A menos de quatro meses da eleição presidencial, um liberal, como sou, olha com desalento o quadro eleitoral. A cada dia, aumenta a aposta de alguns otimistas nos poderes milagrosos da campanha. Tomara que seja assim. Dados os números, as esquerdas, o PT em particular, terão de errar muito para não chegar ao poder. Por que o desalento? Porque elas quebraram o país e o conduziram a maior recessão de sua história. Não é opinião. É fato. E, no entanto, tudo o mais constante e sem um erro brutal no manejo da política, elas estarão de volta ao trono.
O quadro eleitoral, quando Lula está na disputa segue inalterado, com oscilações na margem de erro: 30% para ele; 17% para Jair Bolsonaro (PSL), 10% para Marina Silva (Rede) e 6% para Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). Sim, o petista continuaria a bater com folga todos os adversários no segundo turno, e ainda com uma tendência de aumento da diferença. O que cresceu em qualquer cenário, com ou sem o líder petista, inclusive no confronto de segundo turno, são os eleitores órfãos, sem candidato. Mas esse é o tipo de coisa que não beneficia ninguém. Marina segue vencendo todo mundo, menos Lula, num embate final, e Bolsonaro continua a empatar com Ciro e Alckmin.
Destaque-se ainda que o levantamento de agora não traz Joaquim Barbosa, que cravou oito pontos em abril. Sem o ex-ministro e sem Lula no cardápio, Marina salta de 10% para até 15%, em empate com Bolsonaro, e Ciro, de 5% para até 11%.
Acontece, meus caros, que esses números podem ter pouca relevância. E não porque a eleição esteja longe. Ela está muito perto. Ocorre que o pleito se dará segundo um filtro inédito na nossa história e, se querem saber, na história das democracias: um presidiário vai definir o resultado: Lula. E não adianta tentar dourar a pílula. Vamos ver.
O PT diz não arredar pé da candidatura de sua liderança máxima. As pesquisas podem alimentar os sonhos de quem leva a sério essa quimera. Mas os realistas sabem muito bem tratar-se de uma impossibilidade. Se o partido mantiver, por estratégia, tal determinação, EM consciência de que ela tem prazo: setembro. O TSE vai declarar a inelegibilidade de Lula, o que será referendado pelo STF. Por mais que seja alto o potencial de transferência de votos de Lula, seria temerário para o partido indicar um nome. Nas simulações em que aparecem Fernando Haddad ou Jaques Wagner, o desempenho é pífio. Falta-lhes um atributo — em caso de eleição — fundamental. São desconhecidos da esmagadora maioria da população brasileira.
Mantida a candidatura de Lula até o limite, conhecidos não se tornarão, certo? Afinal, não poderão participar de debates, sabatinas, botar a cara na janela como postulantes. Desconhecidos continuarão, certo?
Lula vai fazer o quê? Pois é. O jogo me parece bastante claro, mas não quer dizer que não os jogadores não possam seguir outro roteiro. Marina e Ciro Gomes têm crescimento significativo no cenário sem Lula. Ela empata com Jair Bolsonaro (17% a 19%), hipótese em que os sem-candidato podem chegar a escandalosos 34%, um número inédito a menos de quatro meses da disputa. Marina mal terá tempo de dizer um “oi” no horário eleitoral. A candidatura de Ciro tem, desde já, uma estrutura mais robusta.
Caberá a Lula a decisão sobre o que fazer quando a sua inelegibilidade for sacramentada. Ele já avisou à companheirada: Ciro não é inimigo. Não é nem mesmo adversário. Entre o PT ficar fora do segundo turno e optar pela possibilidade muito plausível de vencer com Ciro, a escolha me parece evidente.
E o candidato do “centro”? E Geraldo Alckmin (PSDB)? Segue empacado nas pesquisas. Seus aliados dizem que a eleição ainda não está no radar dos brasileiros… Desconfio dessa análise. Acho que está, sim. Mas com o desalento em crescimento, daí o número absurdo de eleitores sem candidato. Apostar todas as fichas no horário eleitoral, quando há migrações relevantes ocorrendo no eleitorado, me parece estratégia de alto risco. Mas torço para estar errado.
RedeTV
Fonte: Redetv
Créditos: Redetv