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Coronavac, AstraZeneca, Pfizer ou Janssen: veja 5 motivos para não escolher qual imunizante tomar contra a Covid-19

Tem dúvidas sobre qual das vacinas aplicadas no Brasil é a 'melhor'? Especialistas são unânimes: não é hora de escolher vacina

Durante o processo de imunização contra a Covid-19 no Brasil, inúmeras informações falsas e opiniões infundadas são divulgadas nas redes sociais e até pelo próprio presidente, que coloca em dúvida a eficiência das vacinas. Muita gente ainda tem dúvidas sobre qual vacina é “a melhor”. Pensando nisso, o Polêmica Paraíba reproduz um levantamento feito pelo G1, que ouviu 6 especialistas.

Nas análises, eles foram unânimes: você não deve escolher qual vacina tomar. Há pouquíssimas exceções a essa regra (pessoas que não podem tomar uma vacina específica por um motivo específico, como um problema de saúde). Em resumo, é muito melhor tomar qualquer vacina disponível do que ficar vulnerável à Covid-19. E, ao se vacinar, você ajuda a aumentar a cobertura vacinal, que é o mais importante neste momento.

Abaixo, veja 5 razões que mostram por que você não deve escolher vacina:

Por que não devo escolher minha vacina?

– É urgente criar imunidade individual contra a Covid
– É preciso acelerar e aumentar a cobertura da população
– Não há vacinas suficientes para o ‘sommelier’
– É prioridade evitar a circulação do vírus e novas variantes
– Salvar vidas é também uma responsabilidade coletiva

Além dos cinco pontos acima, no fim da reportagem veja ainda duas perguntas sobre viagens e reações após a aplicação do imunizante.

1) É urgente ter imunidade individual contra a Covid

Todas as 3 vacinas aplicadas no Brasil contra a Covid-19 são capazes de proteger de casos graves e de morte pela doença. Isso já foi demonstrado tanto em ensaios clínicos (quando os cientistas medem a eficácia de uma vacina) quanto na “vida real” (quando a efetividade da vacina é constatada).

Sim, é verdade que as vacinas têm eficácias diferentes (em estudos que foram conduzidos de forma distintas e nem sempre são comparáveis). Mas a prioridade, neste momento, não é dar a vacina de maior eficácia a todos ou escolher a própria vacina, defende a epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações (PNI) de 2011 a 2019.

“As pessoas têm que entender que é exatamente isso: as vacinas, todas elas, têm eficácias diferentes no nível individual. Quando a gente olha o nível coletivo, todas elas têm uma elevada eficácia para diminuição de gravidade, internação e óbito. Que é o nosso objetivo agora”, lembra Domingues.

Veja, abaixo, exemplos que ilustram como a vacinação é um pacto coletivo:

CoronaVac

Nos ensaios clínicos, a CoronaVac teve uma eficácia de 50,7% contra casos sintomáticos de Covid-19. Ela também evitou 83,7% dos casos que precisaram de atendimento médico, mesmo dos mais simples, e preveniu que houvesse internações ou mortes por casos moderados ou graves de Covid-19.

Na “vida real”, a vacinação no Chile mostrou que a Coronavac teve 80% de efetividade contra mortes por Covid e de 89% contra casos graves. A vacina também evitou casos e mortes no Uruguai.

No Brasil, o estudo em Serrana (SP) mostrou uma queda de 80% nos casos sintomáticos da doença quando cerca de 96% da população recebeu a CoronaVac. As hospitalizações caíram cerca de 86%.

AstraZeneca/Oxford

Nos ensaios clínicos, a vacina de Oxford/AstraZeneca teve eficácia de 76% contra casos sintomáticos e de 100% contra casos graves. Mais tarde, os cientistas descobriram que, se o intervalo entre as doses fosse ampliado para 3 meses, a vacina tinha uma eficácia ainda maior.

Ela também é capaz de fornecer uma boa proteção apenas com uma dose, mas é necessário tomar as duas.

Na “vida real”, a vacina conseguiu reduzir o risco de internação por Covid-19 em até 94% na Escócia. Também há estudos apontando que a vacina pode reduzir a transmissão do vírus, além da doença.

Pfizer

Nos ensaios clínicos, a vacina da Pfizer teve a maior eficácia: conseguiu 95%. Na “vida real”, também teve efetividade similar em alguns estudos, como em um feito em Israel. Também há estudos apontando que ela é capaz de impedir a transmissão da Covid-19, e não só um quadro de doença.

Janssen/Johnson

A vacina do laboratório Janssen, do grupo Johnson & Johnson, foi aprovada para uso emergencial no Brasil e chegou ao país nesta terça (22).

Nos ensaios clínicos, o imunizante, o único de apenas uma dose, teve eficácia de 66% contra casos sintomáticos e 85% contra casos graves de Covid-19.

