Moradores de Duque de Caxias, na Região Metropolitana do Rio, protestaram neste domingo (6) contra a morte das meninas Emilly Victoria, de 4 anos, e Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos, de 7 anos, na noite de sexta-feira. Durante o ato, a mãe de Emilly, Ana Lúcia Silva Moreira, reafirmou que não havia confronto, nem operação, nem tiroteio na comunidade antes da filha ser morta.
“Eles só sabem fazer isso, dar tiro. Olhou, dá tiro. Quando percebi, eu só peguei o documento. Porque eu já sabia, minha filha já estava estirada. A minha filha levou tiro de fuzil na cabeça. A minha filha já estava morta. A minha sobrinha deu tempo de correr e morreu ao lado da caixa d’água da mãe dela. Os moradores estão comigo. Não é vereador, não é prefeito, não é governador. São os moradores”.
Familiares dizem que viram policiais atirando, mas a Polícia Militar diz que os agentes não efetuaram os disparos. Participaram do ato neste domingo na Praça Raul Cortez, no Centro de Caxias, parentes e amigos das meninas, além de movimentos sociais.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) apreendeu as armas dos cinco policiais militares que estavam na região onde as meninas foram mortas. A Polícia Civil apreendeu as cinco pistolas e cinco fuzis dos PMs para a realização de perícia. Os policiais também prestaram depoimento.
Cláudio Castro, governador em exercício do Rio de janeiro, postou neste domingo (6) alguns comentários em suas redes sociais mostrando solidariedade à família.
“A dor das famílias que perderam seus entes queridos é irreparável. Duas crianças na porta de casa e um policial exercendo sua missão. Desde as primeiras horas, a Polícia Civil realiza as investigações, e nós daremos uma resposta à sociedade. Minha solidariedade e orações”, comentou o governador em exercício, que também lembrou a morte do cabo da PM Derinaldo Cardoso dos Santos, que tentou impedir um assalto a uma loja no centro de Mesquita, na Baixada Fluminense. O suspeito de atirar no cabo foi preso neste domingo.
As duas meninas eram primas e brincavam na porta de casa na comunidade Santo Antônio. Emilly Victoria, que completaria 5 anos esse mês, foi baleada na cabeça. Rebeca Beatriz Rodrigues dos Santos levou um tiro no abdômen. Ambas foram enterradas neste sábado (5) sob forte comoção.
O pai de Emily desmaiou várias vezes e foi amparado por parentes. Segundo a ONG Rio de Paz, ele é ajudante de pedreiro e ajudou a enterrar a filha.
“É isso aí que a gente leva, ó. Duas crianças, minha filha, minha sobrinha. Tô acabando de enterrar, isso fica aí pra comunidade, pros governadores”, desabafou o pai enquanto fechava o local onde o caixão da menina foi colocado.
Avó chegou na hora
A avó de uma das meninas contou que estava chegando do trabalho. As meninas a esperavam na calçada para comprar um lanche, quando passou um carro da polícia, por volta das 20h.
Os familiares disseram que não sabiam se havia algum tipo de perseguição e contaram que viram a polícia atirando.
“Estava chegando do trabalho e saltei do ônibus. Eu escutei no mínimo dez disparos. O ônibus passou e a blazer estava parada e deu aquele arranco para sair. Ele parou em frente à rua e simplesmente efetuou os disparos”, disse Lídia Santos, avó de Rebeca.
Os familiares não sabem dizer se havia algum tipo de perseguição na hora.
O que diz a polícia
A Polícia Militar afirma que uma equipe do 15º Batalhão (Duque de Caxias) estava fazendo um patrulhamento na Rua Lauro Sodré, na altura da comunidade do Sapinho, quando foram ouvidos disparos de arma de fogo. Segundo a PM, os agentes não dispararam.
Ainda de acordo com os moradores, foram os vizinhos que levaram as vítimas para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Sarapuí.
“Posteriormente, o batalhão foi acionado para verificar a entrada de duas pessoas feridas na UPA Caxias II (Sarapuí). No local, o fato foi constatado e tratavam-se de duas crianças”, diz a nota.
Violência X crianças
Nas redes sociais, a ONG Rio da Paz falou sobre a violência na cidade e a morte das meninas na Baixada Fluminense.
“Sempre que essas mortes ocorrem pensamos que tudo vai mudar, uma vez que a face mais hedionda da criminalidade no Rio é a morte por bala perdida desses meninos e meninas. Contudo, nada muda. Famílias permanecem desamparadas, a autoria dos homicídios não é elucidada, os assassinos não são punidos e nenhuma transformação ocorre na política de segurança pública. Vale lembrar que quem morre são crianças pobres. Nisso reside a razão da indiferença por por parte das autoridades públicas”, disse o presidente da ONG, Antonio Carlos Costa.
O Rio de Paz acompanha os casos de crianças mortas vítimas de armas de fogo desde 2007. A triste estatística, segundo a ONG, contabiliza, desde então, 79 acrianças vítimas da violência no Rio, a maioria delas por balas perdidas. Com esses casos, só este ano (2020), sobe para 12 o número de crianças mortas por armas de fogo no estado do Rio de janeiro até este sábado (5), ou seja, uma por mês, de acordo com estatísticas da ONG Rio de Paz. Em 2019, sete crianças foram assassinadas. Entre janeiro de 2019 (início do então governo Wilson Witzel) até este sábado (5/12) foram 19 crianças mortas.
Fonte: G1
Créditos: G1