O grupo “Mulheres Unidas contra Bolsonaro” no Facebook, que ganhou ampla repercussão nas últimas duas semanas por ter reunido milhares contra o candidato do PSL, é alvo de uma escalada de ataques cibernéticos, que vão desde a mudança do nome da mobilização, trocado para um de teor a favor militar reformado de ultradireita, à ameaça direta às moderadoras. Na madrugada de domingo, o grupo, que conta com um milhão de participantes e solicitações para participar e convites que alcançam 2 milhões de pessoas, estava fora do ar. “O grupo foi temporariamente removido após detectarmos atividade suspeita. Estamos trabalhando para esclarecer o que aconteceu e restaurar o grupo às administradoras”, informou o Facebook. Enquanto isso, a campanha de Jair Bolsonaro no Twitter comemorava a mobilização de mulheres favoráveis a ele.
Desde a sexta-feira já havia sinais da ofensiva contra a mobilização. Neste dia, a administradora M.M. foi a principal afetada, e teve suas contas no Facebook e no WhatsApp invadidas. De acordo com as organizadoras, os ataques começaram por volta das 14h na sexta. Antes disso, moderadoras e administradoras haviam recebido ameaças em suas contas no WhatsApp. Os invasores exigiram que o grupo fosse extinto até às 24h de sexta-feira e tentaram intimidar as responsáveis pelo grupo ameaçando divulgar seus dados pessoais como como CPF, RG, Título de eleitor, nome da mãe, entre outros dados extremamente sensíveis.
Além disso, os responsáveis fizeram diversas postagens no grupo com teor ofensivo contra as participantes como as mensagens “esquerdistas de merda” e “Anonymous não quer esquerdista! Bando de mulher atoa q ao tem oq que fazer” (sic). A imagem de capa do grupo também foi alterada com as assinaturas ‘Eduardo Shinok’ e ‘Felipe Shinok’, supostos autores da invasão. Em seguida, um perfil alterou o nome do grupo para ‘Mulheres COM Bolsonaro’ e iniciou-se uma disputa pelo nome do grupo que criou confusão entre as participantes. Algumas pessoas passaram a recomendar a saída do grupo, enquanto outras pediam calma e alertavam sobre o ataque.
Os ataques acontecem em um momento em que a rejeição do eleitorado feminino ao candidato Jair Bolsonaro (PSL) tenta passar de uma mobilização massiva no Facebook para um ato nas ruas. O evento “Mulheres contra Bolsonaro”, agendado para 29 de setembro no Largo da Batata, em São Paulo, já conta com 53 mil confirmações e outras 187.000 pessoas interessadas. Há outros eventos similares agendados para o mesmo dia em diferentes cidades pelo país. Uma edição que convoca participantes a se reunirem na Redenção, em Porto Alegre (RS) conta com 12 mil confirmações e 29 mil pessoas interessadas. No Rio de Janeiro, a convocatória para a Cinelândia conta com 26 mil confirmações e 58 mil pessoas interessadas. As manifestações também foram convocadas em diversas capitais como Florianópolis (SC), Belo Horizonte (MG) Fortaleza (CE), Belém (PA), Natal (RN), Recife (PE).
Na última semana, os apoiadores do militar empenharam esforços para tentar conter a onda, mas fracassaram em dar uma resposta feminina à altura. Em resposta ao grupo “Mulheres unidas contra Bolsonaro”, os apoiadores do candidato do PSL criaram diversos grupos na tentativa de reunir as apoiadoras do ex-capitão do Exército. O principal deles é o grupo “Mulheres Com Bolsonaro #17 (OFICIAL)”, que já conta com 403.945 perfis aprovados pela moderação, pouco mais de um terço do volume de perfis engajados contra o candidato. A rede de moderação do grupo é composta por 85 moderadoras e 12 administradoras.
Outra tentativa foi o grupo “Mulheres unidas A FAVOR de Bolsonaro” reúne 48.346 membros aprovados e demanda dos participantes que curtam a página “Bolsonaro Heroi Nacional”. A contramobilização a favor do militar reformado também conta com a página “Mulheres Unidas A FAVOR do Bolsonaro”, que desde que foi criada, em 11 de setembro, recebeu apenas 47.576 curtidas. Em uma mensagem fixada no topo da página, os moderadores dão instruções às novas seguidoras pedindo que divulguem a página em comentários favoráveis ao candidato em páginas de jornais e grupos do Facebook: “Meninas, coloquem o link da página em todos os comentários femininos a favor do Bolsonaro. Pode ser em páginas de jornais ou grupos. VAMOS CRESCER” (sic). A postagem também sugere um modelo de mensagem que pode ser copiado pelas mulheres que desejarem participar da campanha.
Apesar do resultado limitado, que não se converteu em um número expressivo de mulheres engajadas, o esforço dos apoiadores de Bolsonaro foi significativo. Uma articulação de diversas páginas de apoio mais antigas e com maior volume de seguidores se dedicou a compartilhar intensamente os conteúdos publicados na “Mulheres Unidas A FAVOR do Bolsonaro”. A estratégia tem como objetivo ampliar o alcance das mensagens publicadas no novo canal dedicado às mulheres por meio do compartilhamentos de suas postagens. O aumento instantâneo do volume de interações faz com que os conteúdos da página sejam percebidos pelo algoritmo do Facebook como mais relevantes, de modo que as postagens passam a ser mostradas a um número cada vez maior de pessoas. A página “Apoiamos a Operação Lava Jato- Juiz Sérgio Moro” foi a principal articuladora da campanha de divulgação deste canal. Criada em 10 de março de 2016, a página conta com 1.081.928 curtidas e compartilhou 17 postagens da página “Mulheres unidas A FAVOR de Bolsonaro” entre os dias 10 e 12 de setembro no Facebook.
A página “Bolsonaro – Eu Apoio”, criada em 23 de fevereiro de 2018, também foi central para esta articulação. Ela compartilhou 15 postagens da página dedicada às mulheres para que fossem exibidas para uma parcelas de seus 469.245 fãs. Apesar de ser significativamente menor do que o canal dedicado a Sergio Moro, a página luta para crescer. A página contratou o serviço de anúncios pagos do Facebook para turbinar seu número de seguidores. O anúncio da página, que contém um vídeo do lutador de UFC Weslley Alves declarando apoio à Bolsonaro, não está devidamente identificado como propaganda, apesar de a legislação eleitoral proibir expressamente que terceiros façam anúncios de campanha em suas páginas de Facebook. No último mês, o TSE apresentou uma ordem judicial ao Facebook para retirar do ar conteúdos turbinados a favor de Bolsonaro que foram veiculados pela página do empresário Luciano Hang, o dono da rede de lojas de departamento Havan.
Fonte: El País
Créditos: Fernanda Becker