Quase um mês após eclodirem na imprensa denúncias de abusos sexuais de mulheres contra João de Deus, parte dos moradores de Abadiânia (GO) ainda mantém silêncio sobre as suspeitas em torno do médium por receio de represálias. Segundo as autoridades, esse medo ajudou com que as denúncias demorassem anos a aparecer. Quem ousa falar sobre o assunto, teme por ameaças.
A pouco mais de 100 quilômetros do Distrito Federal, o município é cortado pela BR-060. No lado direito da rodovia que liga o DF a Goiânia, fica a Casa Dom Inácio de Loyola. Em torno dela, há dezenas de hotéis, pousadas e lojas de artesanato, com atendimento voltado para o turismo religioso ao público-alvo estrangeiro. Desde o escândalo, os habitantes sentem o reflexo da ausência do seu principal nome na rotina da cidade e, principalmente, na economia.
Do outro lado da rodovia, ficam os principais serviços à população e negócios que se desviam do nicho que impulsiona o desenvolvimento local. Lá também estão a casa residencial do médium e a instituição filantrópica mantida por ele.
Um vendedor que trabalha nas redondezas do centro espiritualista coloca-se na defensiva, mas responde ao questionamento da reportagem sobre as denúncias. “Eu não falo nada. Quando houver lei neste país e bandido ficar preso, posso falar”, afirmou. Outros vizinhos da loja se negaram a falar sobre a situação.
A poucos metros, na lanchonete da Casa Dom Inácio, funcionários cochicham: “Viu a reportagem sobre o patrão?”, referindo-se sobre a saída de João de Deus para atendimento hospitalar, em 2 de janeiro. O assunto é cortado rapidamente. A saúde frágil do médium, de 77 anos, é um dos principais argumentos da defesa para que ele seja beneficiado por um habeas corpus, ainda sob análise no Supremo Tribunal Federal (STF).
Fonte: Metrópoles
Créditos: Metrópoles