Ainda não há levantamentos de efetividade da vacina na “vida real”. Até agora, ela foi aprovada para uso emergencial nos Estados Unidos, no Canadá, no Reino Unido, União Europeia e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), mas só começou a ser aplicada depois de outras vacinas – como a de Oxford/AstraZeneca, da Pfizer e da Moderna.

2) Acelerar e aumentar a cobertura vacinal

Os especialistas ouvidos são unânimes em afirmar que o mais importante agora é acelerar a vacinação, além de aumentar a cobertura vacinal. É necessário vacinar a maior quantidade de pessoas no menor tempo possível.

Quanto mais tempo se leva para atingir uma alta cobertura vacinal, maior é o tempo que as pessoas não vacinadas passam podendo se infectar – aumentando a chance de novos casos e mortes.

“Do ponto de vista da campanha, é mais efetiva a velocidade, e não necessariamente a vacina [aplicada]. É importante as pessoas tomarem as vacinas que tiverem. O que conta é a velocidade. Se conseguir vacinar muitas pessoas de forma rápida, consegue impactar a curva”, explica a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Um ponto importante sobre a cobertura vacinal é que as vacinas usadas no Brasil têm, no geral, eficácia menor do que as usadas nos Estados Unidos, por exemplo (que aplica Moderna, Pfizer e Johnson). Isso significa que é preciso vacinar uma maior quantidade de pessoas para frear a transmissão do vírus.

“O que a gente precisa é que as pessoas sejam vacinadas. Se cada grupo que chegar falar ‘não, eu vou deixar [a vacina A ou B] pro outro’, o outro não vai ser vacinado. Não pode ser uma atitude individual”, reforça Carla Domingues.
E, se isso não acontecer, é possível que mesmo as vacinas com maior eficácia não sejam capazes de proteger as pessoas de adoecerem, explica a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“O sucesso de um programa de vacinação depende [em primeiro lugar] de cobertura vacinal. E a gente está acostumado com o resultado de outras vacinas – que, na verdade, são resultados de um panorama de alta cobertura vacinal. Mas a gente viu, por exemplo, o sarampo – que tem uma vacina com 98% de eficácia – voltar porque baixou a cobertura”, lembra Ballalai.

Além de deixar a população vulnerável, quanto maior o tempo que o vírus leva circulando, maior é a chance de que surjam novas variantes (veja detalhes na pergunta 4).

3) Não há vacinas suficientes para o ‘sommelier’

Nos restaurantes, sommelier é o especialista na carta de vinhos ou de bebidas. No atual momento, o “sommelier de vacina” virou um termo crítico para representar aqueles que escolhem supostamente o que acham ser o melhor. É importante lembrar que o Brasil não tem doses suficientes de nenhuma vacina para imunizar toda a população. Por isso, infelizmente, nem todos poderão ser imunizados com as vacinas que tiveram maior eficácia nos estudos.

“Não existe uma única vacina que tenha a capacidade de produção de garantir que todos os brasileiros fossem vacinados em curto prazo de tempo com a melhor vacina. É por isso que está se vacinando com vacinas diferentes, porque o que a gente quer é ter o maior número de pessoas vacinadas num curto prazo de tempo”, explica Carla Domingues.

Segundo a última previsão do Ministério da Saúde, atualizada na quarta-feira (16), o Brasil deve dispor ao todo, em junho, de cerca de 38 milhões de doses de vacina (37.948.181).

Além dessas, mais 1,5 milhão de doses da vacina da Johnson – que não estavam previstas no cronograma – chegaram ao Brasil no dia 22, levando o total de junho a cerca de 39,5 milhões de doses.

“Se você vai escolher vacina, provavelmente vai ficar sem vacina. E se você ficar sem vacina, várias pessoas vão ficar sem vacina porque escolheram. E aí a gente não vai resolver essa pandemia nunca”, alerta.

4) É prioridade evitar a circulação do vírus e de novas variantes

Quanto mais o vírus circula, sendo transmitido de uma pessoa para outra, mais ele faz replicações, e maior é a probabilidade de modificações, ou mutações, no seu material genético. É daí que surgem as novas variantes.

Essas variantes do vírus podem ou não ser resistentes às vacinas disponíveis hoje; quanto mais variantes surgem, entretanto, maior é a probabilidade de que uma delas seja resistente a uma ou a várias vacinas.
Já há dados que apontam que algumas vacinas não funcionam tão bem contra determinadas variantes – como a da AstraZeneca contra a variante sul-africana (beta/B.1351).

“As pessoas não sabem qual é a variante que vai chegar até elas. Nós ainda não temos dados suficientes sobre todas as variantes. O número de novos casos e o número de mortes estão enormes. Tem que tomar o que aparecer; esse momento não é de esperar, é de tomar o que estiver disponível”, afirma Kalil.

