“É… Acho que eu exagerei…” (comentário de Sergio Cabral ao retornar cabisbaixo à cela, depois de ser condenado pela enésima vez).
Nos últimos dias, o capitão presidente Jair Bolsonaro também exagerou na dose de mentiras, agressões e crimes praticados contra a vida dos brasileiros.
Na noite de sexta-feira, o povo perdeu a paciência, ao promover um panelaço histórico, a mais barulhenta e irada manifestação de protesto em janelas e varandas, desde a agonia do governo de Dilma Rousseff.
Na hora do Jornal Nacional, a raiva e o desespero por muito tempo acumulados explodiram em gritos de “assassino!”, “genocida!”, “Fora Bolsonaro!”, de norte a sul do país, em bairros ricos e pobres, até em redutos bolsonaristas que o ajudaram a se eleger há dois anos.
O vento virou.
Depois de boicotar até onde pode a campanha de vacinação, Bolsonaro viu fracassar nesse dia mais uma “Operação Tabajara”, para buscar vacinas de Oxford na Índia, e mandou seu general ajudante de ordens desencadear a “Operação Mão Grande”, para confiscar 6 milhões de doses de Coronavac aqui mesmo, no paiol do inimigo em São Paulo, que ele acabava de desancar no programa do amigo Datena e na bolsonarista Jovem Pan.
O Instituto Butantan, que produz a Coronavac, em parceria com a chinesa Sinovac, recusou-se a entregar as vacinas até o governo federal apresentar um cronograma de vacinação, garantindo ao Estado o número de vacinas a que tem direito pelo critério de proporcionalidade em relação à população. Afinal, a vacina foi produzida em São Paulo e não precisa ir a Brasília para depois voltar.
No Palácio dos Bandeirantes, que só espera a aprovação da vacina pela Anvisa neste domingo, para entrar com uma ação no STF, a reação também foi de revolta.
“Aqui o Ministério da Saúde não manda nem intimida ninguém. Neste jogo pela vida, quem errou e perdeu até agora foi o Ministério da Saúde e seu déspota Jair Bolsonaro”, ouvi de assessores graduados do governador João Doria.
Ironia do destino, como escrevi aqui outro dia, a “vacina chinesa do Doria”, tão vilipendiada, vai acabar salvando o governo Bolsonaro, que chega ao dia “D” marcado para a vacinação sem vacinas, sem seringas, sem oxigênio e sem vergonha na cara, botando a culpa da sua inação e incompetência no STF e no resto do mundo.
Até o momento em que escrevo, as vacinas do Butantan, “requisitadas” por Pazuello & Bolsonaro, em dois ofícios terminativos, pedindo urgência em linguagem militar, continuam no Butantan.
Ao mesmo tempo em que o povo protestava sem poder sair de casa e a “Operação Mão Grande” empacava, começou a circular nas redes sociais um abaixo-assinado na hashtag #brasilsufocado.com pelo impeachment do presidente, providência que agora é defendida até por Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, que ficou sentado solenemente sobre quase 60 pedidos de abertura de processos, sem dar um pio.
Meu bem informado colega Ricardo Noblat, de Brasília, registra hoje em sua coluna na Veja que é crescente o numero de deputados e senadores de todos os partidos que agora estão levando a sério a abertura de um processo de impeachment, porque o desgoverno chegou a um ponto insustentável, colocando em risco a vida da população.
No festival de trapalhadas federais, o avião de carreira da Azul, que ia para a Índia e ficou parado no Recife, foi deslocado para buscar cilindros de oxigênio em São Paulo e levar a Manaus, enquanto o maior avião de carga da FAB está nos Estados Unidos, para fazer treinamento com os americanos, no auge da pandemia.
Genocida não é só Bolsonaro, mas toda a sua equipe de ineptos e cretinos que desmoralizam as Forças Armadas, produzem o desemprego e a queimada das florestas e pantanais, a destruição do ensino público, da cultura, da ciência e da soberania nacional e promovem a desindustrialização do país, condenado a morrer de Covid ou de fome, enquanto mais de 50 países já vacinaram mais de 35 milhões de pessoas.
Diante deste cenário fúnebre, o professor de história, escritor e compositor Luiz Antonio Simas, um sábio popular, amigo do Zé Trajano, desabafou nas redes sociais:
“Apoio qualquer coisa contra esse governo: passeata, guerrilha, panelaço, greve, jantar beneficente, sujeito gritando sozinho no banheiro, desabafo em analista, despacho na encruza, novena, frente ampla, mandinga do livro de capa de aço de São Cipriano, ciranda, bingo e bazar”.
O clima de fim de feira pode ser sentido também no Painel do Leitor da Folha, que hoje foi quase todo tomado por protestos contra Bolsonaro.
Destaco alguns trechos das mensagens:
“Trata-se, sim, de ação deliberada de morticínio de uma parcela da população. Bolsonaro e seus comparsas genocidas têm de responder por isso criminalmente (Marcus Flávio Medeiros Mussi, advogado, São Paulo, SP).
“É preciso remover já, de um modo ou de outro, o genocida e seu desqualificado servo. E fazer isso antes que contabilizemos as mortes diárias, não às centenas, mas às dezenas de milhares” (Eduardo Passos, médico cirurgião, São Paulo, SP).
“E agora, com a tragédia atingindo níveis indescritíveis, o que mais falta para que seja aberto um pedido de impeachment?” (Domingos Sávio de Campos Rosa, Ibiúna, SP).
“Jair Bolsonaro e o ministro Eduardo Pazuello são dois incompetentes. O tal de especialista em logística é um embuste, um verdadeiro enganador. Os dois têm que sair já” (Tiago Landi Simões, Londrina, PR).
“A renúncia de Jair Bolsonaro é, cada vez mais, uma questão de vida ou morte para os brasileiros (Luiz Oliveira, São Paulo, SP).
“Pelo amor de Deus! Esse governo precisa ser impedido. Não dá mais! (Cristina Reggiani, Santana de Parnaíba, SP).
Dizer mais o quê?
Bom final de semana.
Vida que segue.
Fonte: Folha
Créditos: Ricardo Kotscho