entanto, não é descartada por ora.
Rachado, o PT não tem indicativo de posicionamento para 2026. O único consenso é que o partido vai apoiar o que for decidido pela direção nacional, conforme a estratégia de reeleição de Lula.
Um apoio da sigla petista à candidatura apoiada pelo governador João Azevêdo não está descartado, ao menos como formalidade. Na prática, a chance de unidade interna é remota, já que o grupo de Ricardo Coutinho não estar no palanque do PSB.
UOL