O papa Francisco celebrou neste domingo (24) a missa de encerramento da reunião convocada por ele com bispos do mundo inteiro para discutir o combate à pedofilia e afirmou que esse “fenômeno escandaloso” compromete a “autoridade moral e a credibilidade ética” da Igreja.
A homilia ocorreu no Palácio Apostólico, após três dias de debates, relatos de vítimas e promessas de mais transparência e ação para coibir e punir abusos sexuais dentro do clero. “A universalidade dessa praga, enquanto confirma sua gravidade em nossas sociedades, não diminui sua monstruosidade dentro da Igreja”, disse o líder católico.
Segundo o Pontífice, a “desumanidade desse fenômeno em nível mundial se torna ainda mais grave e escandalosa na Igreja, porque está em contraste com sua autoridade moral e sua credibilidade ética”.
O Papa prometeu que todos os casos de abuso na Igreja serão enfrentados com “máxima seriedade” e disse que a raiva “justificada” das pessoas contra o clero é reflexo da “ira de Deus, traído por esses consagrados desonestos”.
“O eco do grito silencioso dos pequenos que, ao invés de encontrar neles paternidade e guias espirituais, acharam carrascos, fará tremer os corações anestesiados pela hipocrisia e pelo poder. Temos o dever de escutar atentamente este sufocado grito silencioso”, acrescentou.
Francisco ainda salientou que é chegada a hora de “erradicar tal brutalidade do corpo da nossa humanidade”, adotando “todas as medidas necessárias já em vigor em nível internacional e eclesiástico”.
Chegou a hora de encontrar o equilíbrio justo de todos os valores em jogo e dar direções uniformes para a Igreja, evitando os extremos do justicialismo, provocado pelo senso de culpa dos erros passados e pela pressão do mundo midiático, e de uma autodefesa que não enfrenta as causas e consequências destes graves delitos”, disse.
Diretrizes – Para o Papa, o fenômeno da pedofilia é reflexo do abuso de poder, e a Igreja terá como objetivo “escutar, tutelar, proteger e cuidar” de menores “abusados, explorados e esquecidos”. Jorge Bergoglio mencionou um relatório chamado “Inspire”, da Organização Mundial da Saúde (OMS), que estabelece sete diretrizes para combater esse fenômeno.
O documento fala em implantar e reforçar as leis; fortalecer normas e valores; criar ambientes seguros para interromper a disseminação da violência; fornecer suporte às famílias das vítimas; dar apoio financeiro a crianças abusadas; oferecer aconselhamento e terapias; e incentivar a educação como programa de prevenção.
De acordo com o Papa, baseando-se nesses conceitos, a Igreja seguirá oito diretrizes: tutela das crianças; “seriedade impecável”, com a garantia de que a Santa Sé não poupará esforços para entregar criminosos à Justiça; uma “verdadeira purificação”, sem cair na “armadilha de acusar os outros”; melhorar a formação para o sacerdócio; reforçar as linhas-guia das conferências episcopais; acompanhar as pessoas abusadas; se empenhar no mundo digital; e enfrentar o turismo sexual.
“Vamos transformar este mal em oportunidade de purificação. O melhor resultado e a resolução mais eficaz que podemos dar às vítimas são o compromisso de conversão pessoal e coletiva, a humildade de aprender, de escutar, de ajudar e de proteger os mais vulneráveis”, afirmou.
A cúpula encerrada neste domingo foi a primeira iniciativa de Francisco para tentar unificar a resposta da Igreja à pedofilia, após escândalos terem abalado sua imagem em diversos países, como Austrália, Chile, Estados Unidos e Irlanda.
Os três primeiros dias do encontro foram dedicados aos temas da responsabilidade, da prestação de contas e da transparência, em debates sempre marcados pelos depoimentos de vítimas.
Fonte: Terra
Créditos: Terra