“Precisamos ver com naturalidade as diferenças”, diz Túlio Gadêlha, 30, aplicando a mesma tese para falar sobre duas de suas paixões: a política e a apresentadora Fátima Bernardes, 55, sua namorada há cinco meses.
Como explicar o encontro de um bacharel em direito de Pernambuco, que por opção viveu dois anos sem TV, com uma das principais estrelas da TV Globo, que desde o nascimento dos filhos trigêmeos até sua separação do jornalista William Bonner sempre esteve sob os holofotes?
“Tem certas coisas que não se explicam, né?”, diz Túlio, tomando uma caneca de café no Paço do Frevo, um museu no Recife, enquanto uma garoa refresca o clima abafado na tarde de quarta-feira (18). “Mas por que as pessoas têm que se relacionar com outras do mesmo perfil?”, indaga. “As diferenças deveriam nos enriquecer, não nos dividir.”
E mais: ele é militante político de esquerda, filiado ao PDT (Partido Democrático Trabalhista), e deve ser candidato a deputado federal em outubro, defendendo, entre outras bandeiras, a democratização da comunicação e o combate ao que chama de oligopólios midiáticos no país.
Fátima, ao contrário, nunca declarou voto nem preferência partidária. E trabalha desde a década de 1980 na principal empresa de comunicação do Brasil.
“Não tem nenhum constrangimento”, diz o namorado da apresentadora do Encontro com Fátima Bernardes. Ela estreou a atração matinal em 2012, depois de 14 anos no Jornal Nacional. “Uma coisa é minha pessoa física, outra coisa é a pessoa dela”, afirma Túlio. “Nossa relação é no campo pessoal, não no político.”
Ele continua: “Nunca mudei minhas posições, minha visão de mundo, minhas críticas. Ela continua trabalhando na mesma empresa, seu programa segue com as mesmas pautas. As pessoas é que tendem a achar que ‘ah, mudaram as pautas do programa’ ou ‘o Túlio não fala mais disso’”.
Com ele morando na capital pernambucana e ela no Rio, os encontros são programados. Têm ocorrido de 15 em 15 dias —ora ele viaja, ora ela.
No resto do tempo, além das ligações de voz e de vídeo pelo celular, assistem a filmes e séries. “Juntos e a distância”, explica ele. “A gente dá o play no mesmo instante e vai comentando.” Estão vendo “La Casa de Papel”. Um dos personagens da produção da Netflix, o Professor, é comparado a Túlio. “De tanto dizerem na internet que a gente se parece, resolvi assistir.”
Uns anos atrás, quando dividia apartamento com um amigo, ele não tinha nem TV nem internet. Os dois preferiam livros e instrumentos musicais. Hoje, morando sozinho e com televisão em casa, assiste ao programa da namorada “quando dá”. Na atração, ela faz entrevistas, recebe músicos e com frequência dança.
“Acho que há um pouco de machismo nisso de atribuir só a mim o momento atual dela”, diz o político sobre os muitos comentários na internet que fazem uma associação entre o namoro e a nova fase de Fátima, mais magra (ela perdeu 7 kg) e mais solta na televisão.
“Eu já encontrei ela assim, desse jeito. Realizada profissionalmente, pessoalmente”, segue ele, com a fala mansa. Nunca esteve com Bonner, mas o descreve como um ótimo pai para os trigêmeos, hoje com 20 anos. O editor-chefe do JN e Fátima encerraram em 2016 o casamento de 26 anos.
O relacionamento dela com o pernambucano se tornou público em novembro de 2017, quando um fotógrafo flagrou o casal passeando em um shopping do Rio. Depois eles mesmos começaram a postar imagens juntos nas redes sociais.
Os dois foram apresentados por uma amiga de infância do recifense que trabalha no programa da Globo e é próxima de Fátima. Túlio diz que no início era só amizade, mas depois terminou com sua namorada à época e engatou o romance com a jornalista.
A comunicadora é “sensível, muito humana, culta, inteligente, bonita, charmosa”, segundo a descrição do político. “A diferença de idade é uma coisa que preocupa mais as outras pessoas do que a gente. Eu tive outras namoradas mais velhas. Aos 20 anos, eu tinha uma namorada de 30. Aos 23, tinha uma de 40.”
