Em diálogo gravado por filho de Cerveró, petista e advogado dizem que senador tinha conta no país europeu e fez acordo com Paes para abafar caso. “O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças”, afirma ex-jogador
O senador Romário (PSB-RJ) reagiu após ter seu nome citado em diálogo gravado entre o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e o advogado Edson Ribeiro, que defendia o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Na conversa, registrada pelo filho de Cerveró, o advogado afirma que Romário tem conta na Suíça apesar de o ex-jogador e do banco apontado como o utilizado por ele no país, em reportagem da revista Veja, em julho, negarem sua existência.
“O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças”, disse o senador, em nota publicada nas redes sociais. Aqueles que novamente fazem acusações inverídicas claro que responderão à Justiça”, acrescentou.
Na conversa, Delcídio diz que Romário fez um acordo com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), para apoiar o secretário Pedro Paulo (PMDB), seu candidato à sucessão, logo após a revista Veja ter informado que o ex-jogador mantinha uma conta não declarada na Suíça. Edson Ribeiro sugere que Romário foi orientado a fechar a conta para não ser preso.
Tanto o senador, quanto Paes e Pedro Paulo negaram a existência de um acordo para a eleição municipal. Eles confirmaram ter se encontrado no gabinete de Delcídio, mas para discutir um projeto de resolução que trata da dívida ativa de estados e municípios.
“Não sou responsável pelo que terceiros falam, apenas pelos meus atos. Assim sendo, deixo claro que não tenho nenhum acordo com ninguém e, infelizmente, o dinheiro não é meu. Digo infelizmente porque, com certeza, se fosse meu, seria fruto de muito trabalho honesto”, disse Romário.
Em julho, Veja publicou um suposto extrato de uma conta bancária em nome de Romário no banco suíço BSI, com sede em Lugano, no valor de 2,1 milhões de francos suíços, o equivalente a R$ 7,5 milhões. Depois da publicação da reportagem, o senador viajou até a Suíça e obteve uma declaração do BSI atestando que não havia qualquer conta naquela instituição em seu nome. Romário entrou com ação na Justiça contra a revista, que se retratou após a informação divulgada pelo banco.
“Nós estabelecemos como certo que este extrato bancário é falso e que o sr. Romário de Souza Faria não é o titular desta conta em nosso banco na Suíça”, afirmou o BSI, em nota oficial.
O caso é citado por Delcídio para justificar o seu atraso na reunião com Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, responsável pelas gravações que levaram à prisão do líder do governo no Senado. O petista diz que se atrasou devido a uma reunião em seu gabinete com Romário, Paes, Pedro Paulo e o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Confira o diálogo em que Romário é citado:
Delcídio – O problema, rapaz, hoje eu tava com minha agenda toda organizadinha só a partir das 13 horas. Pra acabar de complicar ainda mais o jogo aparece o Eduardo Paes, com Pedro Paulo, e com Romário. E com o Ferraço.
Edson – Ué, fizeram acordo, né?
Delcídio – Diz o Eduardo que fez.
Edson – Tinha conta realmente do Romário.
Bernardo – Tinha essa conta?
Delcídio – E em função disso fizeram acordo.
Edson – Seu amigo, então, foi comprado.
Delcídio – O que eu achei estranho, ele ter chegado. Eu perguntei “o que você está fazendo aqui, Romário? “Não, não, vim acompanhar o Eduardo”…
Edson – Esquisito.
Delcídio – Esquisito pra caramba.
Edson – Essa é informação que me deram.
Delcídio – Aí o Eduardo falou assim… Delcídio – porque o Eduardo tenho intimidade, o Eduardo foi companheirão meu aqui, principalmente na CPI dos Correios, ele foi meu braço direito aqui– aí (Eduardo Paes) disse: Delcídio, eu chamei aqui o Romário, ele falou na frente do Romário… chamei o Romário, nos acertamos uma aliança para o Romário apoiar o Pedro Paulo. Mas tem esse motivo.
Edson – Foi o que eles disseram… quem pode melhor apurar é você.
Delcídio – Porque… não é possível, hoje quando eles chegarem… “ué, o que vocês tão fazendo aqui … juntos!” Aí o Eduardo explicou, diz que fizeram uma composição juntos.
Edson – Para apoiar o Pedro Paulo.
Delcídio – Eu fui tirar uma foto com ele, né, que ele… porra, ia tirar uma fotografia com todo mundo com a mão assim, uma em cima da outra. Eu não entendi mais nada.
Edson – Loucura, né.”
Veja a nota publicada por Romário no Facebook sobre o caso:
“Galera, sobrou de novo para mim. Está brabo o negócio.
Encontrei o senador Delcídio Amaral no dia 4 de novembro, quarta-feira, para tratar da votação de um Projeto de Resolução do Senado (PRS 50/2015), do senador José Serra, do qual fui coautor.
Na ocasião, foi feito um pedido ao senador Delcídio Amaral, que preside a Comissão de Assuntos Econômicos, para agilizar a tramitação do projeto, que tinha o senador Ricardo Ferraço como relator.
Participaram da reunião o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, o secretário de Governo, Pedro Paulo, e o senador Ricardo Ferraço. Todos diretamente interessados na aprovação dessa resolução, que propôs o fim de barreiras à cessão de dívida ativa de estados e municípios. Esse foi o teor da reunião.
Hoje chegou à imprensa o áudio de uma conversa do senador Delcídio Amaral e do seu chefe de gabinete com o advogado e o filho do investigado na Operação Lava Jato, ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
No áudio, meu nome é citado. E uma história diferente da relatada acima é contada. O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. Aqueles que novamente fazem acusações inverídicas claro que responderão à Justiça. Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?
Não é novidade para ninguém que o prefeito Eduardo Paes tem interesse que eu apoie o seu candidato à sucessão. Não sou responsável pelo que terceiros falam, apenas pelos meus atos. Assim sendo, deixo claro que não tenho nenhum acordo com ninguém e, infelizmente, o dinheiro não é meu. Digo infelizmente porque, com certeza, se fosse meu, seria fruto de muito trabalho honesto.”
Fonte: Congresso em Foco