Até onde vai a liberdade de opinião de um jornalista? Para o Grupo Globo, ela deve ser limitada até no WhatsApp. De acordo com a coluna de Daniel Castro no portal Notícias da TV, a empresa lançará a nova edição do Princípios Editoriais do Grupo Globo nos próximos dias. O documento trará novas regras que regulam o comportamento dos profissionais em rede social. A partir da publicação, os jornalistas estarão expressamente proibidos de emitir opinião em Facebook, Twitter, Instagram, LinkedIn e até em conversas particulares no ‘zap’.
Alguns jornalistas do grupo consideram as novas regras um “terror”
O atual manual de Princípios Editoriais da emissora já assume que jornalistas não podem se engajar em campanhas políticas. Mas, em 2018, ano de Copa de Mundo e Eleições Presidenciais, a limitação será maior. Para o Grupo Globo, as novas regras são um evolução normal: “É natural que as diretrizes da empresa sejam atualizadas com diretrizes mais detalhadas sobre o uso de redes sociais, na linha do que já fizeram veículos de prestígio como The New York Times e BBC”, emitiu o departamento de Comunicação em nota à coluna.
No entanto, para alguns jornalistas do grupo já comunicados sobre as mudanças nos Princípios Editoriais, as novas regras são um “terror” e os impedirão até de conversar normalmente com amigos. “Mesmo quando você escreve reservadamente para alguém, não deve emitir opinião, porque, se isso vazar, vai se encaixar nas normas de comportamento em redes sociais”, comentou um chefe de São Paulo.
Opiniões em blogs particulares mantidos por jornalistas da emissora também estão proibidas. “Sua opinião vai comprometer a empresa? Você vai se arrepender depois? Então não comente, não publique, não faça nada”, disse um chefe aos empregados semana passada.
Outra proibição da nova edição do documento diz respeito ao comportamento dos jornalistas em relação à marcas comerciais. Não se pode fazer “check-in” dos restaurantes visitados em rede social, nem curtir publicação de alguma marca de produto que goste.
Tal assunto veio à tona após o casamento de César Tralli com Ticiane Pinheiro. No dia seguinte após a cerimônia, segundo o jornalista Daniel Castro, o Diretor Geral de Jornalismo e Esportes da Rede Globo, Ali Kamel, emitiu um comunicado:
Opiniões em blogs particulares mantidos por jornalistas da emissora também estão proibidas.
“De forma certamente não proposital, alguns jornalistas da Globo, em suas redes sociais, têm publicado fotos suas com a marca aparente de algum produto, roupa, restaurante, hotel e afins. Ou, então, permitindo que o espaço para ‘localização’ da foto remeta a alguma marca. Isso leva o público a crer que possa estar diante de publicidade, mesmo que subliminar. Marcas, evidentemente, devem ser evitadas. E os nomes de restaurantes e lojas, no espaço dedicado à localização (nas redes sociais), devem ser substituídos pelo nome da cidade em que a foto foi tirada.”
“Lei Chico Pinheiro”
Nos bastidores, a mudança no manual do Grupo Globo foi apelidada de “Lei Chico Pinheiro”, devido ao caso com o jornalista durante prisão do ex-presidente Lula. Na ocasião, áudios em que o profissional comenta e defende o ex-presidente vazaram e viralizaram na internet. Relembre:
Logo após os comentários de Chico Pinheiro caírem em rede social, Ali Kamel enviou um e-mail aos jornalistas da emissora onde repreende as opiniões públicas dos profissionais na mídia. Leia a íntegra do texto enviado em 9 de abril de 2018:
“Em e-mail no ano passado, eu alertei para o uso de redes sociais. Na ocasião, lembrei que jornalistas, de forma não proposital, publicavam fotos em que marcas apareciam. Eu alertei então para aquilo que todos nós sabemos: jornalistas não fazem publicidade e que todo cuidado é pouco para evitar que nossos espectadores equivocadamente pensem que se descumpre esse preceito.
Hoje, volto a falar sobre o uso de redes sociais. O maior patrimônio do jornalista é a isenção. Na vida privada, como cidadão, pode-se acreditar em qualquer tese, pode-se ter preferências partidárias, pode-se aderir a qualquer ideologia. Mas tudo isso deve ser posto de lado no trabalho jornalístico. É como agimos.
Daí porque não se pode expressar essas preferências publicamente nas redes sociais, mesmo aquelas voltadas para grupos de supostos amigos. Pois, uma vez que se tornem públicas pela ação de um desses amigos, é impossível que os espectadores acreditem que tais preferências não contaminam o próprio trabalho jornalístico, que deve ser correto e isento.
Como entrevistar candidatos, se preferências são reveladas, às vezes de forma apaixonada? O mais grave é que, quando os vazamentos acontecem, as vítimas, com toda a minha solidariedade, dizem que foram mal interpretadas. Não importa, o dano está feito.
A Globo é apartidária, independente, isenta e correta. Cada vez que isso acontece, o dano não é apenas de quem se comportou de forma inapropriada nas redes sociais. O dano atinge a Globo. E minha missão é zelar para que isso não aconteça. Portanto, peço a todos que respeitem o que está em nossos Princípios Editoriais (e nos dos jornais sérios de todo o mundo):
‘A participação de jornalistas do Grupo Globo em plataformas da internet como blogs pessoais, redes sociais e sites colaborativos deve levar em conta três pressupostos:
(…) 3- os jornalistas são em grande medida responsáveis pela imagem dos veículos para os quais trabalham e devem levar isso em conta em suas atividades públicas, evitando tudo aquilo que possa comprometer a percepção de que exercem a profissão com isenção e correção.’
É com isso em mente que envio esse e-mail.
Ali”
Fonte: SRzd
Créditos: SRzd