Fã de Carnaval, Túlio arrastou Fátima para as festas de rua no Recife. Ela o levou para um bloco no Rio e fez questão que ele conhecesse os desfiles na Marquês de Sapucaí.
Os momentos mais recentes divulgados pelos dois incluem um fim de semana de descanso no litoral e um almoço com a família dele, intercalados com uma corrida no parque Ibirapuera, em São Paulo, e uma trilha no Rio.
Acostumado a comentários carinhosos dos seguidores, Túlio diz que levou um susto com críticas ao postar foto sua com Lula no sindicato em São Bernardo do Campo onde o ex-presidente se entregou para ser preso, dias atrás.
“O debate político está polarizado, muito raso. As pessoas só querem ver duas cores. Não estive ali para defender o projeto político do PT, até porque eu não defendo. Estive para defender a ordem constitucional e a democracia.” Ele concorda com o PT na avaliação de que o processo que condenou o petista foi político, injusto e sem provas.
Desde 2007 filiado à sigla fundada por Leonel Brizola (1922-2004), Túlio apoia o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes. O recifense diz que não votaria em Lula, mas fala que a candidatura dele é legítima, embora possa contribuir para polarizar ainda mais o debate eleitoral.
“A mídia tem seu lado. Não só a Rede Globo. Existem conglomerados midiáticos, a coisa é mais ampla. Há políticos que são donos de concessões de rádios e TVs. A gente só vence isso com conscientização política. O PT deixou de fazer o mais importante, que é educar o nosso povo”, afirma.
Do café Túlio parte em caminhada pelas ruas do centro antigo da capital pernambucana, a convite do fotógrafo da coluna, que sugere uma foto com a cidade ao fundo. A chuva aperta, impondo uma parada sob uma marquise. Três garotas que chegam na tentativa de fugir dos pingos reconhecem o pedetista. Uma das adolescentes diz segui-lo no Instagram e pede uma selfie.
Ele fala que sua vida pouco mudou por causa do namoro com a famosa. Frequenta o partido, vai a encontros com militantes e movimentos sociais. De porte atlético, tem praticado remo no rio Capibaribe, que corta a capital.
Durante as fotos para a Folha, o político pergunta se o fotógrafo pode dispensar o rebatedor de flash. O acessório, que é do tamanho de um guarda-chuva aberto e ajuda a difundir a luz, chama a atenção de quem passa. Diante da negativa, ele mantém o sorriso, meio sem jeito, segurando firme a bolsa que usa de lado.
Saca da pasta um boné verde-oliva e põe na cabeça. Criou o hábito porque gosta de cabelo comprido e o boné ajuda a prendê-lo. Seu estilo varia pouco: em geral veste camisa social de manga longa e calça. Prefere peças de cores claras.
De família de classe média (os pais são funcionários públicos aposentados), o namorado de Fátima é o terceiro de quatro filhos, “todos muito diferentes uns dos outros”. Um é médico, outro é policial federal e o caçula “é rastafári”.
“Hélder começou a cursar engenharia ambiental e largou para se dedicar às artes circenses. Passou um tempo fazendo malabares em sinal, viajando. Hoje constrói móveis com madeira de demolição. E é o mais feliz dos irmãos, tenho certeza”, diverte-se Túlio.
Ele iniciou o engajamento político no movimento estudantil durante o curso de direito, na Universidade Católica de Pernambuco. No PDT, foi tutor na Universidade Leonel Brizola, comandou a Juventude Socialista e hoje é vice-presidente da fundação de formação política da sigla —o cargo é sua fonte de renda.
Candidato a vereador em 2012 e a deputado federal em 2014, não conseguiu votação suficiente. Uma nova candidatura, diz ele, dependerá da decisão de um movimento do qual faz parte, o Nós Acreditamos, que agrega diferentes partidos e grupos de esquerda.
Fonte: Mônica Bergamo / Folha
Créditos: Mônica Bergamo / Folha