Com a flexibilização das medidas de isolamento, milhões de brasileiros foram levados a procurar trabalho, o que registrou a alta da taxa de desemprego, resultando num novo recorde no trimestre encerrado em agosto. A taxa acelerou para 14,4%, de acordo com dados da PNAD Contínua do IBGE, divulgados nesta sexta-feira. São 13,8 milhões de brasileiros à procura de uma vaga.
No trimestre encerrado em maio, que serve como base de comparação, a taxa de estava em 12,9%. Um ano antes, em agosto de 2019, o desemprego atingia 11,8% da população. Na metodologia do IBGE, é considerado desempregado quem procura emprego e não acha.
“O aumento da taxa está relacionado ao crescimento do número de pessoas que estavam procurando trabalho. No meio do ano, havia um isolamento maior, com maiores restrições no comércio, e muitas pessoas tinham parado de procurar trabalho”, explica a analista da pesquisa, Adriana Beringuy.
O resultado revela uma série de recordes negativos, desde que a pesquisa foi iniciada em 2012. Em um ano, o país fechou 12 milhões de vagas, levando a população ocupada ao menor nível na série histórica: eram 81,7 milhões de ocupados em agosto, um tombo de 12,8% em relação a agosto de 2019.
Frente a maio, a população ocupada encolheu em 5%, com mais 4,3 milhões de pessoas sem ocupação. Desses 29% eram informais. Ou seja, a maior parte dos postos de trabalho fechados eram de emprego com carteira. No trimestre anterior, os informais responderam por 74% das vagas fechadas.
— Anteriormente, a queda estava muito concentrada na informalidade, agora está mais diluída. A queda na informalidade, porém, não significa que as pessoas se formalizou. A taxa de informalidade cai porque o informal perdeu sua ocupação — explica a pesquisadora do IBGE.
Em agosto deste ano, a população informal era de 31 milhões, com a taxa do indicador chegando a 38%. No trimestre anterior, a taxa foi 37,6% e, em agosto de 2019, 41,4%.
Desalento é o maior da série
A população subutilizada também foi a maior já registrada. Nos três meses encerrados em agosto deste ano, 33,3 milhões de brasileiros estavam nesta situação. A taxa de subutilização, de 30,6%, também foi recorde.
O trabalhador subutilizado é aquele que está desempregado, trabalha menos do que poderia ou o que procurou emprego na semana da pesquisa mas não estava disponível para assumir a vaga. Também compõe o grupo quem não procurou emprego mas estava disponível para trabalhar.
Os desalentados também atingiram o recorde da série histórica. Na passagem de maio para agosto deste ano, 440 mil pessoas deixaram de procurar emprego porque acreditaram que conseguiriam a vaga, totalizando 5,9 milhões. O percentual deste grupo atingiu a máxima de 5,8%.
Assim, em agosto eram 5,9 milhões de desalentados. A taxa deste indicador ficou em 5,8%, também a maior já registrada.
Trabalhador doméstico
O número de trabalhadores domésticos, por sua vez, foi o menor da série. Em agosto, eram 4,6 milhões de domésticos, 473 mil a menos do que em maio e 1,7 milhão a menos do que agosto de 2019.
Na véspera, foram divulgados os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED). O dado, referente a setembro, mostrou que o Brasil criou 313 mil empregos formais. Entretanto, as duas pesquisas seguem metodologias diferentes.
Enquanto o CAGED calcula apenas o saldo entre demissões e contratações de trabalhadores com carteira assinada, a Pnad mensura desemprego, desalento (pessoas que deixaram de procurar emprego) e pessoas subocupadas (que trabalham menos do que gostariam). Também considera os trabalhadores informais no cálculo.
Agricultura registra crescimento
Entre os dez grupamentos avaliados pelo IBGE, o único que registrou percentual positivo em agosto foi o de Agricultura, que subiu 2,9% na comparação com maio, o que significa que 228 mil pessoas passaram a trabalhar no setor.
— O crescimento da agricultura está ligado ao cultivo do café na região Sudeste. Embora seja um cultivo específico e localizado, é uma atividade importante — destaca Adriana Berenguy, analista da pesquisa do IBGE.
No mesmo período, a população ocupada da indústria caiu 3,9%, perdendo 427 mil trabalhadores. No comércio, a retração foi de 4,7% (754 mil pessoas a menos). Já na construção, o cenário foi de estabilidade.
Fonte: O Globo
Créditos: Polêmica Paraíba