Entre os aliados do presidente Michel Temer, a sensação é de alívio após a reviravolta sobre a delação da JBS. Na última segunda-feira (4), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, assinou portaria em que instaura procedimento de revisão de colaboração premiada de três dos sete executivos do Grupo J&F.
O motivo é, principalmente, o áudio de uma conversa entre os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud, no qual falam, entre outros assuntos, sobre suposta atuação do então procurador da República Marcello Miller, dando a entender que ele estaria auxiliando na confecção de propostas de colaboração para serem fechadas com a Procuradoria-Geral da República.
“Tal conduta configuraria, em tese, crime e ato de improbidade administrativa”, destacou a PGR.
Para os auxiliares de Temer, o fato inviabiliza qualquer prova contra ele, não apenas referente à primeira denúncia, por corrupção passiva – que já foi rejeitada pela Câmara, no dia 2 de agosto -, mas também uma eventual segunda acusação, dessa vez por organização criminosa e obstrução de justiça.
“É a teoria da árvore podre, que contamina tudo. As flechas do Janot amoleceram”, afirmou um ministro da cúpula do Palácio do Planalto, pedindo anonimato.
Apesar do otimismo, o clima de “já ganhou” está longe dos corredores do Planalto. Até porque, quando do anúncio de revisão da delação, Janot fez questão de destacar que a decisão não “implica na nulidade de provas já produzidas em investigações”.
“Resolvido nunca está, sempre é difícil, mas realmente facilita muito o nosso trabalho. O clima mudou totalmente na Câmara”, admitiu um interlocutor.
O Palácio do Planalto, de acordo com informações de O Globo, também prega que Janot estaria se protegendo e dificultando que a sucessora Raquel Dodge investigasse o caso, inclusive contra o próprio procurador.
“Janot está tomando uma ação preventiva a pouquíssimos dias de sair da PGR, para que Raquel Dodge não tome providências, inclusive contra ele. É coincidência esse anúncio às vésperas do fim do mandato?”, ironiza outro auxiliar do presidente, que aposta na anulação das provas. Janot deixa a chefia do Ministério Público no próximo dia 17.
Fonte: Estadão