O Ministério da Saúde omitiu à CPI da Covid pelo menos 20 contatos com a Pfizer durante as negociações de vacinas em 2020, mostra um documento sigiloso enviado pela pasta à comissão na última terça-feira (15/06). Em julho, houve 12 interações, inclusive de Carlos Murillo, presidente da farmacêutica, mas o ministério só registrou três.
A “nota informativa”, obtida pela coluna, foi assinada por Alessandro Glauco dos Anjos, secretário-executivo adjunto do Ministério da Saúde, no último dia 24. Esse departamento coordenou reuniões e trocas de informações com farmacêuticas sobre vacinas contra a Covid-19. A pasta respondeu a um requerimento do vice-presidente da CPI, senador Randolfe Rodrigues, que no fim de abril havia cobrado detalhes das negociações de imunizantes.
A coluna cruzou os dados dessa nota com outras duas levas de documentos em posse da CPI divulgadas em maio pelos repórteres Júlia Chaib e Caio Junqueira. Na primeira, a Pfizer encaminhou e-mails enviados à pasta. Na outra, técnicos da CPI fizeram um levantamento sobre as interações entre o laboratório e o governo federal.
O mês com mais omissões nos registros foi julho. Para o Ministério da Saúde, houve apenas três contatos: nos dias 2, 8 e 29 de julho. Segundo esses registros, em todo o mês a empresa unicamente pediu uma reunião para “tratar do desenvolvimento de vacinas e planejamento de possíveis vacinações no Brasil”, enviou uma proposta de minuta do acordo de confidencialidade e assinou esse acordo com a pasta.
Outros documentos da CPI mostram uma agenda bem diferente para julho. No dia 6, a Pfizer enviou dados solicitados sobre o desenvolvimento da vacina. No dia seguinte, cobrou o ministério sobre uma futura reunião da área técnica da pasta e a área internacional do laboratório. Em 10 de julho, a Pfizer confirmou um encontro no dia 15. Em 16 de julho, Carlos Murillo, presidente da companhia, solicitou uma reunião urgente com a pasta. No dia 21, o ministério enviou um ofício à Pfizer. A farmacêutica, na mesma data, confirmou a participação do Brasil no estudo clínico do imunizante, informou que a Anvisa havia aprovado o protocolo clínico do estudo e reforçou o pedido de um encontro para apresentar sua proposta de fornecimento de vacina. Em 22 de julho, a empresa enviou um e-mail ao gabinete de Eduardo Pazuello, solicitando uma conversa sobre a proposta de vacinas. Dois dias depois, a pasta agendou uma reunião virtual. No dia 31, a Pfizer pediu outra audiência urgente com o ministério.
Em outubro, dois pedidos urgentes da Pfizer foram ignorados no relato enviado pelo ministério à CPI. No dia 21, o presidente da farmacêutica solicitou a Élcio Franco, secretário-executivo da pasta, uma reunião com urgência para atualizar dados sobre a vacina. Em 28 de outubro, pediu que o ministério confirmasse com urgência o número de doses para uma nova proposta, destacando a importância da rapidez da resposta. Para o ministério, outubro se resumiu a somente três dias de comunicação com a Pfizer: uma reunião e um e-mail da empresa no dia 27, e outros e-mails da empresa nos dois dias seguintes.
Chamam atenção, ainda, outros três dias desprezados no documento do ministério entregue aos senadores da comissão. Em 15 de setembro, a Pfizer reenviou a vários secretários da pasta uma carta que seu presidente mundial havia encaminhado a Bolsonaro três dias antes. Nessa carta, a Pfizer enfatizou que estava à disposição para quaisquer necessidades. O ministério tampouco informou à CPI que em 2 e 3 de dezembro a farmacêutica tentou contato por telefone e e-mail, deixou diversas mensagens, mas não obteve resposta da pasta.
As lacunas na versão do Ministério da Saúde podem ser ainda maiores. No último dia 4, Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, afirmou que outros documentos em posse do colegiado apontavam 53 e-mails da Pfizer sem resposta.
Fonte: Metrópoles
Créditos: Polêmica Paraíba