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Dados mostram que pelo menos dois médicos são denunciados por assédio sexual a cada semana - CONFIRA

Das 85 denúncias de crime sexual que chegaram ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) em 2023, apenas seis —7% do total— evoluíram para um processo contra os médicos envolvidos.

Das 85 denúncias de crime sexual que chegaram ao Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) em 2023, apenas seis —7% do total— evoluíram para um processo contra os médicos envolvidos.

Isso corresponde a uma média de duas denúncias por semana.

Por meio da assessoria de imprensa, o Cremesp disse ao UOL que os processos estão em sigilo e, por isso, não pode informar o desfecho deles.

Ginecologistas e obstetras são os especialistas mais denunciados por abuso e assédio sexual (cerca de 24%), de acordo com a cartilha “Ética em ginecologia e obstetrícia”, cuja quinta edição foi publicada pelo Cremesp em 2018.

Conselhos de medicina são autarquias federais com poder para receber denúncias de pacientes, investigar e aplicar penas em médicos que cometem crimes. As decisões dos conselhos regionais podem ser contestadas no CFM (Conselho Federal de Medicina), uma espécie de Suprema Corte da categoria.

Sexo oral durante a consulta

Num caso recente, o Cremesp arquivou a denúncia de abuso sexual contra um ginecologista e, logo depois, uma juíza condenou-o a pagar R$ 25 mil de indenização para a paciente que o havia denunciado. Para a juíza, houve abuso. Para o Cremesp, não.

Em sua defesa, o médico disse que a paciente estava tomando remédio à base de testosterona, que aumenta a libido e “pode acarretar fantasias de cunho sexual”, como registrou a juíza Lívia Maria de Oliveira Costa —foi ela quem o condenou em primeira instância na 5ª Vara Cível do Foro da Comarca de Santos, no litoral paulista, em 25 de outubro.

A psicóloga I.G.S. diz que o caso aconteceu em 18 de outubro de 2021, quando ela tinha 38 anos. Ela relata que estava deitada na maca do consultório do médico Marcelo Moura Guedes, então com 54 anos, quando, durante um exame ginecológico, sentiu a língua dele em seu clitóris.

“Entrei em choque”, ela diz.

Culpa e vergonha

Em entrevista ao UOL, I. G. S. disse que era paciente de Guedes havia 12 anos e tinha ido ao consultório levar exames. Foi surpreendida com a orientação para tirar a roupa e submeter-se a nova avaliação física, relata.

Eu vinha da academia de ginástica. Disse que estava suja, mas ele argumentou que era praxe fazer o exameI.G.S, paciente que afirma ter recebido, sem ter consentido, sexo oral de ginecologista

I.G.S. conta que, antes do sexo oral sem consentimento, o médico aplicou lubrificante no clitóris dela e manipulou-o com os dedos. “Por ter uma relação de confiança com ele, não consegui reagir. Saí do consultório com muita culpa e vergonha.”

Ela afirma ter ouvido um pedido de desculpas do médico pelo ocorrido — antes, porém, com o zíper da calça aberto e as mãos nos seios da paciente, ele a teria chamado de “gostosa” e afirmado estar “com tesão”.

Em decorrência do ocorrido, afirma a psicóloga, ela precisou se afastar do trabalho, fazer terapia duas vezes por semana e evitar o convívio social. “Desenvolvi furúnculos, tive corrimento, minha vida sexual mudou”, diz.

‘Conduta desabonadora’

Anna Paula Marszoleck Albino, advogada de defesa de Guedes, disse ao UOL que o cliente é “inocente, possui 32 anos de profissão e nenhuma conduta desabonadora”.

Afirmou ainda, por meio de mensagem de WhatsApp, que o “processo na esfera cível não acabou e I. deveria ser mais cautelosa no que fala, bem como a imprensa”.

O processo criminal contra Guedes foi arquivado. O Ministério Público concluiu que não havia “indícios da existência material do crime”.

A juíza da Vara Cível argumentou que, “na esmagadora maioria dos casos, fatos dessa natureza não são presenciados por terceiros”.

Para praticar o ato, o abusador se vale justamente da intimidade conquistadaLívia Maria de Oliveira Costa, juíza da Vara Cível em Santos

Fonte: UOL
Créditos: Polêmica Paraíba