O cardiologista Marcio Bittencourt, pesquisador do Hospital Universitário da USP, lembra, também, que não sabemos quais são as próximas variantes que vão circular – e como vão agir contra as vacinas de hoje.

“Depende da variante que está circulando. A gente não sabe qual é a próxima variante que vai circular daqui a dois meses. Então você não está garantindo uma proteção melhor com nenhuma das vacinas para daqui a 2 ou 3 ou 4 ou 5 meses. Daqui a 6 meses pode ter uma cepa que a Pfizer não funcione e que a CoronaVac funcione. Não tem como saber”, pondera.

“Porque senão vai perder essa oportunidade. Vamos criar variantes novas aqui no país: o Brasil é considerado celeiro de variantes. Até a hora em que a gente vai ter uma variante contra a qual a vacina não vai conseguir proteger. Aí, sim, a gente está com um problema sério”, alerta.

É o mesmo caso, por exemplo, da vacina da gripe, compara Bittencourt: todo ano uma nova vacina é feita de acordo com as cepas que os cientistas calculam que vão circular naquele ano. “Se a gente erra a cepa, a vacina fica ruim”, diz o médico.

5) Salvar vidas é também uma responsabilidade coletiva

“A vacinação é um ato de responsabilidade social – para eu me proteger e proteger todo mundo à minha volta. Quando eu fico escolhendo vacina, estou pensando só em mim”, afirma Carla Domingues.

Ao se vacinar, aumentar a cobertura vacinal e reduzir a circulação do vírus, você protege a si mesmo e às pessoas ao seu redor – incluindo aquelas que ainda não podem se vacinar, seja porque ainda não estão contempladas no plano de vacinação, porque são crianças ou porque têm algum problema de saúde que as impede.

“Quanto mais cedo você [se] vacina, mais cedo protege quem mora, trabalha e convive com você. Quanto mais você espera para [se] vacinar, mais deixa exposto não só você mesmo, como todo mundo que convive com você – quer as outras pessoas estejam vacinadas ou não, porque a vacina é para proteger o todo, não uma pessoa”, explica Marcio Bittencourt, da USP.

“Se você atrasa a sua [vacina], deixa o todo ao seu redor desprotegido ou mais desprotegido. Se uma família inteira atrasa a vacina esperando uma vacina que eles acham que vai ser melhor, eles podem todos pegar Covid antes de a vacina chegar. Não tem vantagem nenhuma”, afirma.

Quando a circulação do vírus cai, mais pessoas se vacinam e há menos gente suscetível à doença, cai o número de casos e a probabilidade de que alguém desenvolva um caso grave. Assim, cai o número de pessoas internadas e não há a sobrecarga do sistema de Saúde, que foi vista em praticamente todo o país neste ano. E, claro, milhares de mortes são evitadas.

“Eu me vacino para proteger meu filho, que não vai ter acesso à vacina agora, meu pai, que mesmo vacinado ainda pode adoecer, porque nos idosos a capacidade de produzir anticorpos é menor. Como é que a gente evita a circulação do vírus? É vacinando o maior número de pessoas no menor prazo de tempo. Por isso, não tem sentido estar escolhendo vacina”, reforça Carla Domingues.

‘Se eu tomar a vacina X, poderei viajar?’

Até agora, não há informação de que pessoas imunizadas com a vacina A, B ou C tenham sido impedidas de viajar ou de entrar em algum país. Há duas semanas, a Espanha reabriu as fronteiras para turistas vacinados com alguma das vacinas aprovadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) ou pela União Europeia. Todas as vacinas usadas no Brasil são aprovadas pela OMS, mas o país ficou de fora da lista por ser de “especial risco epidemiológico”.

‘Mas e os efeitos colaterais?’

Você já deve ter ouvido falar nos casos de trombose após a aplicação da vacina da AstraZeneca. Esse risco, entretanto, é raríssimo – e bem menor do que o de desenvolver um coágulo após a própria Covid, segundo cientistas de Oxford.

Alguns países estão substituindo a segunda dose da vacina por outras de RNA mensageiro – como a da Pfizer e a da Moderna. A epidemiologista Ethel Maciel defende que essa possibilidade de combinação deve ser estudada no Brasil.

“Por exemplo, várias gestantes tomaram a AstraZeneca antes de interromperem [a aplicação]. Essas gestantes poderiam tomar agora a Pfizer como uma segunda dose. Já tem alguns estudos de intercambialidade. Inclusive o próprio Ministério da Saúde já tem dados de pessoas que tomaram errando. Poderia completar o esquema de várias pessoas: pessoas que tiveram reação à AZ na primeira”, opina.
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Fonte: G1
Créditos: Polêmica Paraíba