O protocolo frio do TSE obrigou Fernando Haddad a estrear como o presidenciável de fato do PT. O ex-prefeito larga para um desafio em duas etapas: primeiro, convencer o eleitorado petista de que ele é Lula; depois, persuadir o restante do país de que não é tão Lula assim.
Haddad tem 52 dias para colar sua imagem à do ex-presidente, conquistar o eleitorado cativo do PT e chegar ao segundo turno. Vai viajar pelo Brasil (a começar pelo Nordeste) para que os apoiadores de Lula reconheçam nele a expressão de seu líder.
Aí estão os nichos com maior potencial de adesão a Haddad. Um fluxo de parte dos 30% de votos de Lulainflaria o ex-prefeito de 1% para dois dígitos. Com alta abstenção e quadro pulverizado, um patamar de 15% a 20% seria suficiente para levá-lo ao segundo turno.
Nesta passagem, Haddad se transmutaria. O ex-prefeito é tratado como camaleão: embora defenda teses alinhadas ao PT, seu perfil intelectual e suas raízes na classe média paulistana permitem que ele coma fora de territórios vermelhos.
Quando foi lançado à Prefeitura de São Paulo em 2012, brincava-se no partido que ele tinha boas chances porque “parecia tucano”. Essa característica deve ajudar em uma disputa que se dará no auge da polarização entre petismo e antipetismo.
Ainda que a identidade lulista seja útil no primeiro turno, uma figura mais light seria o caminho no segundo —afinal, 51% dos eleitores dizem que não votariam em um candidato apoiado por Lula de jeito nenhum.
Se o PT chegar a um embate direto com Jair Bolsonaro (PSL) ou Geraldo Alckmin (PSDB), um Haddad “nem tão petista” poderia reduzir resistências no eleitorado que não quiser o militar reformado ou o tucano.
Em 2016, Marcelo Crivella se elegeu prefeito do Rio porque foi o menos reprovado. O bispo licenciado da Igreja Universal chegou ao segundo turno com rejeição em alta. Mesmo assim, recebeu os votos de quem torceu o nariz quando Marcelo Freixo (PSOL) decidiu trombetear suas convicções no campo da esquerda.
Fonte: Folha
Créditos: Folha