O presidente do Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, criticou o novo modelo de divulgação dos dados da Covid-19 pelo Ministério da Saúde, na manhã desta segunda-feira (8).
“Essas informações são propriedade do povo brasileiro, não dos estados e nem do Ministério, que tem o direito inalienável de ter conhecimento dessa informação”, disse em entrevista à Rádio Gaúcha.
O Conass, que reúne os gestores dos 26 estados e do Distrito Federal, inaugurou neste domingo (7) um portal “paralelo” para divulgar os dados da pandemia de coronavírus no país. Os dados serão atualizados diariamente às 17h – horário em que são enviados ao Ministério da Saúde para consolidação do boletim nacional. Desde a última quinta (4), o governo federal passou a divulgar os números só ao fim da noite, depois das 21h30.
O ministério mudou também a forma de divulgação dos indicadores do coronavírus, deixando de apresentar alguns dados consolidados, na sexta (5). No sábado (6), o presidente Jair Bolsonaro confirmou que o governo passou a adotar uma nova sistemática para prestar informações sobre o coronavírus.
Uma das mudanças é que o boletim diário do ministério, divulgado a partir de sexta, traz apenas o número de recuperados, novos casos e mortes registrados nas últimas 24h. Antes, o quadro apresentava também os números totais, registrados desde o início da pandemia.
No domingo (7), o ministério divulgou dados divergentes sobre o número de casos e mortes no país. O primeiro balanço apontava para 1.382 novas mortes. O segundo, no entanto, divulgado no painel oficial do ministério, que acompanha a evolução da doença, informava 525 óbitos. O governo federal não soube explicar a diferença nos números.
De acordo com Beltrame, é preciso mostrar o número de óbitos diários para que os gestores acompanhem o crescimento ou diminuição da doença e tomem medidas coerentes.
“Nós já temos feito isso aqui no estado [Pará]. A cada dia que eu lanço um um boletim eu digo ‘olha, nós estamos notificando no dia de hoje 50 óbitos. Dos quais 20, 10, 15 aconteceram nas últimas 24h. Os demais aconteceram em dias anteriores’. E quando eu apresento a curva epidemiológica, esses óbitos anteriores, eles entram na sua posição original. Ou seja, se aconteceu dia 10 de maio, e eu estou notificando dia 15 de maio, ele vai entrar no dia 10, e isso corrige a curva e não há erro nenhum”, diz.
“O que nos permite tomar decisão, por exemplo, sair do lockdown, mesmo que a gente continue orientando a população a ficar em casa. Essa informação é preciosa para a gestão da crise. E ela bem informada é mais importante ainda”, explica.
Segundo o presidente do Conass, o que está acontecendo é uma “confusão desnecessária”. “A fonte de informação é a mesma. Nós, do Conass e do ministério, são as secretarias de saúde dos estados. Nós enviamos em torno das 16h e basta processar essas informações e apresentá-las”, destaca.
Beltrame detalha que, em Belém, Capital do Pará, por exemplo, houve um pico de mortes no dia 1º de maio. “Nós tivemos 84 óbitos num único dia, ocorridos no dia. No dia seguinte 82, depois tivemos 70, 50, 40, 30, 16, ou seja, se eu tivesse posto isso numa curva cumulativa, eu teria os 3,6 mil óbitos que já tem no Pará. Agora, quando eu coloco isso dia a dia e ajusto numa curva logarítmica, que é a forma correta, eu posso perceber que há uma tendência de queda e essa queda é sustentada”, explica.
De acordo com Beltrame, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, teria informado, numa conversa entre os dois, que vai ajustar e divulgar os números totais.
“O ministério tem sinalizado de que voltará a apresentar os números globais, é o que nós esperamos. Nós não queremos criar uma polêmica adicional em torno desse assunto. E achamos que a unidade é extremamente importante, que a gente tenha um único dado, uma única informação e que essa informação tenha credibilidade, que seja o que é a realidade. Vamos ver se a gente consegue avançar nessa direção”, finaliza.
Fonte: G1
Créditos: G1