Uma paraibana venceu olhares machistas e se formou eletricista predial e industrial. Para mostrar que é possível se virar em casa, ela se enveredou pelas redes sociais a dar dicas de procedimentos e materiais. A intenção de Flávia Lima é que outras mulheres consigam resolver problemas pequenos em casa por meio do conhecimento repassado por ela.
A profissional contou a que sempre foi uma criança curiosa e observadora e que cresceu vendo o pai, que não tinha formação técnica, realizar consertos mecânicos no geral.
“Eu tinha acesso a ferramentas e lembro de um rádio velho que comecei a abrir e fechar. Gostava de ficar imaginando o que tinha lá dentro e queria ver como funcionava a desmontagem. E conseguir montar novamente me proporcionava uma sensação de conquista. Assim fui crescendo e mexendo no que achava pela frente”, disse.
“Eu e minhas irmãs precisávamos nos deslocar por quilômetros a pé ou de bicicleta para estudarmos na cidade todos os dias. Então, tínhamos consciência que continuar ali as dificuldades somente aumentariam mais.”
“Isso é coisa de homem”
Na adolescência, Flávia Lima já resolvia pequenos problemas dentro de casa. A fama de ser uma pessoa que não precisava chamar profissionais para realizar pequenos consertos gerou comentários machistas.
“Comecei a escutar algumas frases em determinados momentos quando estava executando algo. Coisas do tipo: ‘Isso é coisa de homem’; ‘andando assim, vai ser preguiçosa’; ‘você não vai conseguir fazer’. Não gostava de ouvir isso. Ficava pensativa e ficava triste, mas interiorizava frases como: há vocês vão ver; eu vou conseguir; se fulano pode eu também posso”, relembrou.
Já no fim do ensino médio, ainda sem saber qual carreira gostaria de seguir, Flávia deu de cara um panfleto com informações de cursos técnicos em eletrônica, telecomunicações, saúde e segurança no trabalho etc. Ao procurar mais informações, se identificou com curso na área de eletrônica.
“Então, fiz inscrição, seleção e iniciei minha jornada de estudos e consegui meu primeiro estágio em uma hidrelétrica de geração de energia. Formada, fui atrás de emprego na área, mas recebi diversos ‘não’, dizendo que não tinha vaga no momento para mulher. Foi quando cogitei até sair da Paraíba. Mas dentro das minhas tentativas consegui realizar uma entrevista e posteriormente um teste para trabalhar em uma empresa terceirizada da Alpargatas que chama de Percon. E assim passei nove meses como terceirizada até que fui contratada pela Alpargatas, onde fiquei por quase 10 anos”, detalhou.
“Lá foi uma escola de aprendizado profissional e pessoal. Durante esse período, só tinha eu de mulher na equipe. Não foi fácil, pois primeiramente existe uma lacuna grande entre a teoria e a prática. E depois: eu sou uma mulher de opinião e ações fortes. Lá, encontrei pessoas que decidiram me ajudar em minha trajetória e outras que me desafiaram também”, acrescentou.
Dicas online
Antes da pandemia, a eletricista notou que havia um público que sempre indagava sobre diferentes dúvidas relacionadas a instalações elétricas.
Ao perceber a procura por informações básicas, Flávia viu a oportunidade de ajudar as pessoas por meio das redes sociais. De acordo com a profissional, os acidentes domésticos podem ser evitados com orientações simples.
“Na pandemia aflorou ainda mais o desejo de poder transmitir o pouco que sei. Fiquei sabendo de diversos acidentes durante esse período, principalmente com crianças. Certo dia, pensei: já enfrentei coisas muito mais difíceis. Então, vamos lá colocar a cara diante das redes sociais. Se eu ajudar uma pessoa, já estou satisfeita. Aqui estou engatinhando os primeiros passos e com projetos para poder dedicar ainda mais”, explicou.
No seu perfil no Instagram, Flávia Lima fala sobre manutenções em instalações elétricas residenciais, com objetivo de ensinar o básico e ao mesmo tempo de conscientizar as pessoas da importância de uma instalação elétrica dentro dos padrões mínimos de segurança.
Ela ressalta que as dicas podem ajudar as pessoas a economizar dinheiro e tempo.
As orientações on-line foram pensadas para o público feminino, mas são uma “mão na roda” para todos os seguidores.
“Eu acho que a mulher pode fazer o que ela quiser. Não existe isso de ‘coisa de homem’. Basta se dedicar. Não desperdice o seu talento, nem jogue os seus sonhos no lixo. Temos que ter responsabilidade com nossos sonhos e machismo não deve interferir em nossa trajetória”, disse.
Fonte: UNIVERSA UOL
Créditos: Polêmica Paraíba