Com a nova explosão de casos de coronavírus no país e os riscos iminentes de colapso dos hospitais, o Brasil pode chegar a um pico de cinco mil mortes por Covid-19 diariamente entre abril e o início de maio, segundo uma pesquisa realizada pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Intitulada “Detecção precoce da sazonalidade e predição de segundas ondas na pandemia de COVID-19″, a projeção é do professor do Departamento de Estatística Márcio Watanabe com base na sazonalidade da doença.
O estudo indica que, por meio da análise de dados da pandemia de mais de 50 países de setembro de 2020 até março deste ano, confirmaram-se as evidências de que a sazonalidade afeta a transmissão da Covid-19. A pesquisa, baseada em modelos matemáticos epidemiológicos, abrangeu em um primeiro momento dados referentes ao período compreendido entre março a agosto do ano passado.
De acordo com Watanabe, a pesquisa mostra que nos meses de março a maio deste ano a pandemia tende a se agravar em países do hemisfério sul, em particular no Brasil, e também em países que seguem padrões sazonais semelhantes ao nosso, como Índia e Bangladesh.
“Aqui, o pico de óbitos será provavelmente em abril ou início de maio, com um valor estimado entre 3000 a 5000 óbitos diários. O valor real do pico dependerá da velocidade da vacinação nos próximos meses e das medidas de distanciamento adotadas”, alerta.
Já em territórios do hemisfério norte, como Estados Unidos e em países europeus, os casos devem formar um platô alto, com um número de casos significativos, mas uma menor tendência de aumento. Segundo o pesquisador, apesar de as perspectivas para os países dessa região não serem tão ruins quanto as do hemisfério sul nesse momento, eles não podem relaxar totalmente as medidas de distanciamento, pois isso aumentaria a taxa de transmissão da doença.
Frente a essa perspectiva de aumento muito acelerado dos casos no Brasil em razão da sazonalidade, nos próximos três meses principalmente, é fundamental, segundo Watanabe, intensificar a vacinação, assim como vacinar primeiramente os cidadãos com maior risco de desenvolver as formas graves da doença.
“Por exemplo, indivíduos de 50 a 60 anos são responsáveis por uma expressiva parcela das internações e óbitos, mas não estão relacionados como grupo de risco no plano nacional de imunização-PNI. Enquanto o país não vacinar esse grupo de pessoas, e também os idosos e aqueles com comorbidades, ainda teremos um grande número de óbitos”, ressalta.
Medidas de isolamento
A pesquisa também mostrou que medidas de isolamento são capazes de frear o aumento de casos, mas sua efetividade depende da taxa de adesão a elas, principalmente a redução de aglomerações. Para o professor, “é essencial reduzir aglomerações como ônibus lotados, que têm sido ignorados pelo poder público ao longo da pandemia”.
As perspectivas, de acordo com o estudo desenvolvido por Márcio, são de que, a partir de 2022, a Covid-19 deve seguir de forma mais clara o mesmo padrão sazonal da gripe e de outras enfermidades respiratórias, com um aumento de casos e óbitos de março a junho e uma diminuição em outras épocas do ano. Segundo ele, essa identificação da sazonalidade da doença “é fundamental para um correto planejamento das ações do poder público, que já poderia ter se antecipado ao aumento de hospitalizações e óbitos que têm ocorrido neste mês”.
Márcio complementa explicando que o país poderá conviver com a Covid-19 da mesma forma que outras doenças respiratórias, como a pneumonia, mas só quando vacinar a grande maioria da população. “Mesmo com a vacina, a doença será endêmica, ou seja, sempre haverá casos. Assim, um ponto fundamental para o futuro é a ciência encontrar algum tratamento que seja significativamente eficaz para pacientes hospitalizados com coronavírus”, ressalta ele.
Fonte: Meia Hora
Créditos: Meia Hora