"orientação importante"

COVID-19: Documento de comitê do Ministério da Saúde traz orientação para omitir dados sobre escassez de medicamentos

A omissão desses dados foi discutida e recomendada em reunião no dia 29 de maio,quando o general Eduardo Pazuello já estava no comando da pasta.

Ata do Comitê de Operações de Emergência (COE) do Ministério da Saúde mostra uma orientação para não divulgar informações sobre escassez de insumos e medicamentos. A omissão desses dados foi discutida e recomendada em reunião no dia 29 de maio,quando o general Eduardo Pazuello já estava no comando da pasta e cinco dias antes do estopim da crise envolvendo a falta de transparência do ministério em relação ao número de casos e óbitos por covid-19.

O documento aponta que, na época, havia 267 insumos com risco de desabastecimento, dos quais muitos tinham origem fora do país. O Comitê aponta então a necessidade de fazer um chamamento junto às empresas para que relatem quais produtos estariam em falta. A ata sobre a reunião traz ainda a orientação: “IMPORTANTE: Não fazer divulgação dos dados”.

O COE é composto por técnicos e, além dos membros do Ministério da Saúde, há representantes da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Evandro Chagas (IEC), além de outros órgãos. Por meio da ata não é possível saber com exatidão de quem partiu a orientação.

Na ocasião, o COE discutia o desabastecimento de insumos e medicamentos e buscava ações junto à Anvisa para resolver o problema. Entre as questões levantadas na reunião estavam a escassez de matéria prima e as dificuldades com importação de medicamentos.

Segundo o documento, deveria ser dada prioridade de registros para alguns produtos. Além disso, a ata indica que a escassez de insumos e medicamentos era causada por problemas na produção das empresas e não na entrega.

Medicamentos de UTI

A ata não detalha quais seriam os insumos e medicamentos em falta, determina, porém, que o levantamento dessas informações seja atualizado continuamente. Dias antes, em outra reunião do COE, no dia 25 de maio, o Comitê estabelecia a necessidade de apurar “por que os estados não estão conseguindo comprar os medicamentos de UTI”.

Um mês depois, em 24 de junho, o problema ainda não havia sido resolvido e 22 unidades da federação estavam com o estoque zerado de ao menos um medicamento sedativo usado em pacientes de Covid-19 que precisam de intubação.

Questionado, assessor especial da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, Alessandro Glauco afirmou que aguardava um parecer da Anvisa sobre regularidade de uma compra a ser feita por meio da Organização Panamericana de Saúde (Opas).

— Até este momento, também não conseguimos saber por que as compras não estão sendo realizadas — disse Glauco, do Ministério da Saúde.

O GLOBO procurou o Ministério da Saúde para questionar o órgão sobre a orientação de não divulgação dos dados, mas até o momento não obteve resposta.

Fonte: O Globo
Créditos: O Globo