Estratégia

Eleições 2018: redações brasileiras se unem contra fake news no WhatsApp

Outra grande eleição nacional significa outra grande iniciativa colaborativa de checagem de fatos. No entanto, uma ação específica vai dar uma pequena, mas importante, ajuda para o aplicativo de mensagens do domínio do Facebook, o WhatsApp –onde uma grande fatia da desinformação do mundo é distribuída.

O Comprova, uma coalizão de checagem de fatos feita com jornalistas de 24 redações em todo Brasil, foi lançado na última 2ª feira (6.ago.2018). Eles vão monitorar informações erradas e desinformações para ajudar nas eleições do país que acontecem no dia 7 de outubro (com 2º turno no dia 28 de Outubro).

O projeto está próximo às 90 organizações do forte Verificado no México e as checagens colaborativas da First Draft como o CrossCheck. Mas, antes disso, os jornais parceiros vão coletar dicas, responder a rumores e informações que estão sendo espalhadas, publicar matérias e algumas vezes fazer reportagens coletivamente.

No entanto, as redações no Comprova vão se beneficiar do acesso ao recém lançado aplicativo WhatsApp Business, que permite aos parceiros do Comprova responder a sugestões dos leitores (e refutem desinformação) em uma escala realmente significativa.

(O Comprova não terá, contudo, nenhum acesso especial a informações sobre os rumores que estão circulando entre os usuários –ou em que velocidade estão correndo e o que significa. Isso também será um mistério.)

O WhatsApp é uma caixa preta de informações virais –e mortais– cujas desinformações várias organizações de notícias tem tentado acabar por anos. O Verificado, que recentemente fez sua checagem de fatos para colaboração com as eleições mexicanas, é gerenciado para lidar com dezenas de milhares de mensagens pela linha de Whatsapp deles.

O site de notícias colombiano La Silla Vacía tentou ajudar essas checagens de dados espalhados pelo WhatsApp ao pedir que leitores que enviarem perguntas se comprometessem a reenviar o fato checado para seus amigos na plataforma.

O próprio WhatsApp está criando um time na Índia para ajudar a lidar com as notícias falsas espalhadas na plataforma.

De um anúncio enviado na 2ª feira pelo projeto First Draft, que faz parte do centro Harvard Kennedy School’s Shorestein:

“O número de WhatsApp é +55 (11) 97795-0022, e o público automaticamente receberá dicas sobre conteúdos falsos ou confusos relacionados às eleições…

O número vai aceitar questionamentos e sugestões do público, e facilitar a detecção de notícias que tendam à desinformação ao redor do país. Pesquisadores da Harvard Kennedy School vão, depois, investigar como a desinformação circula via WhatsApp. Os achados ajudarão a informar às redações a respeito de boas práticas para requisitar orientação quanto ao conteúdo, e revelar as farsas diante do público que consome esse conteúdo.

Nem todos os artigos dispostos no aplicativo serão respondidos, mas os jornalistas devem selecionar os que possuam maior potencial em larga escala de desinformação durante o período eleitoral. O portal –que será o centro operacional do projeto Comprova– tem 1 sistema de gerenciamento de conteúdo desenhado especificamente para o projeto, e deve ser usado em futuras eleições ao redor do mundo.”

Como no caso do projeto de checagem de fatos CrossCheck, nenhuma matéria recebida será publicada até que ao menos 3 das redações que participam do consórcio assinem o processo de verificação e cheguem à conclusão favorável ao teor informativo.

“Com aproximadamente 120 milhões de brasileiros utilizando o WhatsApp, esta é a 1ª plataforma de comunicação para a maioria da população e, como resultado, todos os tipos de informação circulam por ela, incluindo as de cunho enganatório”, afirma a líder do projeto First Draft, Claire Wardle.

“O Comprova nos dá a real oportunidade de entender o papel desempenhado pelo WhatsApp no Brasil, particularmente como os eleitores o utilizam durante a campanha eleitoral”, conclui.

O Google News Initiative, em parceria com o Projeto de Jornalismo do Facebook, dá suporte técnico e financeiro, além de treinamento para o Comprova. A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), coordena o consórcio, com apoio adicional do Projor (Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo).

Você pode ter acesso ao site do projeto clicando aqui, e conferir a lista com todos os participantes. Já ao projeto First Draft (apenas em inglês), por aqui.

Nota: depois que esta matéria foi publicada, o WhatsApp incluiu alguns tipos de dados aos quais os participantes do Comprova não conseguirão acesso:

“O projeto Comprova ajudará os veículos jornalísticos no Brasil a informar melhor seus leitores durante o período eleitoral. Este é um ótimo exemplo de como a tecnologia e a sociedade civil podem trabalhar juntas para identificar informações equivocadas e fornecer respostas concretas para a comunidade do WhatsApp. O nosso aplicativo se preocupa profundamente com a privacidade de nossos usuários e, devido à criptografia de ponta a ponta, não poderá examinar o conteúdo das mensagens sendo compartilhado em nosso sistema.”

*Shan Wang integra a equipe do Nieman Lab. Ela trabalhou em editoriais na Harvard University Press e já foi repórter do Boston.com e do New England Center for Investigative Reporting. Uma das primeiras histórias escritas por ela foi sobre Quadribol Trouxa para o Harvard Crimson. Ela nasceu em Shanghai, cresceu em Connecticut e Massachusetts e é fã de Ray Allen.
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O texto foi traduzido por Pedro Ibarra
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Fonte: Poder360
Créditos: Poder360