Um estudo do banco Credit Suisse identificou que o ajuste fiscal lento e gradual das contas públicas vai comprometer o potencial de crescimento do Brasil. Pela projeção da instituição, ao longo dos próximos 13 anos, período em que a preocupação do governo será sair do vermelho e voltar a poupar, a economia vai avançar apenas 2% ao ano, em média.É uma taxa muito medíocre para o potencial do Brasil. Equivale a menos da metade da taxa prevista para os países emergentes, que está perto de 5%. Fica aquém até da projeção para a média de crescimento econômico global, que é próxima de 3%.
O economista-chefe do banco, Nilson Teixeira, faz uma ressalva: “Não quer dizer que, quando o país sair da recessão, não veremos taxas de crescimento maiores. Não é impossível, no curto prazo, um crescimento de 3% em um ano. A questão é quão sustentável será o crescimento no médio e no longo prazo”, diz.
MOTORES
Para entender como a equipe de Teixeira chegou a essa conclusão, é preciso ter em mente que a economia é movida por três grandes motores: gente para trabalhar, eficiência para produzir (medida pelo que se chama de produtividade total dos fatores, PTF) e capital para investir (oferta de dinheiro estocado na forma de poupança, seja privada ou pública). Um dos pontos mais importantes do estudo avalia justamente a dinâmica desse último motor levando em consideração a crise fiscal. O feito detectado é danoso.
“O buraco nas contas do Estado drena a poupança privada e reduz a capacidade de investimento do país, comprometendo o potencial de crescimento”, afirma Paulo Coutinho, economista que coordenou estudo. Grosso modo, funcionaria mais ou menos assim: empresários e mesmo pessoas comuns perdem a confiança no futuro quando os entes públicos estão financeiramente fragilizados. Não se sentem motivados a investir na atividade. Buscam opções seguras, como comprar papéis do governo. É paradoxal, mas títulos públicos estão entre os investimentos mais seguros.
Nesse movimento, a poupança privada é canalizada para o Estado. Ajuda a bancar a máquina pública e os gastos obrigatórios, que respondem por 92% da despesa. Os 8% que sobram e podem ser cortados englobam basicamente o dinheiro do investimento público. Resultado: enquanto as contas do Estado não voltam ao azul, a tendência é de queda geral dos investimentos. O cenário já seria ruim se o ajuste fosse rápido, mas fica pior quando se leva em consideração que vai ser demorado, diz o relatório. Hoje o único mecanismo adicional de ajuste é o teto de gastos, que limita o aumento da despesa e tem efeito lento.
Os dois outros motores do crescimento também estão falhando. Nos anos 1970, por exemplo, o Brasil cresceu até 10% ao ano, em parte graças a uma imensa oferta de trabalhadores. Havia muitos jovens, e milhões de migrantes deixaram o campo para viver nas cidades. Daqui para a frente, será o inverso. A oferta de trabalhadores cairá porque o país está envelhecendo. A eficiência para produzir, por sua vez, nunca foi alta e até caiu. Educação de baixa qualidade, muita burocracia, carga tributária alta e complexa estão entre as ineficiências que derrubam a produtividade no Brasil.
O relatório traz várias simulações cruzando oferta de mão de obra, de capital e produtividade até bater o martelo nos 2% de crescimento. “Apenas uma forte agenda de eficiência econômica reverteria esse cenário, algo difícil de ser feito agora”, afirma Coutinho.
Fonte: Folhapress